Escrevo esta página como um posicionamento da Organização Palavra da Vida com respeito às declarações do Pastor Rob Bell à revista VEJA de 28 de novembro. Pode ser que a referida entrevista logo
caia no esquecimento que, intrinsecamente, merece. Pela sua visibilidade, no entanto, e pelo fato de com frequência os justos pagarem pelo pecador neste país, penso que é necessária uma resposta relativamente específica.
Rob Bell fundou e pastoreou por vários anos a Mars Hill Bible Church. Penso que vale a pena comentar o nome da igreja por causa do imenso paradoxo nele contido. Mars Hill é uma referência ao Areópago, a colina ateniense onde o apóstolo Paulo fez sua notável apologia de Jesus e da ressurreição em Atos 17. Nessa passagem Paulo enfatiza o papel de Jesus como Juíz de todos os homens, tenham vivido estes na ignorância ou nos tempos em que o arrependimento em relação a Deus seja possível (At 17.30-31). Rob Bell, no entanto, não só nega a realidade futura de um juízo condenatório, por entender que o amor de Deus derrota a Sua justiça, como duvida da existência de um lugar em que tal juízo venha a ser executado. Além do mais, chamar uma igreja onde tais teorias são proclamadas de uma Bible Church (Igreja Bíblica) é, no mínimo, uma incoerência, e no máximo uma provocação às igrejas onde bíblica não é apenas um rótulo, mas uma convicção quanto à infalibilidade das Escrituras.O agnosticismo escatológico de Rob Bell, expresso na sua frase de que não há prova fotográfica ou midiática do Céu ou do Inferno, se levado às suas consequências lógicas, impediria a crença na ressurreição física e na própria existência de Jesus como personagem histórico. O insulto à fé cristã histórica sobre o destino dos crentes após a morte – atestada de modo límpido em Fp 1.23 e 2Co 5.8, sem falar na promessa de Jesus ao ladrão (Lc 23.43) – surge quando ele diz “. . . ninguém sabe o que acontece quando morremos”.Ainda que tenha uma ponta de razão ao afirmar que céu e inferno são “. . . dimensões da nossa existência aqui e agora” (aproximando-se assim da teologia popular brasileira do aqui se faz, aqui se paga), Rob Bell descarta as dezenas de referências do próprio Jesus ao inferno como uma realidade futura e um lugar futuro. Ao “bater de frente” com o ensino do Mestre, Rob Bell invoca a antiga ideia liberal de que Jesus dava mais atenção ao sofrimento presente das pessoas. Que dizer, da frase, “Se teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora, pois te é melhor entrar na vida com apenas um olho do que, tendo dois, seres lançado no inferno de fogo” (Mt 18.9)? Qual sofrimento era mais preocupante para Jesus? Rob Bell peca por desconhecer (deliberadamente, como os fariseus do tempo de Jesus) as Escrituras.Rob Bell revela sua postura pós-moderna ao descartar sistemas doutrinários como irrelevantes, apesar de rejeitar dois pontos do dogma cristão (inferno e condenação eternos) e fazer deles sua bandeira libertária. Elevando seus “encontros [, profundos] com o amor de Deus acima das afirmações objetivas da Palavra de Deus, Rob Bell se alinha com um numero crescente de teólogos que de tal modo destacam o amor divino e rejeitam os demais atributos do Deus Trino, como justiça e santidade, que acabam afirmando uma salvação obtida por meio de uma fé genérica, desde que sincera. É o efeito “José Serra” na soteriologia.
VEJA revela que Rob Bell deixou o pastorado da Mars Hill Bible Church, mudando-se para a Califórnia, onde surfa todos os dias. Na minha modesta opinião, é uma oportunidade de ouro para a referida igreja deixar de lado o ensino que recebeu e fazer jus ao nome. Como teólogo, Rob Bell é excelente surfista. O fato dele fazer parte agora do circuito das palestras deveria nos alertar para o risco de que suas idéias seja veiculadas em ambientes onde os incautos constroem (ou desconstroem) sua teologia. Não se diga, porém, que não houve aviso. A mensagem de Rob Bell é exemplo típico do que Paulo quis dizer em Gálatas 1.7, ao afirmar a existência de “alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo”. A recomendação que o apóstolo faz nos versículos seguintes continua válida.
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