O Filme “O Filho de Deus” – Evangelístico? Bíblico? Ou Nenhum dos Dois?
O filme intitulado “O Filho de Deus”, lançado recentemente no Brasil, nos traz uma nova adaptação cinematográfica da vida de Jesus. Eu já tinha ouvido muitos cristãos comentarem que esse filme seria “muito bom”, “fiel ao relato bíblico”, mas apesar desses comentários, mantive minhas reservas em relação a ele até o momento em que eu fui ver com meus próprios olhos qual seria o resultado dessa mais recente “adaptação cinematográfica”. O filme foi produzido pela mesma equipe da minissérie “A Bíblia”, do History Channel, e é na verdade um apanhado de cenas presentes na minissérie adaptado a cenas inéditas que apresentam com maiores detalhes o plano que os fariseus desenvolveram para dar fim ao ministério de Jesus.
Ao assistir a minissérie “A Bíblia”, eu pude notar que muito do que foi ao ar nem sequer existe no relato bíblico, e outra grande parte distorce completamente as Sagradas Escrituras. Um exemplo digno de citação é a reação rebelde e prepotente do rei Davi quando ele é abordado pelo profeta Natã acerca de seu adultério com Bate-Seba. As Escrituras nos apresentam um Davi que reconhece seu pecado e se humilha perante o Senhor; a minissérie “A Bíblia”, porém, fez questão de transformar a humildade e o arrependimento do rei Davi em arrogância, prepotência e orgulho. Já sabendo qual seria a tendência do filme com base na minissérie, fui ao cinema preparado para estar atento a todos os detalhes para ser imparcial.
Diante daquilo que vi exposto na telona ao longo de pouco mais de duas horas de filme, surgiu a necessidade de escrever a respeito do conteúdo do mesmo. Tenho lido vários comentários exaltando este filme e dizendo que o relato que ele apresenta é “extremamente fiel ao relato bíblico” e que ele é uma excelente ferramenta para a “evangelização” daqueles que ainda não conhecem a mensagem do evangelho, trazida e ensinada por Cristo.
Peço a Deus que Ele nos capacite a percebermos quais são as sutilezas que o mundo tem usado para nos enganar. Boa leitura!
Onde está Satanás?
Pelo relato bíblico, logo no começo do ministério de Jesus, após seu batismo, ele se dirige ao deserto, onde permanece sozinho por quarenta dias em completo jejum e enfrenta ali, tentações vindas do próprio Satanás, conforme lemos em Mateus 4 e em Lucas 4. Qualquer conhecedor da bíblia percebe a ausência clara deste relato. Mas, e daí? Será que seria tão importante assim mostrar esse relato no filme? Será que seria tão relevante assim contar para as pessoas a respeito das tentações pelas quais Jesus passou? Será que o mundo acredita em um Satanás real?
Os produtores Roma Downey e Mark Burnett, tentam explicar o porquê de Satanás ter sido deixado de fora do filme. Eles explicam que a semelhança do ator que interpreta Satanás na minissérie com o presidente Barack Obama começou a gerar tantos comentários negativos que em pouco tempo mais se falava sobre Satanás do que sobre o próprio Jesus. Então, resolveram tirá-lo da jogada. Se o problema era a semelhança com o presidente dos EUA, porque então não trocaram o ator? Ou melhor, porque não esconderam o rosto de Satanás, cobrindo-o com um capuz no filme em vez de tirá-lo por completo?
Cito algumas das palavras de Roma Downey sobre o assunto: “Para o nosso filme, eu queria que todo o foco estivesse sobre Jesus. Quero que seu nome esteja nos lábios de todos que assistirem esse filme, então jogamos o diabo fora. Me dá grande prazer dizer a vocês que o diabo está entre os cortes. Agora, este é um filme sobre Jesus, o Filho de Deus, e o diabo não aparece mais na tela, sem mais distrações. Você pode me achar um gentil anjo irlandês, mas ninguém, nem mesmo o diabo, deveria mexer comigo. Para trás de mim Satanás. Esta é uma história de amor, e nada nem ninguém poderão impedir essa mensagem de chegar a milhões de pessoas.” (extraído do site HTTP://www.religionnews.com/2014/02/20/roma-downey-cut-satan-son-of-god/).
