A presente série nada mais é do que o artigo publicado (dividido em partes) pela revista teológica VOX SCRIPTURAE (5:1 – Março de 1995; 43 – 70) intitulado A Questão do Homossexualismo, escrito por Carlos Osvaldo Pinto e Luiz Sayão. [Leia aqui a Introdução da série] [Leia aqui A questão da homossexualidade no Antigo Testamento] [Leia aqui A questão da homossexualidade no Novo Testamento] [Leia aqui Um pouco de história] [Leia aqui A causa]
O que fazer
Prevenção
Parte deste artigo é inspirado por um pedido de ajuda de um jovem envolvido no homossexualismo que, em aconselhamento pastoral, solicitou ajuda para libertar-se de seu pecado. Numa carta ele afirmou ter sido criado numa igreja batista, e que, mesmo assim caiu em tal situação. A carta também dizia: “Eu quero ser liberto, e não importa o que eu tenha que fazer…” Aquele jovem suplicou que se falasse mais sobre o problema, pois ele tinha consciência de que a ocorrência de casos de homossexualismo no próprio meio evangélico era maior do que se podia imaginar. Por outro lado, fiquei muito feliz ao receber o convite de casamento (heterossexual!) de um moço, ex-travesti, convertido há vários anos, e obreiro em uma instituição evangélica. Em vista disso e de tudo que temos visto, tentaremos apresentar alguns conselhos:
- Desenvolver ministério de família. A ênfase demasiada num evangelho que enfatiza a relação do indivíduo isolado com Deus, pode deixar de lado os relacionamentos com o próximo/familiares. Nasce aí a oposição família/igreja. Ser pai e mãe precisam ser vistos como ministérios importantíssimos. Ninguém pode ser espiritual e atuar na igreja, sem antes cuidar bem de sua casa (1 Tm 3:5). Os pais precisam criar um ambiente saudável para o crescimento dos filhos e exercer disciplina e amor no lar.
- Conscientização. Falar mais a respeito do problema, conscientizando o povo de Deus da realidade e do perigo do homossexualismo. As pessoas cuja postura podem estar favorecendo tal resultado precisam ser esclarecidas. Por exemplo, a mãe que sofre com um marido difícil não deve descarregar a ira contra o marido perante seus filhos, tornando-os aliados contra o pai.
- Trabalhar as especificidades. Conforme descreveu Edgar Morin,[1] vivemos numa época onde o feminino tem certa preponderância na sociedade. Fora dos ambientes esportivos, há pouco espaço para a manifestação do masculino exclusivo no mundo moderno. Há uma cultura do neutro, conforme percebeu Charles E. Winick. Ele compara nossa cultura com os antigos gregos e observa: “Os atenienses de períodos posteriores acreditavam não haver diferença de princípio ou linha divisória entre homens e mulheres e que nada era exclusivamente atraente para um sexo ou repelente para o outro”.[2] Há uma ênfase naquilo que é igual no homem e na mulher, e repudia-se qualquer coisa que seja “só de homem” ou “só de mulher”. Tais linhas divisórias são vistas como “preconceitos”. É fato que homem e mulher compartilham de muitas coisas, do contrário a comunicação entre eles seria impossível. Todavia, há elementos pertinentes à psicologia masculina e feminina que dizem respeito ao seu universo particular. Não há nada de errado com eles! A afirmação da identidade sexual de um menino ou menina tem a ver com o fato de fazerem certas coisas específicas de seu sexo. Por isso a igreja deve entender que não possui apenas pessoas em seu reduto, mas sim, homens e mulheres. Enfatizar demais as diferenças traz problemas (feminismo e machismo), mas enfatizar demais o campo intersecção também traz e trará problemas. A dificuldade específica que se enfrenta na igreja é que, por várias razões, tradicionalmente ela se mostra como um contexto de melhor expressão feminina. As sociedades femininas funcionam bem enquanto o trabalho masculino é difícil; os líderes falam da dificuldade de arrebanhar os homens e fazê-los atuar; o número de mulheres convertidas é bem maior do que o de homens; as moças sem namorado crente são sempre um desafio para os pais e pastores. Por que isso acontece? Há duas opções: ou as mulheres são “espiritualmente superiores” aos homens, ou o ambiente psicológico das igrejas não consegue atingir a mentalidade masculina. Evidentemente, a segunda opção é mais sensata. Logo é preciso criar atividades e reuniões onde os homens também se sintam à vontade. Algumas diferenças interessantes são: os homens costumam ser frios e calculistas, as mulheres mais emotivas e intuitivas; os homens são mais retraídos e falam pouco de si, as mulheres são mais sociáveis e falam mais facilmente de seus problemas; os homens gostam mais de brincadeiras mais agressivas (aceitam sujar-se na lama, contam piadas, são mais irônicos), as mulheres gostam de brincadeira românticas, que envolvem curiosidade (não costumam contar piadas nem gostam de apelidar e ironizar). Evidentemente são distinções genéricas. Finalizando, se não houver um ambiente propício para a manifestação de uma masculinidade ou feminilidade, a igreja poderá ser palco de pessoas “mais neutras”.
- O cuidado dos filhos. Vivemos num tempo em que criança tornou-se sinônimo de trabalho e canseira. Logo, muitos filhos são deixados com qualquer pessoa desconhecida e com qualquer “amigo”. É preciso lembrar que tem se multiplicado o número de crianças que têm sido abusadas, especialmente de modo homossexual. Assim, os pais precisam ter cuidado com respeito a tal possibilidade. Uma experiência desse tipo na infância tem conseqüências tremendas, algo que qualquer consultório pastoral pode atestar.
