Durante meu tempo no seminário, notei que o professor que possivelmente tinha mais conhecimento em missiologia tinha dificuldades em afirmar que todos nós, crentes, somos missionários. A dificuldade dele estava relacionada à preservação do termo para pessoas que estão em outras culturas propagando a mensagem do evangelho.
Em Atos 1.8 lemos:
Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (NVI).
É possível que muitos de vocês leitores já estejam familiarizados com a seguinte interpretação:
- Jerusalém: seu próprio habitat;
- Judéia: ainda no seu próprio contexto, mas distante geograficamente de seu lar;
- Samaria: ainda no seu país, mas com barreiras culturais;
- Confins da terra: longe de casa e de seu entendimento cultural.
Concordo com meu estimado professor que deveria haver um conceito claro para representar aquela pessoa que está nos confins da terra para proclamação da Palavra de Deus. Entretanto, não creio que a palavra “missionário” seja a melhor. O dicionário eletrônico Houaiss, em sua primeira definição de missionário diz: aquele que recebeu ou assumiu a incumbência de realizar determinada tarefa ou promover a sua concretização. Se ligarmos esta definição à incumbência que Jesus nos deixou de ir pelo mundo todo e pregar o evangelho a todas as pessoas (Mc 16.15), não há como escapar da ideia de que todo filho de Deus é chamado para a divulgação de Sua salvação dada a nós, e por isso, missionários, pois precisam cumprir esta missão[1] (cf. 1Pe 2.9).
Minha proposta é que nós utilizemos a palavra enviados para representar aqueles que decidiram, juntamente com suas comunidades (leia-se igreja local), proclamar o evangelho em outra parte do mundo, em uma diferente cultura [2].
Ademais, gosto da palavra enviado (ekpempo) para este conceito por outra razão também. Ela compartilha a ideia de quem foi a decisão de colocar o missionário nos confins da terra. Em Atos 13.1-3 notamos a atuação de Deus através da comunidade (ou igreja) de Antioquia para o envio de pessoas dispostas, como Paulo e Barnabé nesta passagem.
Espero que este post ajude os irmão na fé a entender que todos os filhos de Deus devem ser missionários porque compartilhamos da mesma missão: proclamar o evangelho[3]. Entretanto, creio ser importante para a administração eclesiástica que prezemos um conceito para aqueles que nós, como igreja, enviamos ao campo, longe e diferente de nossa cultura. Minha proposta neste artigo foi chamá-los de “missionários enviados.” Também queria que nenhum filho de Deus se sentisse menos especial do que estes, os enviados. Todos os crentes em Jesus são parte do mesmo corpo e cada um de nós deve contribuir com os dons dados por Deus para o perfeito funcionamento deste corpo. Que cada um contribua conforme seu dom para que a missão seja feita com excelência para nosso Senhor, alguns como missionários aqui, outros como missionários enviados acolá.[1] Acredito que a melhor sentença seja: todos os filhos de Deus são POTENCIALMENTE missionários, pois nem todos cumprem com a missão que lhes foi incumbida; alguns se acham aposentados… Outros acreditam que esta não é uma missão dada por Deus aos Seus filhos… Outros são simplesmente desobedientes… (etc).
[2] É muito provável que eu não tenha sido o primeiro a tentar estabelecer um novo conceito para os homens que são enviados por suas igrejas e trabalham em locais com culturas distintas, homens conhecidos como “missionários,” mas que eu prefiro chamar de “enviados.” [3] Entendo que a palavra missionário é amplamente entendida como o nome do ofício do trabalhador que exerce suas funções em campos culturalmente diferentes (ou distintos) do enviado e/ou da igreja local (enviadora). Possivelmente esta seja uma definição “mais missiológica,” porém, acredito que isso seja, ao mesmo tempo, um conceito que desestimula o cristão fiel à ordem do Salvador, pois ele, assim como o tradicional missionário, proclama o Evangelho (executa a missão).Tags: Missionário
