Nenhuma passagem bíblica fala mais e melhor sobre um homem chamado Apolo do que Atos 18.24-28:
Enquanto isso, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, chegou a Éfeso. Ele era homem culto e tinha grande conhecimento das Escrituras. Fora instruído no caminho do Senhor e com grande fervor falava e ensinava com exatidão acerca de Jesus, embora conhecesse apenas o batismo de João. Logo começou a falar corajosamente na sinagoga. Quando Priscila e Áqüila o ouviram, convidaram-no para ir à sua casa e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus. Querendo ele ir para a Acaia, os irmãos o encorajaram e escreveram aos discípulos que o recebessem. Ao chegar, ele auxiliou muito os que pela graça haviam crido, pois refutava vigorosamente os judeus em debate público, provando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo.
Apolo, o judeu de nome grego, nasceu numa cidade intelectualizada, conhecia as Escrituras (Antigo Testamento), havia sido catequizado no caminho do Senhor e falava com destaque e precisão sobre Jesus. Depois de destacar sua origem, ensino e qualidade intelectual, Lucas (autor de Atos), diz: embora conhecesse apenas o batismo de João.
Essa frase, apesar de curta, diz muito. Ela ainda é motivo para longos diálogos que descorrem baseado na pergunta: “quanto Apolo sabia sobre Jesus?”
Espero, com esta breve pesquisa, conduzir o leitor a uma melhor compreensão sobre o que Apolo realmente conhecia sobre Jesus. Como método, transcrevo o que comentaristas escreveram sobre esta passagem, seguida de minha consideração final sobre o assunto.
Comentaristas:
David Guzik
Apolo foi um homem que ministrava poderosamente, ainda assim, com conhecimento limitado. Então ele foi ajudado por Áquila é Priscila em Éfeso, quando eles o levaram consigo e explicaram o caminho de Deus com mais exatidão. (…) Porque Apolo conhecia o trabalho de João Batista, é provável que ele tenha pregado que o Messias havia chegado e que deveríamos responder a Ele, mas ele provavelmente tinha pouco conhecimento do todo da Pessoa e Obra de Jesus Cristo.
Albert Barnes
… está claro que ele não havia escutado que Jesus era o Messias.
John MacArthur
Eu acredito que Apolo não era um Cristão, mas que era um estudante de João Batista. Se isso é difícil para você engulir apenas por esta frase, veja o final do versículo 25. Em Atos 18.25 é dito que ele “conhecia apenas o batismo de João.” Agora, Apolo foi o mais verdadeiro Santo do Antigo Testamento. Ele aceitou todo o AT, todo o conteúdo até o cumprimento em João Batista. Ele aceitou a mensagem de que o Messias estava chegando. Ele até aceitou o fato de que o Messias era Jesus. Como saber isso? O verso diz: “Ele era instruído no caminho do Senhor, sendo fervoroso no Espírito. Falava e ensinava diligentemente as coisas de Jesus.” Os melhores manuscritos, as coisas de Jesus, conhecendo somente o batismo de João. (…) Uma coisa é ter conhecimento, outra coisa é saber a verdade.
Steven J. Cole
Alguns dizem que ele sabia tudo sobre o ministério de Jesus, incluino Sua morte, ressurreição e ascenção, mas que nele faltava a experiência do Pentecostes, a habitação pessooal do Espírito Santo. Eu creio que a coisa não é por aí. Pelo contrário, parece-me que Apolo conhecia as profecias do AT sobre o Messias e que ele tinha ouvido falar do ministério de João, que o Messias viria em breve. Todavia ele não tinha ouvido falar que tais coisas foram cumpridas em Jesus. Talvez Apolo nem tivesse ouvido rumores a respeito de Jesus ser o Messias. Nunca houvera sido explicado a ele claramente até que Priscila e Áquila o fizeram.
Robertson (Robertson’s Word Picture)
[Ele] não havia visto a Cruz, a Ressurreição de Jesus e tampouco o grande dia de Pentecostes.
John Wesley
Este homem havia sido instruído, entretanto não perfeitamene, no caminho do Senhor, na doutrina de Cristo. Conhecia apenas o batismo de João; apenas o que João ensinou àqueles que ele batizou, ou seja, a arrepender-se e crer no Messias que em breve apareceria.
Jamieson, Fausset and Brown
Ele foi instruído, provavelmente, por algum discípulo de João batista, de seu círculo de ensino sobre Jesus, mas nada mais. Ele ainda tinha de aprender sobre a nova luz que o derramamento do Espírito em Pentecostes tinha espalhado, sobre a morte e ressurreição do Redentor, como aparece em Atos 19.2,3.
