Há algum tempo meu pai foi diagnosticado como portador do Mal de Parkinson. Trata-se de um doença degenerativa, sem cura até o momento, na qual a pessoa perde, gradualmente, o controle sobre o próprio corpo. Sem dúvida, trata-se de uma doença difícil de se lidar. Porém, existe um outro “Mal” que tem se tornado cada vez mais comum em nossos dias, ao qual podemos chamar de “Mal de Asafe”.
A Asafe, ou a alguém de sua família, é atribuída a autoria do Salmo 73, o qual relata uma profunda crise vivenciada pelo salmista, que quase o levou a se desviar (Sl 73.2). Ele manifestou inveja (v.3) e chegou a considerar a possibilidade de que o seu esforço em manter a integridade era inútil (v.13).
O problema de Asafe teve início quando começou a desenvolver um padrão errado de avaliação de sua vida. O salmista passou olhar para os ímpios e a comparar a sua vida com a deles, ao invés de enxergar a situação da perspectiva divina. O texto afirma: “Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios” (v.3). Ele começou a verificar que os ímpios viviam desfrutando dos prazeres do pecado e ainda assim aparentavam prosperar em suas vidas (vv.4-12). Sua conclusão inicial foi a de que a obediência a Deus não valia a pena (v.13), pois tinha que pagar um alto preço para isso (v.14).
Por trás de sua reação de inveja e desânimo, podemos observar um desejo que a alimentava. O salmista desejava ter uma vida próspera como a dos ímpios. Por isso o texto afirma que teve inveja dos aparentes benefícios que eles desfrutavam (v.3). Este desejo o levou à conclusão prévia de que a vida que os injustos levavam valia mais a pena do que a busca pela piedade. Asafe parece não querer mais sofrer e se afadigar por causa de seu empenho pela pureza (vv.13, 14).
Por trás destes desejos existem conceitos equivocados. O salmista demonstra crer que os benefícios transitórios que os ímpios desfrutavam eram mais valiosos do que uma vida de pureza e obediência ao Senhor. Ele se esquece que Deus usa os sofrimentos e dificuldades da vida para moldar o caráter de Seus servos. Além disso, demonstra não crer na justiça de Deus. Asafe desconsidera o fato de que os ímpios deverão prestar contas de suas ações diante do Senhor. Tudo isso é conseqüência do fato de que houve uma avaliação das circunstâncias à parte da perspectiva divina. O padrão de Asafe foi a comparação de sua vida com a dos incrédulos.
Uma forma de ajudar pessoas com o “Mal de Asafe” é confrontá-las biblicamente, mostrando a necessidade de arrependimento e confissão. Além disso, é preciso mostrar o padrão equivocado pelo qual estão avaliando sua vida, e indicar o padrão correto das Escrituras. Tarefas práticas podem ser propostas no sentido de levá-las a meditar sobre a bondade de Deus e os benefícios de uma vida santa. Relacionar numa lista os privilégios de ser fiel a Deus é uma boa tarefa para esta situação.
A solução para o mal de Asafe é apresentada no próprio Salmo 73. O salmista mudou sua perspectiva. Seu critério de avaliação deixou de ser a comparação com os ímpios. Ele deixou de olhar para os injustos e começou a olhar para Deus (v.17). Foi considerando a justiça de Deus que o salmista percebeu que os ímpios não permanecerão sem a justa retribuição. Ao deixar de considerar o momento e as circunstâncias e olhar para o todo, notou que Deus não deixará de retribuir a cada um de acordo com suas obras.
Um exemplo bíblico de como lidar com as dificuldades sem cair no “Mal de Asafe” é a vida do apóstolo Paulo. Sem dúvida, ele também passou por momentos difíceis. Teve experiências das mais diversas. Experimentou a humilhação e a fome (Fp 4.11, 12), trabalhos, prisões, açoites, perigos de morte, apedrejamento, naufrágios, vigílias, frio, nudez e muitos outros perigos e dificuldades (2Co 11.23-28). Apesar disso, Paulo aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação (Fp 4.11). A razão básica pela qual Paulo não teve uma reação semelhante à de Asafe, apesar das dificuldades ainda maiores que enfrentou, é que Paulo não comparou sua vida com as dos incrédulos. Os olhos do apóstolo estavam em Cristo. Ele aprendeu a deixar todas as demais coisas de lado e a fixar sua atenção no alvo, buscando o “prêmio da soberana vocação em Cristo” (Fp 3.12-16). Seus pensamentos estavam focados em Jesus e nas coisas celestiais (Cl 3.1-4). Ele havia aprendido que sua vida era para Cristo, e também tinha uma perspectiva da recompensa eterna, pois sabia que morrer era lucro (Fp 1.21).
Uma vida sendo vivida desta forma faz toda a diferença, pois dá ao cristão uma perspectiva correta de auto-avaliação. Asafe quase caiu porque colocou sua atenção sobre os benefícios que este mundo pode oferecer, ao comparar sua luta pela santidade com a boa vida dos ímpios. Paulo, contudo, colocou seus olhos em Cristo e na retribuição eterna, tornando-se, portanto, capaz de lidar com os sofrimentos do presente.
Queridos, infelizmente o Mal de Parkinson ainda não tem cura. Mas o “Mal de Asafe” tem. Em meio às dificuldades, fixe os seus olhos em Deus e avalie a sua vida da perspectiva divina!
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