Todos nós gostamos de ser elogiados e reconhecidos, mas desde a mais tenra idade temos problemas, em maior ou menor grau, para recebermos críticas. Nesse texto, Dane Ortlund nos fala sobre duas formas erradas de se receber a crítica e uma certa. De forma simples e direta ele nos leva a questionar a forma como nós mesmo recebemos as críticas em nossas vidas: com orgulho, hipocrisia ou humildade. A palavra de Deus em Provérbios 16:19 diz: Melhor é ter espírito humilde entre os oprimidos do que partilhar despojos com os orgulhosos. Boa leitura e reflexão.
Por Dane Ortlund
Parece-me que existem duas formas erradas de se receber a crítica e uma certa.
Eu entendo por “crítica” palavras ditas com amor ainda que duras, provenientes de um irmão ou irmã que querem o nosso bem, no espírito de muitas passagens do Antigo testamento (negligenciado por muitos hoje, e em primeiro lugar por mim) que nos chama a exortar, repreender, e aguçar uns aos outros. Não estou pensando em maldade, maledicência, palavras que suscitam contendas, etc. Tudo isso deve, simplesmente, ser ignorado. Não deveríamos nos meter com isso. Fazer isso é inútil. É somente auto-disseminação.
E, para cada repreensão, eu espero que haja cerca de 50 afirmações. Ou 500. Ou mais.
Além disso, este não é um post sobre fazer criticas. Isso é igualmente digno de reflexão, e requer a mesma dose de sabedoria, mas não é disso que estamos falando agora.
Forma Errada No. 1
Rejeitar considerá-la. Este é o caminho escolhido pelo tolo, como descrito em Provérbios, Tiago, e outros livros da Bíblia. Nós resistimos à correção, pois temos a certeza de que nossa opinião é a melhor. Sutilmente pensamos que o ensino é uma via de mão única (que vai de nós para os outros), nunca uma via de mão dupla.
Isso não significa que todos deveriam ouvir a tudo que os outros dizem, indistintamente. Se eu der uma aula sobre Romanos na escola Dominical, que inclua na audiência Doug Moo e um aluno do ensino médio, e ambos fizerem críticas, eu estaria mais propenso a acolher as palavras de Moo do que as do estudante. E estaria certo em fazer isso. Moo geralmente entende Romanos melhor do que eu, e tem mais experiência pedagógica; e eu, geralmente, entendo mais sobre o livro de Romanos do que um aluno do ensino médio, e tenho mais experiência pedagógica. Seria tolice acolher ambas as críticas dando a elas o mesmo peso. Um chamado para acolhermos a crítica não é um chamado para abandonarmos o discernimento.
O principal ponto do post deste blog, seguindo em frente, é que a rejeição franca não é a única maneira de resistir a correção.
Forma errada No. 2
Rejeitar considerar a crítica internamente, ao recebê-la externamente.
Este não é o caminho do tolo, mas sim o caminho do hipócrita; do fariseu. O sepulcro caiado que parece bonito por fora, mas por dentro está cheio de ossos. Sorrimos e agradecemos ao irmão pela crítica. Lamentamos dizendo que temos ainda muito a aprender. Não oferecemos qualquer autojustificativa verbalmente. Damos um abraço com gratidão. Mas internamente, resistimos, verdadeiramente pesando aquilo que nos foi dito.
Por que agiríamos de outra forma, então?
Porque nos importamos mais com o como as outras pessoas nos veem do que com o que realmente somos. O nosso desejo de piedade não ultrapassou o limite crucial de nosso desejo pela aparência de piedade (veja 2Tim 3.5). A justificação pelo que os outros pensam, ainda supera a justificação de Deus. (Além disso, sabemos, é claro, que nosso irmão está equivocado. Ele tem boas intenções, mas pobre amigo — se ele fosse um pouco mais maduro, ele veria as coisas do meu jeito, sem dúvida, então não há a necessidade de se fazer uma reflexão séria sobre aquilo que foi dito.)
Essa resistência a instrução disfarçada em humildade, além do orgulho mostrado na forma No. 1, é uma forma de obras de justiça. Descrença no Evangelho. Pensando que, para ser completo/ficar descansado/seguro, precisamos parecer ser algo por fora, que não somos por dentro. Por quê? Pensamos que se os outros nos virem como realmente somos, perderíamos algo. Mas com a completa aprovação nos dada por outros não temos nada a perder, não importa quem saiba coisas a nosso respeito. A única forma de se perder é esconder o que realmente somos, para, em seguida, perdermos a nossa percepção de Deus.
Em outras palavras: O No.2 ainda é idolatria, da mesma forma que o No. 1. O ídolo é que simplesmente mudou. O ídolo no No. 1 era o “eu”. Somos justificados pois estamos certos. O ídolo No. 2 era a aprovação humana. Somos justificados, pois somos vistos como humildes, como o tipo de pessoa que pode aceitar uma crítica.
O No. 2 não é somente mais sutil, mas também mais tortuoso. Ainda pensamos que estamos acima das críticas (como no No. 1), mas a isso nós adicionamos a artificialidade. É um pecado duplo: o orgulho do No. 1 combinado com a hipocrisia do No. 2. O No.1 pode ser feio, mas pelo menos é uma feiura honesta.
Forma certa
Aceite as palavras críticas, considere-as. Encha o seu coração com o sentimento de prazer que Deus tem em você como seu filho ou filha, filtre a crítica com sabedoria, pondere o que foi dito, deixe de lado o que for sincero mas errado do seu ponto de vista, busque o conselho de outros se for necessário, lembre-se de que o sangue de Cristo cobre todas as ofensas, e redirecione a sua vida de acordo com isso.
Isso tudo não se enquadra em passar por cima das muitas, muitas coisas frívolas ditas — especialmente online — que podem conter uma pitada de verdade mas estão tão por fora, que devem ser rejeitadas e esquecidas. Estou falando a respeito da acusação, ou difamação, ou soberba disfarçada como cautela e amor fraternais pela verdade. Não é humildade acolher essas palavras em seu coração. É sábio ignorá-las.
E, haverá muitos casos em que, depois de examinarmos nossos corações com honestidade, e talvez buscarmos conselho em uma outra pessoa, uma crítica bem intencionada e feita com amor será simplesmente um equívoco e, portanto, deverá ser ignorada e esquecida após uma sóbria avaliação.
Então: você consegue aceitar a crítica de um irmão com humildade? Verdadeiramente aceitá-la, e não somente aceitá-la externamente para que você pareça ser humilde ao recebê-la, e desta forma, simplesmente se desviar do ídolo da auto-suficiência para o ídolo da aprovação humana? Nossos motivos estão sempre misturados, é claro — provavelmente, nunca nessa vida aceitaremos uma crítica sem um certo grau de hipocrisia impura.
Todos nós tropeçamos de muitas formas. Eu preciso crescer na área de receber críticas de forma verdadeira. Eu o convido a se juntar a mim.
Fonte: Straberry-Rhubard Theology
Título Original: A Passing Thought on Receiving Criticism
Tradução: Cris Carmona
Tags: Confrontação Críticas Dane Ortlund
