Por Paul Tripp
Meu filho veio até mim carregando um Novo Testamento dado a ele por um popular ministério de homens. Imprensado dentro das páginas havia fotos e biografias de grandes homens cristãos. Eles eram todos homens de garra. Campeões olímpicos e atletas profissionais. Ele estava numa escola de arte. “Se isto é a definição de um homem piedoso”, disse ele, “eu não tenho uma oração. Onde estão os artistas, os músicos, os autores?”
Ela estava atraída por ele porque não havia muitos jovens interessantes na sua igreja. Ele tinha um bom emprego e aparentava levar a sua fé de maneira séria. Ela pensou que eles tinham concordado em se encontrar na noite de sexta-feira, mas quando ela viu que ele não a contatou durante a quinta-feira, ela o chamou. Ele disse: “Não, você entendeu errado. Eu jamais sairia numa noite de sexta-feira. Esta é a noite em que jogo videogame com meus amigos. Nada pode atrapalhar isto!”
Uma universidade particular local investe alguns dias de sua semana em orientar os calouros em questões de esclarecimento sobre gênero e sexualidade. Estes exercícios têm o objetivo de ajudar os novos universitários a descobrir quem eles realmente são, sem as restrições do que eles foram ensinados que precisavam ser.
O Census Bureau dos Estados Unidos nos diz que uma de cada três crianças nos EUA está crescendo sem uma presença paterna. Milhões de garotos crescem sem ter um pai para fazer aquilo que só os pais podem fazer.
O que todas estas histórias têm em comum? Elas apontam para uma importante conversa cultural que está ganhando espaço, tanto fora como dentro da igreja: A masculinidade corre perigo? Como se parece um homem de verdade? O que podemos fazer em relação a crescente dinâmica cultural da infância prolongada? Quem irá ensinar nossos garotos a serem homens? Ao ensiná-los a serem homens, como nós evitamos os estreitos estereótipos culturais? O que a Bíblia ensina sobre a distinção de gêneros? O que ela ensina sobre um homem sendo homem? Quão diferente são os homens das mulheres?
Estes são debates atuais que trazem conclusões que moldarão a vida de milhares de garotos que estão no processo de ser tornarem homens. A conversa sobre “masculinidade” é algo que nenhum cristão sério pode evitar.
LIVROS SOBRE A MASCULINIDADE
A conversação contemporânea sobre masculinidade está acontecendo em uma infinidade de blogs, sites e livros. Talvez o trabalho mais popular e influente sobre masculinidade de hoje seja o “The Art of Manliness”, um site fundado pelo casal Brett e Kate McKay. (Eles também escreveram um livro com o mesmo título, com características do material similares ao do site).
“The Art of Manliness” oferece a oportunidade de, num volume, ter dicas de como permanecer em forma, vestir-se bem, libertar o seu homem da casa e muitas outras habilidades que todo homem supostamente necessita. Os artigos apresentam instruções passo-a-passo de como amarrar o seu pescoço com nós especiais, de como se barbear como o seu avô, de como dar um abraço de homem, de como ensinar seu filho a andar de bicicleta e muito mais.
Mas eu fico triste quando leio este trabalho, e eu vou dizer-lhes o motivo: Eu aprendi muitas destas coisas (pelo menos as mais práticas) com o meu pai. Ele me ensinou como devo engraxar o meu sapato. Ele me ensinou a olhar nos olhos de um homem quando eu aperto sua mão. Ele me ensinou o valor de um trabalho duro. Ele me ensinou como grelhar uma boa carne. Eu me pergunto se o motivo pelo qual o site “The Art of Manliness” é tão popular é porque os pais não estão mais passando essas coisas para os seus filhos.
Em anos recentes, editoras evangélicas têm liberado diversos livros que tocam nos problemas e desafios da masculinidade:
- Jonathan Catherman’s The Manual to Manhood: How to Cook the Perfect Steak, Change a Tire, Impress a Girl, & 97 Other Skills You Need to Survive (Revell)
- Darrin Patrick’s The Dude’s Guide to Manhood: Finding True Manliness in a World of Counterfeits (Thomas Nelson)
- Stephen Mansfield’s Mansfield’s Book of Manly Men: An Utterly Invigorating Guide to Being Your Most Masculine Self (Thomas Nelson)
- Eric Mason’s Manhood Restored: How the Gospel Makes Men Whole (B&H)
Se você perguntar a Darrin Patrick (pastor da Journey Church em St. Louis) o que faz um homem ser homem, ele não te dará uma lista de habilidades. Não, ele te dirá imediatamente que é tudo sobre caráter. Você respeita um homem de verdade por quem ele é, e não por causa do que ele tem habilidade para fazer.
