Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem (Lucas 7.41-43).
Esta parábola está inserida num contexto (leia Lucas 7.36 a 50) e não há como dissociá-la deste acontecimento pois é ele que nos fornece o pano de fundo para a compreendermos. Podemos, por exemplo, perceber nesta narrativa a real motivação do fariseu, um religioso acima de qualquer suspeita na sua sociedade, ao convidar Jesus para tomar uma refeição em casa, bem como seu tratamento nada honroso para com Jesus. Em sua chegada àquela casa, Simão não lhe oferecera água, não lhe cumprimentara com um beijo e nem ungira sua cabeça, demonstrando assim indiferença e insolência para com seu convidado. Vemos também sua avaliação prematura e equivocada sobre a atitude da mulher que, identificada apenas como ‘pecadora,’ entra naquele recinto e protagoniza uma cena bastante incomum mesmo para os padrões daquela época: lava os pés de Jesus com suas lágrimas, enxuga com seus cabelos, cobre-os de beijos e unge-os com um óleo aromático. Que julgamento você acha que Simão fez sobre as motivações daquela ‘pecadora?’ Sem nada entender, e completamente insensível à situação, ele não somente não se arrepende de suas faltas, mesmo as mais grosseiras, como ainda assume uma posição arbitrária julgando e condenando tanto aquela mulher quanto Jesus por permitir que ela o tocasse. A mente engessada deste observador da lei estava tão enrijecida que não conseguia se emocionar com ela. Ele estava tão obcecado por sua ardilosa investigação que não deu caso aos seus próprios pecados. Sua mente treinada deu o alarme: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.”
Este “silencioso comentário” revela o que se passava em sua cabeça. Jesus, então, conta a parábola, que é o eixo desta história. Ao lê-la, automaticamente associamos a mulher pecadora ao maior devedor e o fariseu ao menor. Simão fez o mesmo. Porém, não é esta a associação que Jesus faz. Ele não está dizendo: “Olha Simão, como você tem pouco pecado para ser perdoado, então você ama pouco, enquanto ela… veja quanto pecado!” O recado que Jesus passa para Simão é: “Você, Simão, tem muitos pecados (alguns dos quais vemos neste texto), mas nenhuma percepção deles e, consequentemente, não se arrepende. Desta forma, você pouco foi perdoado e, naturalmente, pouco ama.” Em outra passagem, Jesus declarara aos religiosos da sua época:
Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus (Mateus 21.31).
Simão era, com certeza, um “observador da lei” na vida alheia. Este deve ser um alerta para nós. A religiosidade cauteriza a mente. Ela é enganosa e traz consigo algumas armadilhas nas quais facilmente caímos. Por isso, devemos cuidar (como Jesus orienta) para que o fermento dos fariseus não cresça em nossos corações. Se nós tivéssemos a ideia de quão pecadores somos, penso que a Igreja estaria desfrutando de muito mais saúde atualmente. Responda sinceramente, quem é o maior devedor desta história? E quem é o maior que você conhece?
Medite…
Com que velocidade julgamos os ‘pecadores’ à nossa volta… Quão capaz você é de demonstrar amor por eles? Como você reage ou se comporta diante dos excluídos da nossa sociedade? Como devemos tratar com drogados, prostitutas, travestis, detentos, mendigos, meninos de rua, etc.? O que você tem feito por eles?
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