À primeira vista, Roma Downey pode até ter tido boas intenções, mas bem sabemos que de boas intenções o inferno está cheio. Como já disse anteriormente, o “rosto” de Satanás poderia facilmente ter sido alterado ou escondido, sem a necessidade de tirá-lo de cena por completo. Agora, vemos que ela própria diz que o tirou de cena porque queria que somente Jesus fosse o foco, e não o diabo. Porém, nos dois relatos da tentação de Jesus pelo diabo, apresentados nos capítulos 4 dos evangelhos de Mateus e de Lucas, Jesus humilha o diabo expulsando-o de sua presença após três tentações. Penso eu que um diabo humilhado na telona traria muito mais glória e foco ao Filho de Deus, Jesus, do que a completa ausência dele. Coisas a se pensar.
Nesta breve citação, Roma Downey diz querer que a mensagem de “amor” atinja milhões de pessoas. Porém, bem sabemos que o “amor” de Deus envolvido no processo de salvação do homem inclui, necessariamente, deixar o homem perfeitamente ciente sobre sua real condição de pecaminosidade e de condenação perante Deus. Isso ofende o orgulho humano, não? Não há como compreender o amor de Deus na pessoa Cristo sem a mensagem do evangelho, e não há como compreender o que de fato é o evangelho se o mal, bem como suas consequências, for deixado de lado, como veremos a seguir. Os produtores ainda tentaram justificar que não há problema algum em ter deixado Satanás e as tentações de Jesus no deserto de fora do filme, afinal de contas, esse relato aparece somente em dois dos quatro evangelhos. Porém, quando avaliamos o filme como um todo, chegamos à conclusão de que a omissão de relatos bíblicos se torna irrelevante se comparado com a omissão da mensagem do evangelho que nos salva e com a distorção de relatos que a bíblia claramente nos apresenta.
Onde está o Evangelho?
O que é mais preocupante no filme todo, não é necessariamente a completa ausência de Satanás, mas sim a completa ausência do mal, ainda que ele seja retratado de maneira prática. É fato que podemos ver atos maldosos ao longo do filme, mas ao contrário do relato bíblico, onde Jesus expõe que a verdadeira fonte da maldade humana é o próprio coração do homem, no filme essa conexão jamais é mencionada. Primeiro satanás é lançado fora; agora o coração humano como sendo a fonte da maldade humana é omitido. Isso é preocupante, pois a mensagem do evangelho se resume em revelar ao homem qual é a sua real condição (condenado ao castigo eterno sem mérito algum perante Deus), o que Deus fez por ele (se tornou carne e morreu em seu lugar, tomando sobre si o castigo destinado ao homem para satisfazer a justiça divina) e como o homem pode se apropriar desse favor imerecido (crer na obra de Cristo como suficiente para sua salvação eterna). Ninguém gosta de ser chamado de pecador, não merecedor do favor divino, incapaz de se salvar, mas sem que essas verdades sejam claramente expostas, não pode haver um evangelho verdadeiro. No filme, porém, vemos que essa mensagem é deixada de lado para não “incomodar” ninguém, ao passo que a bíblia diz claramente que “todos pecaram, e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3.23) e debaixo do juízo divino (Romanos 3.19), tendo a morte eterna como salário de nossos pecados (Romanos 6.23).
