A Bíblia nos diz que Deus é artista! Efésios 2.10 afirma que somos feitura ou “obra de arte” dEle. Mas neste processo de criação, Deus usou e usa situações difíceis para aperfeiçoar Sua obra em nós. Tal como o oleiro que amassa e corta o barro, ou como o joalheiro que faz cortes no brilhante, ou ainda como o escultor, que dá golpes com a talhadeira na pedra, nosso Deus também usa situações de dor e sofrimento para nos lapidar e dar a forma que deseja.
Parte do resultado da entrada do pecado no mundo é o sofrimento. Dificilmente você não está sofrendo em alguma área hoje. O fato de que sofremos (na família, na saúde, nas finanças, na escola, no serviço) não deve nos supreender. Nós introduzimos sofrimento no mundo pelo nosso pecado, não “nosso” necessariamente no sentido individual, mas coletivamente. Vivemos num mundo que Deus nunca tencionou para nós.
O que é de admirar é a soberana graça de Deus que usa até a sujeira desse mundo, o sofrimento, para nos amoldar à imagem de Cristo. Deus não desperdiça nada! Tudo coopera para o bem! Porém, infelizmente, a teologia da prosperidade roubou das mãos de Deus e da igreja de Jesus Cristo essa ferramenta para nosso crescimento espiritual. Em nome de vitória, triunfo espiritual, reivindicação e bênção, negam a possibilidade de um Deus que prova Seu povo pelo fogo do sofrimento. Relegou o sofrimento para o diabo, e por isso sofrem duas vezes: 1) continuam a estar sujeitos ao sofrimento—não mudou nada! 2) Atribuem o sofrimento ao diabo, e não aproveitam a oportunidade para crescer.
Mas como é esse processo? Exatamente como Deus nos transforma à imagem de Seu Filho por meio do sofrimento?
1. O sofrimento ganha nossa atenção
2 Coríntios 12.7-10 E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.
Deus ganhou a atenção de Paulo através de um “espinho na carne”, algo que o incomodava de tal forma que tinha que lembrar sua fragilidade, sua fraqueza, sua humanidade! Alguns acham que o espinho foi algum tipo de doença, talvez como resultado dos muitos sofrimentos e perseguições que sofrera, sendo apredrejado tantas vezes, naufragado, etc. Outros pensam que foi um problema com os seus olhos. Pelo uso da frase “mensageiro de Satanás”, que literalmente é “anjo de Satanás”, ainda outros acham que foi uma pessoa que servia como pedra na sandália do apóstolo, alguém que o perseguia, que não o deixava em paz. O que importa é que o sofrimento que o grande Apóstolo Paulo sofria foi justamente para ganhar sua atenção, para forçar uma dependência diária da graça de Deus. Deus permite que “incômodos” entrem em nossas vidas para nos lembrarmos quem somos e de quem precisamos. O espinho ajudou Paulo a não se exaltar demais, a continuar dependente do Senhor, de modo que ele nunca se esquecesse de que ele não era Deus! Essa é a bênção da dor, a graça da dor. Precisamos elevar os olhos!
Sofrimento lembra-nos da nossa fragilidade. Lembra-nos da nossa incapacidade. Lembra-nos de que a vida é breve. Lembra-nos de quanto precisamos do Senhor. Ganha nossa atenção! Deixados à sós, caímos na apatia, indiferença, letargia, no corriqueiro. Achamos que somos auto-suficientes, que nós mesmos somos responsáveis pelas bênçãos que experimentamos.
Foi isso que aconteceu com Nabucodonosor, rei de Babilônia. Em Dn 4.29-35, Deus, pela sua infinita graça e sabedoria, humilhou o rei para ganhá-lo depois. O rei reconheceu a soberania de Deus, Sua graça, Sua misericórdia. Tornou-se menos auto-suficiente, menos arrogante . . .