Patrick captura a essência da masculinidade com frases cativantes: “Faça isso”, “Treine, não somente tente”, “Sinta algo sem chorar por tudo”, “Ache o campo de batlha certo”. Cada uma destas frases é uma porta aberta para a discussão sobre áreas cruciais do caráter na vida de todo homem sério. Patrick diz, de centenas de modos diferentes, que o que conta é o que está no interior do homem, não importa o quanto ele saiba como amarrar o nó de gravata em seu pescoço.
Stephen Mansfield, autor de um best-seller e biógrafo, vê masculinidade em termos fortes, ativos e heróicos. Seu livro é construído em quatro máximas: Homens de verdade fazem coisas de homens, homens de verdade tomam conta de seus campos, homens de verdade constroem coisas de homens e homens de verdade vivem para a glória de Deus.
Mansfield ilustra estas máximas com uma galeria de homens que foram heróis: Winston Churchill, George Patton, Jedediah Smith e Theodore Roosevelt, para listar alguns. A lista de traços de caráter de Mansfield é bastante útil e seus esboços biográficos são convincentes e motivantes. Mas, no fundo, eu continuava pensando: “Se estes homens são exemplos de homens ‘de verdade’, então eu estou frito! Eu nunca irei corresponder.
Eric Mason é pastor de uma igreja urbana na Filadélfia, localizada em um bairro difícil. Ele é tanto uma testemunha de primeira-mão de como a masculinidade está quebrada, quanto um campeão em articular e conduzir a reconstrução da mesma. Ele passeia pelas calçadas todos os dias, e vê evidências do poder destrutivo do pecado na vida de garotos e jovens adultos.
Esta experiência o convenceu que somente a graça de Deus é capaz de mudar a maré. De muitas maneiras, o conselho de Mason não é o contrário do que Patrick ou Mansfield pensam. Mas o livro dele se destaca ao afirmar que “algo forte foi quebrado no homem e somente a graça de Deus pode restaurar isso” em todas as páginas de forma enfática. Manhood Restored não é um trabalho de análise cultural, mas o apelo sincero de um pastor pelo cuidado de ver os seus vivendo o chamado viril (de viver como homem) mais uma vez.
UMA RESPOSTA BÍBLICA
Eu gostaria de bisbilhotar uma conversa entre Brett e Kate McKay, Darrin Patrick, Stephen Mansfield e Eric Mason para escutá-los debatendo sobre o que faz um “homem de verdade”. Todos eles estão preocupados com o presente estado do “domínio do homem”. Mas eles abordam o tópico de diferentes lugares e com prioridades muito diferentes. Seria uma conversa informativa e carregada, no mínimo.
Bem, eu provavelmente nunca conseguirei juntá-los num mesmo espaço, mas ao examinar os seus trabalhos – examinando ao lado da Escritura, o mais importante recurso no significado e propósito da masculinidade – cheguei às seguintes conclusões:
Ignorar este problema é ridículo
O trabalho de cada geração de cristãos é examinar problemas culturais significantes através das lentes da cosmovisão do Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Nosso trabalho é trazer sanidade, que só pode ser encontrada na Escritura. O debate sobre masculinidade realmente precisa de uma infusão de sabedoria bíblica.
Deus criou o homem e a mulher para serem diferentes
Para o crente na bíblia, isto parece óbvio. Mas a nossa cultura não mais assume esta verdade. Em meio ao debate furioso da sociedade sobre gênero e identidade sexual, não é difícil ver que muitos homens jovens carecem de força de influências na formação masculina de suas vidas, que a geração passada aproveitou. Gênero não importa. Masculinidade e feminilidade importam porque o Criador decidiu que isso deve importar. Por projeto, a própria imagem de Deus plantada em todos os seres humanos tem uma expressão masculina e feminina.
