O artigo abaixo foi escrito por Sherri Huleatt com o título “Is ‘The One’ Biblical?”. Creio ser sua abordagem sobre o tema correta, ou seja, que não existe uma pessoa única para que acertemos um bom casamento. Acredito ser bíblico a permissão de Deus para que nós escolhamos com quem casar, e isso não aflige a soberania de Deus.
Por outro lado, tenho algumas observações importantes quanto ao texto, posições diferentes da autora. Por exemplo, ela diz que a Bíblia não nos diz especificamente como escolher um cônjuge. No entanto, a Bíblia ordena que o cônjuge seja da (1) mesma espécie (Gn 2.18 – corresponda, idônea), (2) gênero oposto (Gn 2.23-24) e (3) esteja debaixo do mesmo jugo (2Co 6.14). Além disso, a autora chama a decisão de se casar com um crente ou não de sabedoria. Essa decisão é mais do que isso, é uma questão de obediência ou desobediência.
Enfim, o cerne do texto provoca a maior parte dos círculos cristãos que eu conheço, bem como o falso romantismo no “foi Deus que escolheu para mim.” O texto foi traduzido livremente. Abaixo:
Por Sherri Huleatt
Um jovem que eu conheço esteve no meio de um turbilhão, daqueles romances parecidos com os fabricados em Hollywood. Uma motorista embriagada conduziu os planos dele para um final devastador. Ele e sua noiva se conheceram, se apaixonaram e há dois meses de caminhar até o altar, uma mulher que tinha bebido muito tirou a noiva de meu amigo deste mundo.
Ele estava convencido de que sua noiva era “a única.”[1] Mas isso significa que ele agora estaria condenado a uma vida de solidão ou um casamento medíocre com outra pessoa? Pode haver uma “segunda” pessoa?
Essa noção da “única” inspira alguns debates no círculo cristão. Nós fazemos isso soar religioso, como se Deus seguramente criasse somente uma pessoa para cada um de nós e nosso trabalho fosse sentar e esperar que Deus trouxesse essa pessoa no tempo certo. Isso soa até como respeitoso a Deus, mas será bíblico?
O que a Bíblia fala sobre escolher o cônjuge?
A Bíblia não nos diz especificamente como escolher um(a) parceiro(a), mas nos diz o que não fazer. Por exemplo, Provérbios diz aos homens para não colocar muito peso na aparência da mulher, ou nos traquejos sociais, enquanto se coloca pouco peso em sua piedade (Pv 31.30). Não diz nada sobre haver uma escolha [moralmente] certa, mas sugere que há escolhas sábias e não sábias.
O apóstolo Paulo diz que se quisermos nos casar, essa é uma decisão nossa (1Co 7.25-28). Ainda, mais controversamente, ele diz que com quem nos casamos é uma decisão nossa: fica livre para casar com quem quiser, contando que seja no Senhor (1Co 7.30).
E se querer casar está debaixo da vontade “permissiva de Deus” (i.e. Ele nos permite escolher nossa preferência sem nos ordenar que escolha uma ou outra), como pode a pessoa que escolhemos também não estar debaixo de Sua vontade permissiva? E se Paulo diz especificamente que uma mulher é livre para se casar com qualquer um que ela deseja, desde que seja crente, de onde tiramos a ideia que Deus separou uma pessoa apenas para nós?
Assim que eu digo às pessoas que não deveríamos assumir que Deus escolheu uma pessoa especificamente para nós, elas geralmente perguntam: “e o caso de Isaque e Rebeca?” O propósito de Deus ao estabelecer a união de Isaque e Rebeca, requeria que ela fosse de certa nacionalidade. Não é este o caso para nós quando escolhemos quem casar (Gl 3.28). Pelo contrário, somos instruídos[2] a achar uma pessoa de mesma fé.
Também, tenha em mente que nem sempre as narrativas do Antigo Testamento são normativas. O Antigo Testamento descreve o que aconteceu, mas isso não significa que devamos copiar o que aconteceu, especialmente porque o Antigo Testamento nem sempre é explícito sobre denunciar ações claramente inapropriadas. Enquanto Deus claramente abençoou Davi e Bate-Seba com o nascimento de Salomão, seria uma aplicação monstruosa sugerir que adultério seguido de um assassinato acobertado é um método aceito na escolha do cônjuge. Da mesma forma, ninguém sugeriria a uma viúva que procurasse um homem com o dobro de sua idade, trabalhasse no campo e descobrisse seus pés no meio da noite para pedi-la em casamento, como o casao de Rute. Ainda, indiscutivelmente, estas se tornaram uniões significantes e são famílias que estão na genealogia de Jesus Cristo.
Em outras palavras, o fato de que talvez houvesse uma específica mulher para Isaque, não significa que haja uma para você. Dentro de uma compreensão razoável do trabalho de Deus através da história podemos crer que Ele pode criar e chamar duas pessoas sob Sua providência para realizar um trabalho específico. Mas desde que as (ensino) porções didáticas do Novo Testamento não nos dizem que Deus criou apenas uma pessoa para nós, parece um pouco presunçoso, na melhor das hipóteses, e talvez insensato, na pior das hipóteses, supor que há apenas uma pessoa certa para se casar.
Você tem uma escolha?
Buscar “a perfeita vontade de Deus” onde não nada pode ser uma fuga. É trabalho duro achar um cônjuge adequado. Do outro lado, procurar um sinal místico ou emocional é fácil. De acordo com todo o relato das Escrituras, quer nos casemos e seja com quem for, está debaixo da vontade permissiva de Deus. Se você quiser se casar com alguém introvertido ou extrovertido, uma pessoa de negócios ou um artista, Deus lhe deixa escolher.
Assim, ao invés de usar o misticismo ou buscar confirmações emocionais ou carismáticas, nós deveríamos aplicar a sabedoria [de Deus]: esta pessoa é crente? Eu confio nelas? Eu gosto delas? Eles podem resolver um conflito? (Eu escrevi um livro inteiro sobre isso, então eu realmente não posso resumir todas as perguntas em um parágrafo.) Se forem contempladas estas e outras preocupações, então há uma última pergunta para responder: você quer fazer isso?
Então, voltando para onde começamos: eu acredito que este jovem rapaz tem muitas opções para uma felicidade futura. Se não há apenas uma única escolha certa, então significa que ele pode construir um casamento gratificante e significativo com qualquer mulher que seja adequada à sua própria escolha.
[1] Em inglês, “The One”.
[2] De fato, como eu disse na introdução, somos ordenados. Ser da mesma fé não é uma opção ao cristão, mas uma ordem de Deus (2Co 6.14, Ex 34, Dt 7, Jz 2, Jz 14, Sl 106).
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