Será que Deus está tentando ganhar sua atenção através de algum sofrimento? Em vez de resmungar, reclamar, reivindicar, vamos aproveitar essas oportunidades para chegar mais perto de Deus!
2. O sofrimento revela nosso coração
Dt. 8.2,3: Recordar-te-ás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecestes, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor, disso viverá o homem.
Deus permite que passemos por provações para revelar o que realmente está no nosso coração, o que adoramos. Ele já sabe o que há em nosso interior, mas nós, não!
Sl 139.1,2: Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos.
23,24: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se
há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.
Assim como a dor que nos alerta de que algo está errado—pedra nos rins, dor de estômago, unha encravada, dor de cabeça–o sofrimento muitas vezes nos alerta de que há áreas doentias da nossa vida espiritual. . . (nem sempre, mas muitas vezes). Nesses casos, a dor é uma dádiva de Deus, produto da Sua graça, pois aponta defeitos que talvez nunca iríamos reconhecer.
A. Expõe Ídolos
Ezequiel 14 é um texto um tanto quanto esquecido no AT, mas que revela muito sobre a natureza do homem. Todos nós somos adoradores, por natureza. O ser humano se curva diante de algo ou alguém. Mesmo pessoas que provavelmente NUNCA iriam participar de uma procissão atrás de um santo ou ídolo, erguem objetos de adoração em seus corações. O sofrimento sobre a casa de Israel seria uma disciplina que os faria acordar ao fato de que adoravam ídolos ao invés do único Deus.
B. Desmascara o Verdadeiro “Eu”
Foi isso que Jesus deixou claro em Mc 7.21-23:
Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascíviia, a inveja, a blasfêmia a soberba, a loucura; ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.
Só quem vive “à nivel do coração” será capaz de gozar da transformação. Precisamos ser “desmamados” dos ídolos. Deus nos ama tanto, que não permite que continuemos com esses ídolos tomando o lugar dEle em nossas vidas, roubando a nossa alegria, desviando-nos dos propósitos que Ele tem para nossas vidas.
Podemos ver em Abraão em exemplo bíblico disso (Gn 22). Ao exigir o sacrifício de Isaque, Deus toca justamente naquilo que era mais precioso para Abraão. Foi um teste para saber se Isaque ou Deus, era o dono do coração do patriarca. Sabemos que Abraão passou o teste. Às vezes, porém, o sofrimento que sentimos é exagerado pelo fato de que algo é importante demais para nós. Sempre temos que perguntar a nós mesmos, “Será que estou sofrendo demasiadamente pelo fato de que ___________ tomou o lugar de Deus em minha vida?”
Outro exemplo disso pode ser encontrado na vida de Jó. Deus permitiu que Satanás perseguisse Jó, como experiência que iria resultar em glória a Deus. Jó passou a primeira parte do teste, pois demonstrou que ele adorava a Deus pelo que Deus é, não pelo que faz. Satanás havia acusado Deus de comprar louvor, e Jó de servir a Deus só como interesseiro.
Infelizmente, Jó também expôs um outro aspecto do seu coração mais tarde, quando ele se mostrou arrogante e auto-justificativo. O sofrimento desmascarou orgulho e auto-exaltação quando ele exigiu que Deus respondesse sua queixa.
Talvez você consiga lembrar algumas vezes quando o dedo de Deus tocou algo que estava ficando importante demais em sua vida:
- adorar sua própria voz, mas ficou rouco e não conseguiu cantar;
- absorvido num emprego muito promissor, ao ponto de abandonar a igreja e sua família, até que Deus tira-o de você
- apaixonado pelo esporte, ao ponto de só ficar sonhando sobre ele durante os cultos, passando horas e horas assistindo ou praticando, até que leva um tombo e precisa ficar de molho por meses
- perda de um namorado/namorada
- perda ou fracasso em um ministério.
- bem adquirido que era importante demais: bicicleta, som, carro, aparelho, utilidade doméstica, e foi roubada, ou quebrou. Era importante demais. Por isso doeu tanto.