Sem que o pecado do homem, e sua real condição perante Deus e Sua justiça divina, sejam expostos, como o homem poderia se tornar consciente de que ele precisa de um salvador, visto que não tem méritos para com Deus? Ao longo de todo o filme, vemos claramente Jesus dizendo às pessoas que “acreditem” nele. Mas, acreditar em que? No que ele diz? E será que ele realmente diz em que mensagem as pessoas devem acreditar? Em sua conversa com Nicodemos, que no filme acontece quase no final de seu ministério, e não no início como relatado nas Escrituras (João 3), Jesus cita o tão famoso versículo 16 de maneira distorcida e fora do contexto de juízo no qual este versículo está inserido (conexão com João 3.18). Isso sem mencionar que em nenhum momento ao longo de todo o filme, Jesus sequer cita qual é a real condição do homem perante Deus. Será que de fato alguém pode ser salvo sem que a verdadeira mensagem do evangelho seja pregada? Será que “meio evangelho” tem poder para salvar alguém? Como eu posso admitir que preciso de um remédio (salvação) se minha doença terminal (condenação) não é exposta diante de mim?
Na bíblia, aprendemos que o homem deve, em primeiro lugar, estar ciente de sua real condição de condenação perante Deus. Depois, ao ouvir qual é o único caminho que pode tirá-lo dessa condição, esta pessoa deve depositar sua fé, ou seja, sua confiança nessa provisão divina, que é a pessoa de Cristo e sua obra, como suficientes para salvá-lo do castigo eterno e colocá-lo num relacionamento vivo e verdadeiro com Deus. Sem que essa mensagem seja claramente exposta, não pode haver salvação (1 Coríntios 15.1-3). Mas, será que os produtores do filme sequer pensaram nisso? Será que os produtores estavam interessados em de fato conduzir pessoas à única verdade que as pode salvar por completo (Hebreus 7.25)? Será que Roma Downey, com suas doces palavras citadas acima, afirmando que quer que milhões conheçam essa “mensagem de amor”, considerou que o amor de Deus na pessoa de Cristo consiste em “salvar os que estão perdidos e mortos em seus delitos e pecados” (Efésios 2.1-10)?
Outro Evangelho?
Paulo nos alerta, em Gálatas 1.6-9:
“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!”
Paulo nos diz que se alguém pregar um “evangelho diferente daquele que ele já havia pregado”, que essa pessoa seja amaldiçoada! O autor de Hebreus fala: “Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos.” (Hebreus 2.1). Não há meio termo! Se a mensagem do evangelho for distorcida, ou for pregada pela metade, não haverá salvação. A mensagem do evangelho envolve tanto as más notícias (condição de juízo do homem, exposto pela lei) quanto as boas notícias (salvação deste juízo pela fé em Cristo, exposta pela graça) e tem como propósito levar o homem a depositar sua esperança e sua fé não em si mesmo, mas naquele que morreu por ele, sofreu o castigo que era dele para que ele possa voltar a se relacionar com Deus. A mensagem que o filme nos passa é simplesmente a de que Cristo morreu injustamente, ressuscitou e voltará. Jamais é mencionado sequer que ele é Deus encarnado, que veio habitar entre nós como nosso representante no cumprimento da justiça divina e como nosso substituto no injusto recebimento de nosso merecido castigo na cruz. Não é mencionado que ele ressuscitou porque tendo ele morrido sem pecado algum, Deus não o poderia deixar na sepultura. Não é mencionado que sua ressurreição é prova incontestável de que Deus aceitou plenamente seu sacrifício como a oferta dada em nosso lugar. Nenhum dos pontos fundamentais das boas novas, do evangelho da graça, é mencionado. O filme não responde o porque de Cristo ter morrido naquela cruz. Como então o filme pode ser uma mensagem de amor se não expõe por completo a graça de Deus nos dada em Cristo?
Como devemos então avaliar a mensagem do evangelho que o filme nos traz? Como podemos avaliar se o filme, de fato, pode levar as pessoas a parar de confiar em si mesmas e a depositar sua fé na pessoa e obra de Cristo? Façamos a seguinte pergunta: “O filme responde qual é a razão da morte de Cristo”? Ou o filme simplesmente relata a morte de um homem inocente que teve um julgamento ilegal e que foi morto como um criminoso pelas mãos de judeus que o odiavam e que temiam sua popularidade e de romanos que estavam apenas cumprindo ordens de Pilatos?
