Quinzenalmente eu me encontro com um grupo de amigos para conversar. Atualmente baseamos nosso bate papo no livro Instrumentos nas mãos do Redentor, por Paul Tripp (Nutra Publicações). O capítulo três leva exatamente o título deste post: “Será que realmente precisamos de ajuda?”
Ao invés de você simplesmente responder sim ou não à pergunta, deixe-me, por favor, levá-lo a pensar. Você já notou que nos seis dias de criação, Deus somente conversou com o homem e a mulher? Soa bastante óbvio pensar nisso, né? No entanto, acredito que esta obviedade conduz muitos leitores a menosprezarem ou não observarem corretamente uma clara característica do ser humano: a comunicação. Posso, inclusive, ser mais específico, porque o homem e a mulher foram as únicas “coisas” que Deus criou e então com “o que” discursou. Deus fez os fundamentos, as plantas, os peixes, as avez e os outros animais, mas com nenhum deles Ele falou. Esmiuçando ainda mais, percebo que, mesmo tendo os insetos, peixes, aves e vários outros animais a destreza de se comunicar, Deus escolheu dar ao ser humano, a habilidade de com Ele também se comunicar. As palavras do texto bíblico nos mostra a qualidade desta conversa: Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”. Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a todas as criaturas que se movem rente ao chão”. E assim foi. (Gn 1.28-30 NVI)
O que isso tudo tem a ver com eu e você precisarmos ou não de ajuda? Esta próxima pergunta nos ajuda com a resposta:
Saberiam os primeiros seres humanos o que fazer se Deus não os dissesse?
Leia a passagem bíblica mais uma vez e perceba que até mesmo o que era alimento foi apontado por Deus. Será que o homem e a mulher já sabiam disso?
Muitos acreditam precisar de ajuda porque reconhecem serem falhos, pecadores e dependentes de Deus. Apesar de ser verdade que todo homem e mulher são falhos, pecadores e dependentes de Deus, esta não é a justificativa correta para dizermos que precisamos ou não de ajuda. Antes mesmo do homem decidir pelo pecado, ele já carecia da ajuda de Deus. Ele precisava tomar decisões que envolvia o certo e o errado. Mas como o homem e a mulher saberiam se não houvesse alguém que lhes dissesse?
“Se não tivesse havido a Queda e nunca tivéssemos pecado, ainda assim precisaríamos de ajuda porque somos humanos.” — Paul Tripp, p.70.
A comunicação faz parte de quem o homem e a mulher são. O ser humano, diferente de toda a criação, é receptor da revelação de Deus. De forma singular, é com ele que Deus decidiu conversar. “Tentar viver sem a ajuda de Deus é designar a mim mesmo uma existência subumana. É viver como um animal, como se fosse algo diferente do que sou.” (TRIPP, p.70)
Perceba também que toda a informação dada por Deus era e é verdadeira. Precisamos da ajuda dEle porque a verdade não reside em nós mesmos. “Os seres humanos precisam da verdade fora deles mesmos para dar sentido à vida. Precisamos da perspectiva de Deus para interpretar os fatos de nossa existência.” (TRIPP, p.76). Sem a ajuda de Deus seremos incapazes de viver a verdade e estaremos sempre à mercê da cosmovisão vigente deste século, que consequentemente nos levará a uma vida desfocada do real propósito, causando expectativas e esperanças que não condizem com a verdadeira razão de nossa existência.
A única resposta que faz sentido às premissas acima é: “sim, eu preciso de ajuda!” Então, quais as formas de sermos ajudado? Já sabemos que nosso real auxílio é o próprio Deus, pois Ele é o detentor e fornecedor da verdade. Mas quais as formas dEle nos ajudar?
Deus, na sua multiforme graça ajuda-nos de diferentes e criativas formas. Porém, gostaria de focalizar aqui o próprio ser humano como instrumento dEle. Em Hebreus está escrito: Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado (3.12-13 – grifo meu). Apesar da verdade não fazer parte da essência do homem, ele pode ser canal de Deus para que a verdade alcance a todos. O objetivo do encorajamento (ou exortação), segundo a passagem de Hebreus, é para que as pessoas não tenham o coração endurecido pelo engano do pecado, ou seja, não sejam enganadas por suas próprias concepções de verdade, que troca o Criador como centro, pelas criaturas (cf. Rm 1). Já notou como temos facilidade em julgar os nossos semelhantes? Já percebeu a facilidade que temos em dizer aos outros que eles estão errados, quando também cometemos os mesmos erros? Jesus nos alertou: Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? (Mt 7.3-4 NVI) Precisamos de homens e mulheres que são instrumentos de Deus para nos ajudar a enxergar a verdade!
Portanto, mantenham em mente que você e eu somos pessoas que precisam de ajuda. Precisamos da suprema ajuda de Deus, o fornecedor da verdade, mas também precisamos de nossos semelhantes, canais de Deus para a proclamação da verdade. Um importante cuidado: não ache que somente os crentes são usados por Deus para a proclamação da verdade; Ele usa de toda criação para seus fins. Não se esqueça, igualmente, que você foi criado com a característica de receber e dar ajuda a outra pessoa. Baseie-se sempre na Palavra de Deus e seguramente você verá resultados frutíferos, na sua vida e na vida daqueles que estão ao seu redor. Viva em constante comunhão com os irmãos, humilde e honestamente. Ajude, com ou sem palavras.
Tags: Aconselhamento Mutualidade Paul Tripp