Matthew Henry
Ainda que ele soubesse somente sobre o batismo de João, ele foi instruído no Evangelho de Cristo até onde o ministério de João poderia levá-lo; e nada mais. Ele conhecia o preparo do caminho do Senhor por aquela voz que clamava do deserto, mas do que o caminho do Senhor em si. Não podemos deixar de pensar que ele tinha ouvido falar da morte e ressurreição de Cristo, mas ele não foi levado ao mistério deles. Ele não tinha tido a oportunidade de conversar com qualquer um dos apóstolos desde o derramamento do Espírito. Ele mesmo talvez tenha sido batizado apenas com o batismo de João, mas não com o Espirito Santo, como os discípulos no dia de Pentecostes.
John Gill
(…) isso deve ser entendido, não sobre a ordenança do batismo isoladamente, como administrado por João Batista, mas de todo o ministério de João.
(…) Talvez ele soubesse muito pouco, se alguma coisa, dos milagres de Cristo, ou de sua morte e ressurreição dos mortos e os benefícios e efeitos do derramamento do Espírito Santo sobre os apóstolos e a luz e conhecimento que foram comunicados então.
Adam Clarke
Parece-me que ele não sabia nada mais de Cristo do que João pregou.
Estando cheio de zelo para propagar a verdade de Deus, ele ensinava diligentemente,ακριβως, ou seja, com precisão (é assim que esta palavra deve ser traduzida) as coisas de Cristo até onde ele podia conhecer através do ministério de João Batista. Parece que João não sabia nada mais do que João pregava. Alguns supões que nós deveríamos ler ουκ, não, antes de ακριβως, corretamente ou precisamente, porque é dito que Áquila e Priscila expuseram o caminho do Senhor ακριβεϚερον, ou seja, mais perfeitamente, ao invés de precisamente. Entratanto esta emenda não tem a menor necessidade, visto que é possível ao homem ensinar precisamente o que ele sabe. É possível que outra pessoa, que possui mais informação sobre o conteúdo do primeiro, ensine mais precisamente, ou dê a ele uma mais larga parcela de conhecimento.
Meu parecer
Thiago Zambelli
Acredito que, corroborado pelos irmãos acima, mas de fato observado através do próprio texto, Apolo era um grande conhecedor do AT e isso incluía seu exato conhecimento sobre a pessoa do Messias de acordo com a Antiga Aliança. No entanto, saber exatamente não significa, na gramática grega, conhecer perfeitamente ou plenamente sobre algo ou alguém. (Isso foi bem explicado por Adam Clarke – acima.)
Apesar de correto, o conhecimento de Apolo era limitado. Ele conhecia a Jesus Cristo como Messias, pois recebeu as informações do ensino de João Batista. Paulo corrobora com esta verdade: “O batismo de João foi um batismo de arrependimento. Ele dizia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus” (Atos 19). Ao contrário do que diz John MacArthur, acredito que Apolo era crente, o que fica evidente quando Paulo chama aqueles que somente haviam sido batizados no batismo de João de “discípulos” (Atos 19), um sinônimo para crente no escrito lucano de Atos.[1]
Tenho dificuldade em afirmar que Apolo conhecia, por exemplo, a ressurreição de Cristo, pois isso estava além do escopo do que João pregava. Ao contrário do que muitos pregadores insistem em afirmar, não era impossível que a morte de Jesus não tivesse sido ouvida em todos os cantos da Europa e Ásia. Não se esqueça que Jesus morreu em Jerusalém e Apolo estava em Éfeso. Como exemplo, lembre-se que há cerca de 80 anos, uma crise de tamanho catastrófico nos EUA somente foi ouvida no Brasil aproximadamente 30 dias depois. Se quiser pensar um pouco mais, imagine que ainda há milhões de pessoas que nunca sequer ouviram falar que houve alguém com a importância que o ocidente deu a Jesus Cristo – mesmo na divisão da data entre antes e depois de Cristo.