Se a mensagem que o filme traz não explica que a razão da morte de Cristo na cruz é que ele foi nosso substituto perfeito, que viveu como nosso representante a vida perfeita que Deus exige de cada um de nós para que tenhamos um relacionamento vivo com Ele, e que ele deveria sofrer nosso castigo e morrer nossa morte para que através da fé nele nós pudéssemos viver, com Deus, a vida dele, então, o filme jamais deveria ser aceito como “evangelístico”. O filme nem sequer esclarece o conceito de “vida eterna”, nem muito menos de “castigo eterno”. Praticamente tudo é relegado ao plano físico, material e temporal.
Algumas Outras Distorções
Dentre muitas distorções do relato bíblico, algumas delas me chamaram a atenção. Vou citar três delas, mas existem muitas outras.
- Quando Jesus ressuscita Lázaro, ele é pego de surpresa com a notícia da morte de seu amigo no momento em que chega à Betânia e não quatro dias antes como a bíblia nos relata. Como se isso não bastasse, no filme Jesus entra no túmulo de Lázaro e lhe dá um beijo na testa antes de ressuscitá-lo, em vez de fazer uma oração pública (para que o Pai fosse glorificado através do milagre da ressurreição de Lázaro) e chamar Lázaro para fora de sua sepultura;
- Na bíblia, sabemos que durante a última ceia, quando Jesus reparte o pão e distribui o vinho entre seus discípulos, ele fala que o pão representava seu corpo sendo partido pelos homens e que o vinho representava seu sangue sendo derramado para o perdão de pecados como o sinal da Nova Aliança (Mateus 26). Sabemos também que nessa ocasião, ele institui a observância da ceia como um memorial de sua obra dizendo “Façam isso em memória de mim”. Já no filme, suas palavras são: “Esse é o meu corpo… esse é o meu sangue. Quando fizerem isso se lembrem de mim.” Onde foram parar todas as outras palavras ditas por Cristo, fundamentais para a compreensão da Nova Aliança instituída ali? Onde foi parar o mandamento para celebrarmos a ceia como um memorial da Nova Aliança?
- No Sermão da Montanha, quando Jesus ensina as pessoas a orarem com o modelo de oração do Pai Nosso, ele omite a última frase da oração: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém’.” (Mateus 6.13). Como vimos anteriormente, Satanás e a condição de juízo do homem perante Deus, foram deixados de fora. Será que essa omissão da oração é uma simples coincidência?
Algo que acho muito difícil de compreender é o seguinte. Se o relato bíblico já está pronto nas Escrituras e se elas de fato retratam as coisas como de fato aconteceram, porque seria necessário adicionar eventos que jamais existiram aos relatos? Apenas para adicionar mais “emoção” e tornar a história “melhor”? Ok. Até aí nem teria tanto problema, desde que esses “adendos” não entrassem em contradição com outras partes das Escrituras. Mas, porque distorcer os relatos que são claramente narrados nas Escrituras de modo que no filme eles sejam extremamente diferentes do que nos é apresentado nas Sagradas Letras? E porque “omitir” eventos e discursos imprescindíveis para o entendimento correto da narrativa bíblica e principalmente do evangelho? Será que os produtores do filme transformaram o relato bíblico da vida de Cristo em uma colcha de retalhos por acaso? Ou será que foi proposital? Essas são perguntas a serem avaliadas.
E isso Importa?
Já ouvi pessoas, inclusive cristãos, dizendo que não devemos ser tão críticos com essas alterações no relato bíblico quando ele é adaptado às telonas, pois existe o que chamam de “licença artística”. Será que Deus dá ao homem “licença” para retalhar Sua Palavra?
