A presente série nada mais é do que o artigo publicado (dividido em partes) pela revista teológica VOX SCRIPTURAE (5:1 – Março de 1995; 43 – 70) intitulado A Questão do Homossexualismo, escrito por Carlos Osvaldo Pinto e Luiz Sayão.
Introdução
Há algum tempo, muitos tiveram o privilégio de ouvir o Pr. Nivaldo Nassif na conferência missionária no Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV). Ele relatou, de maneira emocionante, algumas das oportunidades que ele e membros da Comunidade Evangélica Nova Aurora (CENA) tiveram de ministrar o amor de Cristo a prostitutas e travestis da chamada Boca do Lixo, no centro da maior cidade do Hemisfério Sul, e de ver vidas milagrosamente transformadas pelo poder do evangelho.
A missão levada a cabo por esses irmãos é dramática por dois motivos. Em primeiro lugar, porque vai de encontro à apatia, e até mesmo ao cinismo da parte da população evangélica, que mantém os homossexuais à distância enquanto se justifica dizendo que eles não querem nada com o evangelho. Em segundo lugar, porque detona as alegações de alguns pró-homossexuais de que homossexualismo é uma questão de genética e não de escolha, e que portanto evangelizá-los e apresentar uma possibilidade de mudança de vida é seria um “terrorismo psicológico”.[1]
É possível que essa abordagem pareça simplista ao leitor. Se assim for, que seja! A questão que não pode ser evitada é a invasão de nossa sociedade, mesmo de nossas igrejas, por um número crescente de indivíduos que não apenas alegam ser gays, mas assumem orgulhosa e acintosamente a condição. Em conversas particulares preparatórias para este artigo, dois conselheiros evangélicos de São Paulo, cujos nomes precisam permanecer incógnitos por razões profissionais, afirmaram que cresce dramaticamente o número de pastores protestantes que buscaram tratamento para comportamento sexual alternativo (psicologuês para homossexualismo).
Talvez mais trágico que este último fato seja constatar que muitos crentes e líderes aceitam como truísmo o conceito — defendido por grupos que se denominam “gays cristãos” — de que Deus fez algumas pessoas homossexuais e as aceitará qualquer que seja sua conduta. No pensamento de tais indivíduos, insistir em proibições à prática do homossexualismo é prova de falta de amor e de bitolamento religioso.[2] Num plano mais sofisticado, argumentam que insistir num padrão exclusivamente heterossexual de relacionamento afetivo é desconsiderar: (1) a natureza culturalmente condicionada das passagens bíblicas que tratam do assunto; e (2) a percepção mais profunda que temos hoje sobre a natureza humana e suas múltiplas dimensões de trauma e cura. Alguns, a quem até gostaríamos de atribuir intenções legítimas, advogam a tese de que as Escrituras nunca chegam a condenar o homossexualismo.[3]
É das duas últimas situações que se ocupa o restante da primeira parte do artigo. Ele visa estabelecer de forma sucinta o ensino bíblico sobre o homossexualismo e refutar algumas das alegações de que tal estilo de vida é aprovado (ou pelo menos tolerado) nas Escrituras.
Além disso, parece importante levantar informações relevantes sobre o que a ciência e a história da cultura têm dito sobre o homossexualismo e em que medida elas nos são úteis para a compreensão da questão. Na segunda parte do artigo tais informações serão discutidas e avaliadas.
Finalizando, cremos firmemente que os homossexuais que desejam libertação por meio de Jesus Cristo merecem nossa atenção e ajuda contra toda “repressão” determinista que hostiliza todo aquele que está disposto a mudar de vida para o seu próprio bem. É possível que a grande maioria das pessoas concorde plenamente que esses indivíduos não deveriam sofrer discriminação!
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[1]O termo foi usado pelo Dr. Arnaldo Domingues, médico paulista, num ataque contra o ministério de capelania evangélica no Hospital das Clínicas, São Paulo SP, em carta datada de 27 de outubro de 1993.
[2]Um exemplo marcante, ocorrido há alguns anos, foi a entrevista de Nehemias Marien no programa Jô Onze e Meia (SBT, 26 de maio de 1994), em que o comediante-apresentador parecia defender uma posição de maior seriedade em relação às Escrituras que o entrevistado, que fora apresentado como um pastor evangélico que celebrara o casamento de dois homossexuais. Também, T. D. Perry, The Lord Is My Shepherd and He Knows I’m Gay (Los Angeles: Nash, 1972); e S. Gearheart, ed., Loving Women/ Loving Men: Gay Liberation and the Church (San Francisco: Glide, 1974).
[3]Grupo Gay da Bahia, “Dez Verdades Sobre a Homossexualidade”, panfleto publicado pelo Grupo Gay (Bahia, Brasil). O grupo se auto-intitula a “mais antiga associação de defesa da cidadania dos homossexuais em funcionamento no Brasil”. Nas palavras do folheto: “Jesus Cristo nunca falou sequer uma palavra contra gays e lésbicas. Condenou sim os hipócritas e intolerantes” (p. 1). Tal argumento de silêncio serviria, caso houvesse defensores de tal prática, para legitimar a escravatura, sobre a qual Jesus também nada disse.
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