A história nos relata acerca de um rei, cujo número de mulheres em seu harém é hoje visto como prodigioso: 1.000. De fato, há 3.000 anos, época na qual este rei governou, este número não impressionava. Grandes haréns eram comuns entre os monarcas da época.
Os registros históricos (Melechim[1]) dizem que nunca houve homem mais sábio que este rei. Sua sabedoria foi dada por Deus, porém, ela obviamente se mostrou insuficiente para um pleno relacionamento com Ele.
O rei Shlomo[2], sobre quem eu me refiro, desobedeceu obstinadamente as leis dadas pelo próprio Deus ao seu povo, a nação de Israel. Numa predição para a monarquia, foi legislado em Devarim[3] (aprox. 1345 B.C.), quinto livro da Lei de Israel, que o rei não deveria tomar para si muitas mulheres (17.17).
James Smith, erudito nos escritos hebraicos antigos, sugere que quando a narrativa histórica diz 700 princesas e 300 concubinas – 1.000 esposas – (Melechim A 11.3), ênfase minha, ela demonstra que Shlomo não foi motivado pela sensualidade das mulheres para tê-las em grande número.
“A menção de que 700 das mulheres eram princesas, sugere que seu desejo era o renome. Shlomo superou outros reis em glória, sabedoria, carruagens e cavalos, e também queria superá-los em esposas. (…) Foi o orgulho e não a paixão que levou Shlomo a violar a ordem de Deus contra a multiplicação de esposas.”[4] (Ênfases minha.)
Como um homem tão sábio foi capaz de cometer tamanha tolice? O abandono da lealdade à aliança divina por Shlomo afetou muito além de sua vida pessoal. Seu orgulho em colecionar esposas despertou relacionamentos de amores proibidos (Melechim A 11.2), os quais o induziram a voltar-se para outros deuses (11.4). Shlomo construíu altares idólatras, cuja adoração envolvia orgia e sacrifício infantil. Seu desvio conduziu a nação a um declínio moral, político e social.
É interessante notar que conhecimento de causa também não era um problema para Shlomo. Ele escreveu muito sobre conhecimento e sabedoria (cf. Melechim A 4.32) e especificamente um de seus provérbios é uma referência direta ao coração desta questão: Ele (Deus) zomba dos zombadores, mas concede graça aos humildes (Mishlê[5] 3.34).[6] Shlomo bem sabia que temer a Deus e guardar os Seus mandamentos é essencial à vida (Qolehet[7] 12.13).
Se a sugestão de James Smith está correta e o orgulho foi o pecado que afastou diametralmente este sábio rei dos caminhos de Deus, imagine o quanto ele fez e faz na vida de todos os outros pecadores?
Sabedoria não foi suficiente. Conhecimento não foi suficiente. O que então é suficiente para vencermos o pecado do orgulho? Ainda que alguém possa dizer humildade, lembre-se que ela, segundo Tiago, também está relacionada com a sabedoria (cf. Tg 3.3).
Não somente o orgulho, mas todos os pecados podem ser vencidos na Pessoa e na Obra de Jesus Cristo. Sua morte e ressurreição nos livrou da escravidão do pecado e nos habilitou (cf. Romanos), com a habitação do Espírito Santo, para um viver piedoso, à medida que desfrutamos de um relacionamento verdadeiro com Ele (2Pe 1.3-4). Em Cristo aprendemos a nos despir do velho homem e a nos vestir do novo homem (cf. Efésios), agora participante da natureza divina.
Enquanto neste corpo, Satanás o mundo e a carne tentarão nos enganar. Nosso coração será tentado, mas sabemos que Jesus intercede e nos protege. Ainda, tropeços no nosso relacionamento acontecerão, mas o perdão restabelece a comunhão que nunca merecemos.
Não é um valor ou uma virtude cristã que nos impede de pecar. Não é fazendo alguma coisa certa que nos abstém de fazermos algo errado. Existe somente uma forma de vencermos o pecado, a saber, no relacionamento com Aquele que mais deseja nossa felicidade, o Messias Jesus. Ao sair para o abraço, corra para Aquele que lhe espera de braços abertos. Somente uma pessoa dá abraços. Jesus Cristo não é um sistema, uma coisa, ou uma filosofia de vida. Jesus Cristo sangrou por você e por mim. Somente uma pessoa pode abraçar. Ele nunca rejeitará os que com fé se aproximam em arrependimento.
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[1] O livro dos Reis
[2] Salomão
[3] Deuteronômio
[4] Smith, J. E. (1995). The Books of History (1 Ki 11:3). Joplin, MO: College Press.
[5] Provérbios
[6] Este provérbio foi citado por dois diferentes autores neotestamentários, Tiago (4.6) e Pedro (1Pe 5.5). Note que eles interpretaram “zombadores” como “orgulhosos.”: Deus se opõem aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes.
[7] Eclesiastes
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