Devemos apoiar a mutilação do relato bíblico só porque ele foi transformado em filme, minissérie ou novela? Será que essa deve ser a postura de filhos de Deus que realmente estão preocupados em preservar a verdade em um mundo regido pela mentira? O próprio Satanás não somente usou a Palavra de Deus para tentar Eva e consequentemente levar Adão a pecar, mas também para tentar o próprio Cristo (relato omitido no filme).
Como demonstrado anteriormente, a maior preocupação não está nem tanto com as divergências em algumas narrativas bíblicas, mas sim com a omissão de verdades fundamentais para a plena compreensão de quem Cristo é, daquilo que ele realizou e da salvação propriamente dita. Fazer vista grossa à distorção feita sobre a mensagem do evangelho nesse filme e ainda por cima afirmar que ele é não somente bíblico, mas também uma ferramenta para a evangelização, são coisas que me preocupam seriamente, ainda mais quando essas posturas surgem nos ambientes cristãos.
Uma coisa é certa. Se for para defender algo, que seja algo que de fato podemos chamar de verdadeiro. Jamais deveríamos defender o filme todo somente porque ele contém alguns elementos verdadeiros, e jamais deveríamos apoiar nossa evangelização em algo que não traz a mensagem do evangelho tal qual ela deve ser proclamada. É exatamente por baixar o padrão em relação às coisas de Deus que a igreja passa por momentos de mediocridade espiritual cada vez mais acentuados. Que nós não sejamos como os que assim procedem! Devemos sempre nos lembrar que é sorrateiramente, através de leves alterações no texto bíblico, que as heresias se infiltram. Se formos analisar o conteúdo desse filme da ótica humana, talvez até consigamos fazer vista grossa a algumas coisas. Mas se observássemos atentamente o filme através da ótica divina e de Seu padrão, qual seria o resultado? Deus faria vista grossa?
Existe Algo de Bom?
Afinal de contas, o filme traz algo de bom e que merece ser elogiado? Certamente que sim! Todas as falas e relatos que foram reproduzidos fielmente, como a bíblia nos conta (muito poucos ao longo do filme), são muito valiosos para nos ajudar a perceber como algumas coisas podem de fato ter acontecido durante o ministério de Jesus. Porém, é válido ressaltar novamente que não é só porque algo contém “elementos da verdade” que esse algo pode ser classificado como sendo “a verdade”. Jesus nos alertou que um pouco de fermento leveda toda a massa. Com este filme não é diferente, pois algo acrescentado, omitido ou distorcido já é suficiente para transformar toda a mensagem naquilo que ela nunca se destinou a ser.
Conclusão
Concluo esta breve análise do filme “O Filho de Deus” com uma exortação, caro leitor!
Ao assistir esse filme, tive despertado em mim um grande desejo de conhecer cada vez mais o relato bíblico tal como ele é apresentado nas Escrituras de modo que eu não seja enganado por qualquer releitura da bíblia que aparece na mídia, principalmente no que diz respeito à mensagem do evangelho. Na minha vida, esse filme surgiu como uma ferramenta que me incentivou a me aprofundar no estudo das Escrituras e na melhor compreensão da obra de Cristo em favor do pecador, mas sei que infelizmente na vida de muitos esse filme será aquilo que as pessoas tomarão como sendo a verdade absoluta sem nem ao menos compará-lo com as Escrituras.
