Título original: [In]Fidelix
A igreja primitiva encontrava seu valor no simples fato de receber de Deus o direito de ser perseguida assim como aconteceu com seu Mestre. Foi o Mestre quem os advertiu: “Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes odiou a mim” (Jo 15:18). É interessante, entretanto, que a igreja primitiva parecia entender que a perseguição era injustificada. Ao ser morto a pedradas Estevão bradou: “Senhor, não os consideres culpados deste pecado” (At 7:60), uma expressão muito similar àquela feita pelo próprio Mestre: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lc 23.34). A ira e o ódio contra os cristãos não era merecida, assim como não foi com Cristo. Eles não sabiam o que estavam fazendo, e por isso não deveriam ser culpados por esse pecado. Bons tempos aqueles!
Infelizmente nós perdemos o direito de dizer que a perseguição contra o cristianismo no Brasil é injustificada. Já não podemos mais seguir o exemplo de Cristo e dizer que aqueles que nos perseguem em nosso país não sabem o que estão fazendo. Também não podemos nos colocar ao lado de Estevão e dizer que eles não podem ser culpados por esse pecado. A verdade é que em muitos casos nós merecemos a perseguição que recebemos.
Nós merecemos as acusações de homofobia que recebemos? Eu acredito que sim. Levy Fidelix mostrou ao mundo (não somente ao Brasil, veja aqui, aqui, aqui, aqui) como muitos cristãos brasileiros ainda carregam uma linguagem inapropriada para o diálogo publico. Com o modo que se referiu a homossexuais no seu debate, Levy Fidelix deixou claro que muitos cristãos tem sim um sentimento de ódio contra homossexuais. Isso é ainda mais evidente pela quantidade exorbitante de apoio que ele recebeu de outros cristãos por supostamente ter falado a “verdade“. Levy Fidelix também deixou evidente que não sabemos dialogar com pessoas de diferentes opiniões e que temos o direito de sermos taxados de fundamentalistas. Ele representou uma classe chamada ‘cristãos evangélicos‘, na qual infelizmente sou incluído. Agora, o mundo pensa que nós pensamos como o Sr. Fidelix e como ele somos homofóbicos e religiosos fundamentalistas.
Nós não podemos mais concordar com Inácio de Antioquia quando disse: “A grandeza da Igreja consiste no fato de sermos odiados por todo o mundo.” Esse era o caso quando o ódio era injustificado. Esse era o caso quando o cristianismo ainda manifestava Seu zelo pelo mestre. Esse era o caso quando o ódio do mundo contra o cristianismo era respondido com o amor de Cristo e sua mensagem, quando homens, mulheres e crianças morriam por sua fé (como ainda acontece hoje em outros lugares do mundo). Mas, nós não podemos mais nos juntar a esse grupo.
Também não podemos mais recorrer ao exemplo dos mártires do passado. Não somos perseguidos por nossa fidelidade ao Senhor. Somos perseguidos por que não sabemos dialogar com nossa realidade. Somos perseguidos por que não sabemos nosso lugar na sociedade. Já não somos perseguidos por causa do evangelho do nosso Mestre, mas por que não sabemos mais o que é o evangelho.
A perseguição já foi sinal de fidelidade, mas no nosso caso é apenas sinal da nossa ignorância e falta de sabedoria. Não somos mais reconhecidos por manifestarmos o amor do nosso Mestre, mas por representarmos o ódio do fundamentalismo religioso. Já não nos interessa morrer por Cristo, nós queremos é matar por nossas ideias. Nós nos tornamos a caricatura do que desprezamos. Se o Sr. Fidelix representa essa tal classe chamada ‘cristãos evangélicos’, então podemos dizer que merecemos a oposição que recebemos.
Por outro lado, o Sr. Levy não passa de mais um [In]Fidelix. O homem errado, no lugar errado, na hora errada, falando o que não deve. E por causa dele, e de tantos outros que o apóiam, o evangelho é banalizado e nosso Senhor é injusta e novamente martirizado.
Original em Teologando
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