Igualmente reconheço a aparente dificuldade de dizer que Apolo era crente e, ao olhar para o texto de 1Co 15, perceber que o conhecimento da ressurreição é requisito fundamental para a salvação do homem pecador, pois diz sobre a obra e pessoa de Cristo. Todavia, enxergo Apolo no período de transição entre a Antiga e a Nova aliança e não temo dizer que ele era um santo do Antigo Testamento, como disse o próprio John MacArthur, o qual disse ser Apolo um incrédulo. A fé de Apolo se baseava em, à priori, como qualquer genuína fé daqueles que nasceram sob a Antiga Aliança: na esperança do Messias, quem ele não conhecia plenamente, mas exatamente.[2]
Em suma, não tenho dúvidas de que Apolo conhecia a messianidade de Jesus Cristo. João Batista havia mostrado que Jesus era o Messias esperado, mas não mostrou, mesmo porque foi morto durante o ministério de Jesus, o significado da morte e da ressurreição de Cristo, elementos fundamentais para a fé cristã. Apolo era alguém com muito conteúdo veterotestamentário, mas pouco conhecimento neotestamentário (até a “EBD” na casa de Priscila e Áquila).
Destaco as seguintes frases dos comentaristas:
- David Guzik: Porque Apolo conhecia o trabalho de João Batista, é provável que ele tenha pregado que o Messias havia chegado e que deveríamos responder a Ele, mas ele provavelmente tinha pouco conhecimento do todo da Pessoa e Obra de Jesus Cristo.
- John MacArthur: Apolo foi o mais verdadeiro Santo do Antigo Testamento.
- John Gill: Talvez ele soubesse muito pouco, se alguma coisa, dos milagres de Cristo, ou de sua morte e ressurreição dos mortos e os benefícios e efeitos do derramamento do Espírito Santo sobre os apóstolos e a luz e conhecimento que foram comunicados então.
- John Wesley: [Apolo] conhecia apenas o batismo de João; apenas o que João ensinou àqueles que ele batizou, ou seja, a arrepender-se e crer no Messias que em breve apareceria.
- JFB: Ele ainda tinha de aprender sobre a nova luz que o derramamento do Espírito em Pentecostes tinha espalhado, sobre a morte e ressurreição do Redentor
- Matthew Henry: Não podemos deixar de pensar que ele tinha ouvido falar da morte e ressurreição de Cristo, mas ele não foi levado ao mistério deles.
- Steven Cole: ele não tinha ouvido falar que tais coisas foram cumpridas em Jesus.
Qual a importância desta discussão?
Em primeiro lugar, toda a palavra de Deus é inspirada e útil ao homem (2Tm 3.16). Devemos zelar por ela toda, extraindo a verdade de cada aresta revelada.
Em segundo lugar, vejo a clara lição que o conhecimento de Apolo sobre o Messias não era suficiente. Pergunto-me: meu conhecimento sobre Jesus é suficiente para eu explicar clara e verdadeiramente sobre Ele? Conheço sobre Jesus o suficiente para ajudar meus irmãos que ainda não sabem muito bem sobre Ele?
Ao ler o texto de Atos, percebo que, depois de Apolo ter ido à casa de Priscila e Áquila, ele se tornou um apologeta mais eficiente porque estava melhor preparado, visto que a ele foi explicado com mais exatidão o caminho de Deus (cf. 18.26).
Querendo ele ir para a Acaia, os irmãos o encorajaram e escreveram aos discípulos que o recebessem. Ao chegar, ele auxiliou muito os que pela graça haviam crido, pois refutava vigorosamente os judeus em debate público, provando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo (Atos 18:27-28).
Note que Apolo não combatia os equívocos doutrinários somente porque gostava, como os gregos, de discutir. Apolo auxiliava os crentes com seu conhecimento, agora maior do que somente a revelação veterotestamentária; agora, não somente um conhecimento “suficiente”, mas profundo.
Espero que esta aplicação leve todos os cristãos a se desenvolverem continuamente no conhecimento da Palavra de Deus. Oro, igualmente, para que as “Priscilas e os Áquilas” estejam dispostos a acolher e ensinar potenciais pregadores da Palavra de Deus. Oro para que os Apolos de hoje sejam humildes e reconheçam a necessidade de aprender crescente e constantemente sobre o Senhor dos Senhores.
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[1] Não tenho dúvidas que, hoje, não existem crentes sem a habitação do Espírito Santo. Todavia, além de considerar a transição da Antiga Aliança para a Nova Aliança no texto de Atos, existe um propósito especial e singular para que o Espírito Santo estivesse em cada um daqueles que o texto já afirmou serem eles discípulos.
[2] Para exemplificar a questão, pergunto-lhe: qual a raiz quadrada de 9. Em certa ocasião, quando falava sobre este texto, fiz essa pergunta e todos, sem exceção, responderam 3. A resposta está exata, porém, incompleta. A resposta plena deve ser mais ou menos 3, visto que -3 x -3 = 9 (também).
Fonte dos comentários: http://www.preceptaustin.org/
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