Mas, será que a intenção dos produtores era de fato produzir um filme de cunho evangelístico, ou apenas um filme no qual os eventos da vida de Cristo seriam narrados? Seria válido criticar o filme apenas porque ele não traz consigo a completa mensagem do evangelho? Em primeiro lugar, qualquer cristão temente a Deus teria o zelo de retratar os eventos narrados no filme com o máximo possível de fidelidade ao texto sagrado sem adições, distorções ou omissões. Em segundo lugar, seria mesmo possível narrar os eventos da vida de Cristo sem, ao mesmo tempo, ter que obrigatoriamente narrar a mensagem completa do evangelho? A resposta seria um retumbante “não”! Cristo viveu seu ministério em função da proclamação do evangelho, mostrando ao homem sua real condição, mostrando a necessidade de um salvador, mostrando que Deus se fez carne abrindo mão da Sua glória e veio habitar entre os pecadores, viveu como nosso representante uma vida reta que nós seríamos incapazes de viver, morreu nossa morte inocentemente em nosso lugar para pagar pelos nossos pecados e ressuscitou, provando que o sacrifício oferecido ao Pai para a satisfação da Sua justiça foi aceito plenamente, de modo que pela fé na pessoa e obra de Cristo podemos viver eternamente ao lado do pai, livres da condenação eterna do pecado.
“Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5.21)
No filme, Jesus até diz que ele é o caminho, a verdade e a vida, mas ele é o caminho para onde? Talvez a melhor pergunta seria “para quem?”. A parte que é omitida no filme é “Ninguém vem ao pai, senão por mim”, indicando que ele é o Pai, pois vir até ele é o mesmo que ir até o pai. Não há menção alguma da frase “Eu e o Pai somos um”. Não há menção alguma de que Jesus é Deus encarnado. E que diferença faz saber que Jesus é Deus encarnado? Isso faz toda a diferença, pois o próprio Cristo disse:
“Eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados”.” (João 8.24)
A expressão “Eu Sou” foi o nome pelo qual Deus se identificou a Moisés no Antigo Testamento (Êxodo 3.14). Jesus está claramente dizendo que sem que os fariseus entendessem que ele era Deus encarnado, eles morreriam em seus pecados, sem salvação. Portanto, se o Jesus que nos for apresentado não tiver a mesma essência de Deus, criador dos céus e da terra, não pode haver salvação. E o Jesus apresentado no filme jamais é apresentado como sendo Deus, o grande Eu Sou, nem muito menos revela qual é a mensagem do evangelho.
Mude quem Cristo de fato é, e o caminho para a salvação estará corrompido. Somente a fé e a confiança depositadas no Cristo verdadeiro, o Deus encarnado, pode salvar. Quer que as pessoas sigam um caminho diferente do que o caminho correto e pensem que estão no caminho certo? Dê a elas um Jesus qualquer. As maiores heresias que surgiram ao longo da história sempre estavam ligadas primariamente à pessoa de Cristo. Porque isso seria diferente hoje?
Esse filme também me revelou que não há inocência por parte dos produtores que manipulam o relato bíblico e dão a ele uma nova roupagem, mais emocionante e mais viva do que as Escrituras nos apresentam. Tentam “cosmetizar” a Palavra de Deus – no grego, a palavra kosmos, que significa “mundo”, também traz o sentido de “embelezar”. Esse filme claramente nos mostra que a omissão do mal (que tem como causa o coração humano), a omissão de Satanás (que é o príncipe desse mundo caído) e a omissão de metade da mensagem do evangelho (a real condição do homem para com Deus e sua necessidade de um salvador), não foram fruto do acaso, nem muito menos da inocência humana. Talvez mais do que simplesmente arrecadar dinheiro com os relatos da bíblia, os produtores estejam querendo nos vender suas próprias ideias e concepções do relato bíblico e moldar nossas ideias e convicções às deles. E tudo isso sutilmente, usando a própria Palavra de Deus para fazer cair na armadilha aqueles que não conhecem bem a Palavra da Verdade (João 17.17).
