Por Marcos Granconato
O primeiro homem de Deus que tive o privilégio de ter como pastor se chamava João Korps. Apesar de ser criança naquela época, lembro-me ainda dele com seu terno e gravata pretos, chegando à minha casa para visitar a família e ler um pedacinho da Bíblia com a gente.
O saudoso Pr. Korps não era conhecido apenas por suas visitas breves e simpáticas, mas também pelas palestras que apresentava e pelos livros que escrevia sobre escatologia. Eu me recordo que quando ele ia a alguma igreja para expor seus estudos, o local ficava cheio de gente, todos interessados na doutrina das últimas coisas.
Curiosamente, nos dias atuais, aquele velho interesse pelo ensino bíblico sobre o futuro parece ter se esfriado. O que será que aconteceu? Pessoalmente, acredito que o desinteresse atual pela escatologia tem, pelo menos, três motivos.
Em primeiro lugar, o descaso pelas doutrinas acerca do fim tem razões ligadas às circunstâncias da época em que vivemos. Ao longo da história, é notável que algumas doutrinas receberam atenção maior por parte dos teólogos e da igreja como um todo em virtude de fatores externos que estimularam o debate. Nos séculos 4 e 5, por exemplo, os temas preferidos eram Trindade e cristologia. Já nos tempos da Reforma Protestante, o diálogo teológico abrangia a bibliologia, a eclesiologia e, ainda mais especialmente, a soteriologia. Estudando esses períodos vemos que circunstâncias diversas que rodeavam a igreja impeliram os estudiosos a tratar desses temas, tornando-os centrais em seus sermões e escritos.
Com a escatologia não foi diferente. Nos tempos da Guerra Fria (1945-1991), quando se falava tanto sobre bombas atômicas, quando todos vislumbravam o advento da Terceira Guerra Mundial, com o fim do mundo às portas, quando livros evangélicos americanos diziam que a URSS era o centro do poder do Anticristo, era natural que a escatologia despertasse tanto o interesse dos crentes.
Ocorreu, porém, que a Guerra Fria acabou e muitos livros de escatologia americanos foram para o lixo. Então, ao que parece, a preocupação das pessoas com o futuro iminente desvaneceu. É claro que um novo despertar ocorreu na virada do milênio (o que já era esperado), mas, quando as pessoas perceberam que os anos 2000 não trouxeram nada de realmente dramático, a doutrina das últimas coisas voltou para as prateleiras.
Se existem razões históricas para o desinteresse dos evangélicos pela escatologia, é certo que há também razões kerigmáticas, ou seja, razões ligadas à pregação feita em nossos dias. De fato, no passado, os pastores realçavam em suas mensagens a realidade do céu, a Nova Jerusalém, o dia maravilhoso do encontro com Cristo, quando todo sofrimento teria fim. Ora, isso despertava nos crentes forte interesse pela realidade além. Atualmente, porém, as heréticas pregações sobre prosperidade material deslocaram a esperança do crente do futuro para o presente. Com efeito, pregadores anunciam o fim do sofrimento aqui e agora, fazendo com que as pessoas depositem a esperança em Cristo apenas nesta vida (1Co 15.19), deixando de lado o anelo pelo céu e pela felicidade plena num futuro sem fim (Cl 3.1-4).
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