É uma rejeição ao plano de Deus um homem rejeitar sua identidade como homem
A indefinição sobre distinções de gênero e papel é, porém, um outro lugar onde a cultura moderna está se afastando do plano do Criador. Se nós, como uma cultura, temos nos afastado de uma crença popular sobre a existência de Deus, é realmente surpreendente que nós nos tornemos menos comprometidos com o seu plano para a humanidade? Estando consciente ou não, é um ato de adoração o homem cultivar e celebrar sua masculinidade. Fazendo isso, ele está curvando o seu joelho para a escolha sábia do seu Criador.
A cultura cristã machista não é a solução
Se você pesquisar no Google “Jesus tatuado”, você verá como muitos cristãos escolheram responder a uma cultura que parece ter a masculinidade sob o cerco. Dar um Jesus musculoso e tatuado para jovens adorar distorce tanto a natureza de Jesus quanto a natureza da masculinidade. É preciso uma física e limitada definição do que é um homem de “verdade”, além de tratar o Messias com um corpo sarado. Isso tende a introduzir outra forma de confusão cultural para a atual geração de jovens cristãos.
A Bíblia não diz muito sobre o que faz de um homem um homem.
Talvez muitos de nós gostaríamos de abrir o “Livro do Homem” no capítulo 1 e verso 1 e começar a ler sobre o que realmente faz de um homem um homem. Mas a Bíblia não diz muito sobre o assunto. A Bíblia claramente distingue homem de mulher. Ela tem coisas essenciais a dizer sobre o projeto de Deus para as funções do homem e da mulher. Mas quando chegamos aos grandes detalhes de masculinidade e feminilidade, a Bíblia é largamente silenciosa. O silêncio não é uma omissão trágica, mas existe por intenção divina. A Palavra de Deus realmente nos dá tudo que precisamos “para vida e piedade”. Neste caminho, a Bíblia é compreensiva, mas não é exaustiva. É sempre perigoso procurar em lugares em que ela é silenciosa.
Habilidades de homens não fazem um homem
Certamente é útil saber como manter um diário, sobreviver no deserto, manter-se em forma, planejar um encontro, cozinhar uma carne e fazer alguns reparos. Porém, dominar estas artes não faz de você um homem no sentido mais profundo. Meu pai me ensinou como polir os meus sapatos, como dar nó em gravata e como combinar uma camisa com um terno. Ele me ensinou como me barbear e também sobre a importância do desodorante e perfume. Ele me ensinou a olhar para os olhos das pessoas enquanto dou um aperto de mão, assim como manejar e disparar, de maneira segura, uma pistola, como procurar um emprego e como manter o emprego que já tenho. Mas ultimamente ele tem vivido uma vida dupla, e me deixou despreparado para as mais pesadas responsabilidades da masculinidade.
Em relação aos mais profundos assuntos do coração, homens e mulher são iguais
Como eu li “The Dude’s Guide to Manhood” (um livro que é muito útil para todos os homens lerem), me atingiu o fato de que os conselhos de Patrick se aplicavam em cada linha: A maioria do que ele corretamente diz que faz um homem de sucesso também faz uma mulher de sucesso. Os seus conselhos para os homens são para eles serem “determinados, ensináveis, disciplinados, trabalhadores, contentes, devotados, conectados, emocionalmente decentes, perdoados e perdoadores. ” Estes também não são bons conselhos para as mulheres? O pecado direciona a todos nós sermos egoístas, preguiçosos, mandões e nos tira a perseverança, a paciência e o amor. Estas coisas roubam os homens de suas masculinidades, mas também enfraquecem as mulheres.
O Evangelho de Jesus Cristo é a solução
A pergunta sobre a verdadeira masculinidade, em última análise, nos leva para a cruz de Jesus Cristo. Nós corremos para Jesus não somente porque ele é o melhor exemplo de como um homem é, mas porque, mais importante ainda, Ele é o nosso Salvador.
Este é o ponto de partida: Como um homem, eu não somente preciso ser resgatado das pressões, deficiências, prejuízos e desequilíbrios da cultura dominante, mas também resgatado dos meus pecados – de mim mesmo.
É humilhante notar que o grande perigo de todos os homens existe dentro deles, e não fora deles. O pecado me faz ser menos do que o homem que Deus projetou para ser, e por causa disso eu preciso de graça transformadora e perdoadora.
Os homens da próxima geração talvez precisem ser desafiados a serem homens de verdade, mas mais do que tudo, eles precisam ser introduzidos ao Salvador, o único que pode fazer isso possível.
Tradução de Lucas Machado.
Original em CP Opinion, What Makes a Man a Man?
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