Há quem diga que os produtores sejam adeptos do movimento “Nova Era”, e que o Messias (Jesus) apresentado no filme é o Messias tal qual esse movimento entende que ele seja. Se isso é verdade ou não, só Deus sabe e não pretendo julgar pessoas aqui, apenas avaliar suas obras, e o resultado nos mostra que em virtude de tanta manipulação do texto bíblico a fim de adaptá-lo ao cinema, não seria errado concluir que o temor a Deus passou longe do processo de desenvolvimento desta produção, mesmo tendo ela contado com a contribuição de cerca de setenta consultores teológicos. Talvez uma boa pesquisa na internet sobre as reais crenças dos produtores do filme, bem como sua formação acadêmica e áreas de interesse, possa ajudar o leitor a entender o que está realmente por detrás não somente do “outro Jesus” que o filme mostra, mas também da mensagem corrompida apresentada em “O Filho de Deus” (HTTP://media4lifeministries.com/2014/03/09/the-son-of-god-movie-another-jesus/).
Oro para que Deus desperte em você…
- O desejo de aprender cada vez mais o que Ele nos deixou revelado em Sua Palavra TAL COMO DE FATO ACONTECEU;
- O desejo de compreender cada vez melhor a obra de Cristo em nosso favor, QUAL ERA NOSSA REAL CONDIÇÃO PERANTE DEUS quando estávamos sem Cristo e QUAL É NOSSA REAL CONDIÇÃO PERANTE O PAI uma vez que, pela fé, estamos em Cristo e Ele está em nós;
- A astúcia e o discernimento espiritual para conseguir perceber as sutilezas por detrás das produções que o mundo nos oferece;
- O temor para que aprendamos a NÃO ULTRAPASSAR O QUE ESTÁ ESCRITO (1 Coríntios 4.6);
- A percepção para compreendermos que existe uma batalha espiritual feroz acontecendo na esfera invisível deste mundo (Efésios 6.10-12);
- A necessidade de se batalhar pela verdade (Judas 1.3) em vez de fazermos vista grossa aos ensinamentos e pessoas que claramente se opõe a Deus por medo de sermos rejeitados, humilhados ou perseguidos;
- O amor pelas pessoas que estão perdidas.
“O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo. Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do que acolheram ou um evangelho diferente do que aceitaram, vocês o suportam facilmente. Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz.” (2 Coríntios 11.3-4, 14)
Essas palavras de Paulo deveriam nos chocar! Não pelo fato de que o próprio Satanás de disfarça de anjo de luz, mas sim pelo fato de que os homens tem uma tendência muito grande de facilmente acolher a mentira e de rejeitar a verdade, e isso acontece exatamente quando a mensagem é apresentada a eles de uma maneira que lhes agrade ou da maneira como a querem ouvir. É por isso que muitos acolhem facilmente um evangelho que não apresenta quem o homem de fato é – um pecador indigno, morto espiritualmente, incapaz de se salvar e afastado de Deus. Somente quando entendemos quem de fato somos, e quem Cristo de fato é (Deus encarnado, nosso representante e nosso substituto), bem como a sua obra em nosso favor, nós poderemos de fato sermos feitos filhos de Deus (João 1.12-13).
Como Filhos de Deus, e como Embaixadores de Cristo e de Sua mensagem na terra, temos o dever de defendermos a veracidade dos fatos tal como as Escrituras nos revelam. Devemos fazer isso, porém, de maneira mansa e respeitosa (1Pedro 3.15), combatendo as sutilezas e as mentiras com a Verdade. Se de fato queremos comunicar ao mundo o que é o amor de Deus, não devemos omitir a pecaminosidade humana, pois quem fala a verdade visando o bem maior de alguém mostra amor, mas quem faz vista grossa ao erro apenas para não chocar ou magoar as pessoas no momento em que se vive, age com egoísmo. A intenção do filme pode até ter sido comunicar o amor de Deus através da pessoa de Cristo, mas isso é algo impossível de se atingir sem que a causa da vinda e da morte de Cristo seja explicitamente trazida à tona e sem que a pecaminosidade humana seja exposta – e nisso o filme falhou em fazer.
Que possamos pregar e viver o evangelho conforme o Senhor nos ordenou. Mas antes de tudo, que esse evangelho que pregamos seja o evangelho correto, completo e capaz de salvar os que nele creem assim como nós fomos salvos quando o ouvimos.
Que Ele nos abençoe!
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