Temos que tomar cuidado para não dizer que TODO o sofrimento é para expor algum ídolo em nosso coração, ou para nos disciplinar. Certamente não é o caso. Esse foi o erro dos amigos de Jó, os primeiros teólogos da prosperidade, mas que não sabiam nada de Deus. Simplesmente afirmamos de que sofrimento PODE expor ídolos concorrendo com Deus no trono das nossas vidas.
A família é um lugar incrível para descobrir o que está dentro do copo da sua vida. O relacionamento com o cônjuge e os filhos, mostram o que há em nosso coração. O trânsito é campeão de revelador do coração. A fila do Bradesco também é. Podemos culpar nossas reações ao pecado deles ou às circunstâncias da vida, mas o fato é que simplesmente revelam o que está no seu coração.
Não consigo explicar todas as razões por que coisas ruins acontecem para gente boa. Não pretendo decifrar os propósitos divinos. Não afirmo que todo o sofrimento é pelo fato de que temos ídolos ou pecado no coração, ou que somos auto-suficiente ou orgulhosos. Às vezes, o sofrimento não tem explicação, não faz sentido. Mas posso garantir que Deus não desperdiça sofrimento e dor. E não quer que nós a desperdicemos também. Romanos 8.28,29 deixa muito claro que TUDO coopera para o bem, ou seja, para a imagem de Cristo ser formada em nós, se pertencemos a Deus.
3. O sofrimento nos encaminha para a perfeição
2 Co 12.9-10 Então ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte.
Mas qual será sua reação diante do sofrimento? Você procura FUGIR dele, ou EXTRAIR do sofrimento seu valor? A dor é um precioso instrumento para sermos aperfeiçoados por Deus, e desse modo, precisamos aproveitá-lo.
Vejamos o que nos diz Rm 8.18, 28-29:
18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. (…) 28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
1. Sofrimento coopera para o bem;
2. Para aqueles que são chamados por Deus;
3. Para serem conformes a imagem de Jesus.
O propósito de tudo que Deus permite que toque nossas vidas é de nos conformar a imagem de Cristo. Muitas vezes não entendemos. Mas o que não queremos fazer é desperdiçar a oportunidade de chegar mais perto de Deus, confessar nossa incapacidade até mesmo de entender, nossa fraqueza e carência da graça.
Nem sempre o sofrimento tira o pecado. Às vezes, simplesmente nos ensina lições importantes, ou nos dá experiência de vida e maturidade, ou ajuda a nos identificarmos com outras pessoas e consolálas em seu sofrimento. Foi assim com o próprio Jesus, nosso sumo-sacerdote, que experimentou a dor e o sofrimento dessa vida em parte para poder ser compassivo para conosco.
Hebreus 5.7-9 diz:
Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu, e tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.
Notem: 1) Jesus nunca pecou, mas sofreu 2) Jesus foi ouvido em suas orações por livramento, mas não foi aliviado do sofrimento 3) Jesus foi “aperfeiçoado” pelo sofrimento, ou seja, ele adquiriu, como homem, uma experiència prática com a dor, que lhe capacita para se identificar conosco e nos consolar.
Tiago 1.2-4 Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria, o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.
Uma das minhas histórias prediletas é sobre uma pessoa que foi assistir o trabalho de um ourives que trabalhava prata, tirando as impurezas, refinando o metal. Observava durante um tempo, percebendo que o ourives parecia saber exatamente quanto tempo deixar a prata no fogo, e a hora de tirá-la. Perguntou ao homem como ele sabia o momento exato em que tirar a prata do fogo. Ele respondeu, “Quando vejo meu rosto refletido na prata, sei que é hora de tirá-la.” Assim é conosco. Quando Deus vê o reflexo do Seu Filho, Seu caráter desenvolvido em nós, sabe que o fogo já completou sua obra. Não saiamos do fogo antes da hora!
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