Terapia
Tem sido relativamente fácil comentar e analisar as possíveis causas do homossexualismo, mas parece bem mais difícil levar alguém a sair de tal situação. Esperamos que alguns conselhos sejam úteis nesse sentido.
- O trabalho de recuperação sempre será a longo prazo. Soluções instantâneas dificilmente ocorrerão. É necessário paciência e trabalho árduo.
- O conselheiro deve levar o aconselhado a ter esperança de mudança. Não se deve permitir uma postura do tipo “eu sou assim mesmo”.
- O aconselhado deve saber que suas tendências e práticas passadas o farão viver em constante luta. Ele precisa saber que assim como percorreu um caminho de ida para o homossexualismo terá que trilhar um caminho de volta, que será difícil, mas vitorioso.
- A questão deve ser posta como pecado. Atenuando a realidade do pecado não se cura o problema. Conforme percebeu Lutzer, ninguém se arrepende plenamente enquanto não compreende que é responsável por sua incapacidade de obedecer a Deus.[3]
- Deve-se “tirar as coisas do fundo do baú”. As amarguras e iras profundas precisam ser reveladas, reconhecidas e tratadas pela graça de Deus.
- Em alguns casos há um componente espiritual demoníaco. Não que seja a causa fundamental, mas que tem participação na escravidão à homossexualidade. Os conhecidos exus, conforme se autodenominam, “pomba-gira”, “maria-padilha” , que são demônios, devem ser expulsos em nome de Jesus, para que haja uma libertação da pessoa.
- A necessidade de amor. Conforme percebeu Paul Morris, os homossexuais estão procurando ser amados.[4] Tal busca manifesta-se numa forma de amor inadequada e contra a natureza, portanto nunca satisfatório. Ele precisa reconhecer que Deus, apesar de detestar seu pecado, o ama profundamente e quer libertá-lo. É preciso criar um contexto em que o aconselhado possa ser tratado com afeto masculino normal, sendo tratado como homem. Não se deve permitir o isolamento do aconselhado.
- Por fim, o aconselhado deve reconhecer que a reação precisa partir conscientemente dele. Se ele errar, vamos começar de novo. Cada batalha precisa ser vencida cada dia. Eu venci hoje, amanhã eu vencerei de novo e assim por diante.
Conclusão
O objetivo deste artigo foi estabelecer de forma sucinta o ensino bíblico sobre o homossexualismo, refutar algumas das alegações de que tal estilo de vida é aprovado (ou pelo menos tolerado) nas Escrituras, compreender melhor o fenômeno e apresentar uma ajuda relativa ao problema.
As passagens que direta ou indiretamente tocam no assunto foram observadas e os argumentos empregados por teólogos e leigos favoráveis ao estilo de vida chamado “gay” foram considerados. Parece a estes autores ser impossível, com base nas Escrituras, justificar a prática do homossexualismo como um estilo de vida condizente com a condição de cristão, no sentido neotestamentário da palavra.
Isto obviamente não significa que cristãos genuínos, saídos de tal contexto de vida (cf. 1 Co 6:9), serão automaticamente libertados dos problemas inerentes a tal prática. Conselheiros apontam os sentimentos de culpa, a incapacidade de confiar, a ansiedade e a mentira como problemas crônicos e generalizados, resultantes de envolvimentos homossexuais prolongados. Ainda que convicta da natureza anti-bíblica do estilo de vida homossexual, a igreja não pode negar sua ajuda aos que sinceramente a busquem, especialmente aos que afirmam ter confiado em Jesus Cristo como Salvador. Paulo evidentemente conhecia alguns homossexuais que haviam sido transformados (1 Co 6:10-11). Há poucas estatísticas sobre a percentagem de cura de homossexuais tratados por evangélicos, mas mesmo que elas surgam e os números não satisfiçam as expectativas da pessoa ou instituição que promoveu o tratamento, as palavras de Cranfield podem servir de incentivo para ambos os lados dessa delicada questão:
É significativo que o mesmo verbo grego traduzido por “entregar” seja usado em 8:32 a respeito de Deus entregando seu único Filho à morte por nosso amor. Enquanto este fato, de modo algum, põe em dúvida a seriedade do que é significado por “entregar” aqui, ele deveria, com certeza, prevenir-nos contra supor levianamente que a intenção de Paulo era dizer que Deus abandonou estes homens para sempre. O significado de Paulo, sem dúvida, é, antes, que Deus deliberadamente permitiu-lhes seguir seu próprio caminho a fim de que aprendessem a odiar a futilidade de uma vida desviada da verdade de Deus. Foi isso um ato de julgamento e misericórdia de Deus, o qual fere a fim de curar (Is 19:22); e durante todo o tempo do abandono de Deus por eles, Deus continua preocupado com eles e ocupando-se deles.[5]
Ousaria a Igreja de Jesus Cristo fazer menos que isso?
Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém! [Ef 3:20-21, NVI]
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[1]Edgar Morin, Cultura de Massas do Século XX – Neurose, trad. Maura Ribeiro Sardinha (8ª ed., Rio de Janeira: Forense Universitária, 1990) 144.
[2]Winick, Unissexo, 303.
[3]Erwin Lutzer, Aprenda a Viver bem com Deus e com Seus Impulsos Sexuais, trad. Myrian Talitha Lins (Belo Horizonte MG: Betânia, 1984) 84.
[4]Morris, Shadow of Sodom, 155.
[5]Cranfield, Romanos, 44.
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