Um dos meus maiores desafios como estudante da Palavra de Deus é reter todo o conhecimento que adquiro através das várias formas que aprendo sobre ela. Sei que muitos têm esse problema, mas eu empiricamente percebo que tenho mais que o normal. Não sou o tipo de aluno que tem facilidade em memorização, por exemplo, e me considero mais pragmático que meus irmãos pensadores. Então, para não me esquecer de algo valioso, tenho que pensar e refletir sobre o assunto diversas vezes, especialmente quando o assunto é novo aos meus ouvidos. Assim, escrever sobre ele é uma das formas que conheço para lidar com um de meus grandes problemas como aluno da Palavra.
Já disse algumas vezes que Paul Davi Tripp tem sido, por meio de seus livros, um bom mestre para mim. Ele tem me desafiado a enxergar e a crescer, transformando-me e tornando-me agente de transformação. Dentre seus livros, Instrumentos nas Mãos do Redentor (NUTRA Publicações, 2009) é o que eu mais aprecio (agora).
Recentemente fui desafiado a pensar na encarnação de Cristo como algo além de um evento. Segundo Tripp, a encarnação “é também um plano e um chamado.”[1]
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai… Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é que o revelou (Jo 1.14,18).[2]
Você consegue perceber que a encarnação de Cristo foi o que nos fez enxergar a glória do Pai, dAquele que não vemos?
Por que precisamos enxergar essa glória?
Basicamente porque sem ela, sem a presença de Deus, caminhamos na escuridão, sem rumo, sem sentido, sem um objetivo que satisfaça nossa essência como seres criados. É Jesus o reflexo perfeito dessa glória, que “morreu pelos seus, mas também deu vista aos olhos que estavam cegos há muito tempo.”[3]
Ainda que Deus seja espírito, este não é o real problema do porquê não O enxergarmos. Nosso pecado, o real problema, nos torna tão incapaz de enxergá-lO, que nem desejamos naturalmente a luz que verdadeiramente ilumina nossos passos. “Não reconhecemos a glória de Sua graça e o poder que opera em, ao redor e através de nós o tempo todo.”[4]
Nossa cegueira espiritual foi constituída porque criamos aversão à glória de Deus, “única coisa que vale a pena ser vista. (…) Todos os aspectos da minha existência foram feitos para serem repletos da glória de Deus.”[5] Lembre-se, você e eu fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1), quem Deus criou para Sua glória (Is 43.7). Quando alheios a este propósito, não funcionamos devidamente e nos apegamos (idolatramos) outros quens e ques.
A encarnação chega bem ao coração deste conflito porque confronta as pessoas com a única coisa que faz uma diferença permanente, a glória de Deus. A revelação de Deus em Sua impressionante glória é a única coisa que expõe o vazio total de todas as outras glórias que ansiamos. (…) Só quando nossos corações forem transformados por esta glória, os princípios das Escrituras farão sentido.[6]
…cheio de graça e de verdade… (Jo 1.14)
Graça
João nos ensina que o alvo da encarnação era apresentar a glória de Deus por meio de Jesus Cristo. Mas, além disso, ele também nos ensina o caráter da encarnação: cheio de graça e de verdade.
A graça é claramente mostrada na vida, morte e ressurreição de Cristo (o Evangelho). Todo aquele que crê na Sua Pessoa e na Sua obra nasce de novo. Cristo é o personagem principal da história e graça é o tema principal. É este personagem e este tema que devem estar sempre vinculados ao ministério pessoal[7] de cada cristão, pois…
…mostramos às pessoas um Deus que não somente estabelece um alvo para suas vidas, mas que as capacita a fazer o que nunca fizeram antes. Sua graça resulta em reconciliação, restauração e paz.[8]
Verdade
Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte (Pv 14.12 NVI). Já notou como o homem persiste na busca pelo caminho da morte? Achamos a mentira mais fácil, a vingança gostosa e a imoralidade uma boa aventura. “Vivemos para aquilo que já está em estado de deterioração e ignoramos o que permanecerá para sempre.”[9]
Se a graça trata dos resultados morais da Queda (nossa rebeldia e incompetência) então a verdade trata dos efeitos noéticos da Queda, o impacto do pecado sobre como pensamos e interpretamos a vida.
Quando pensamos nas paradoxais verdades de Deus, ratificamos quão afastados estamos da verdade:
- Viver para algo que eu não vejo?
- Dar é melhor que receber?
- Amar quem me machucou?
“Jesus confronta nossa insensatez com a verdadeira sabedoria. (…) As tolices que as pessoas fazem estão enraizadas numa visão de mundo permeado de insensatez.”[10] Nosso problema não é apenas o resultado, aquilo que fazemos, mas as verdades que inculcamos que acreditamos serem genuínas.
Como instrumentos de Deus, oferecemos às pessoas um novo sentido à vida onde Deus é o centro, “onde as coisas invisíveis têm o maior valor e onde a eternidade é o que dá sentido ao presente momento.”[11]
E o que nós oferecemos às pessoas? Seguramente não é um sistema de ideias como uma teologia ou filosofia, mas uma pessoa: Jesus Cristo.
O ministério pessoal deve exercitar a graça e a verdade de Cristo, glória do Pai, ou seja, a encarnação de Cristo, que conduz às pessoas a reconhecerem Deus e serem libertas da condição que as aprisiona. “A graça e a verdade sempre levarão as pessoas a Cristo.”[12]
[1] P.140. Este artigo é um resumo de parte do capítulo seis do livro mencionado.
[2] Retirado do próprio livro como a passagem é apresentada.
[3] P.141
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] P.142.
[7] “O ministério bíblico pessoal não pode ser reduzido a um conjunto de princípios pelos quais devemos viver. Seu foco central é o Redentor que resgata as pessoas do poder do pecado e progressivamente erradica a presença do pecado em suas vidas. Nós somos simplesmente agentes desta graça. Nosso alvo é ajudar as pessoas a entende-la e segui-la onde ela os levar, enquanto esperamos a volta do seu Redentor.” (P.143.)
[8] P.143.
[9] P.144.
[10] Idem.
[11] P.144.
[12] P.145.
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