Por Paul Tripp

Estamos dando sequência a uma série de artigos sobre identidade, examinando os lugares perigosos nos quais depositamos nossa identidade, em vez de fundamentá-la “em Cristo”. Semana passada, consideramos o erro de nos definirmos pelos relacionamentos que temos, e na anterior, o perigo de colocarmos nossa identidade nas conquistas.

Hoje, quero abordar uma terceira armadilha com vocês, usando, para isso, o exemplo de um homem a quem vamos chamar de “Joe”. O grande problema dele é ter baseado sua identidade em seu desempenho espiritual.

Quando Joe conheceu a Jesus como Salvador, ele foi tomado de um sentimento de desesperada necessidade da graça de Deus em sua vida. Ele era sensível ao próprio pecado e constantemente expressava gratidão pela misericórdia e paciência que o Redentor renovava sobre ele, dia após dia.

E uma vez que ninguém é mais gracioso do que aquele que sabe o quanto precisa, ele mesmo, de graça, Joe era paciente com as pessoas que estavam enfrentando dificuldades. Ele sabia que elas não eram em nada diferentes dele, e que era a graça de Deus que o sustentava.

Mas à medida que Joe envelhecia, algo começou a mudar no coração dele. Ele começou a sentir que merecia ser filho de Deus. Aos poucos foi se orgulhando do conhecimento teológico que fora acumulando e demonstrava cada vez menos paciência para com os cristãos que não se sentiam estimulados a amadurecerem sua fé. Ele se sentia superior aos irmãos e irmãs que lutavam duramente para se manterem motivados a participar dos cultos e pequenos grupos.

Quando Joe dava suas ofertas no culto de Domingo, ficava de olho na congregação para flagrar irmãos que não contribuíam. Ele amava mostrar às pessoas os álbuns de fotos das muitas viagens missionárias curtas que ele havia feito, e não conseguia entender como podia haver pessoas que nunca estavam dispostas a dar uma semana de suas férias para servir a Deus. O antigo Joe, afetuoso e grato, deu lugar a um cristão severo e autoconfiante.

Qual era o grande problema de Joe? Ele deixou de ter sua identidade definida “em Cristo” e a transferiu para seu desempenho espiritual pessoal. Embora não percebesse, Joe estava usando cada atividade da vida cristã como uma oportunidade de somar mais um ponto no placar de sua justiça própria.

Contudo, antes de condenarmos Joe, vamos, humildemente, considerar que podemos ser mais parecidos com ele do que imaginamos. É tentador olhar para a história desse personagem e pensar “Deus, obrigado porque eu não sou assim”, como o fariseu disse em Lucas 18, mas não era exatamente isso o que Joe costumava dizer para Deus? Ele não estava justamente dizendo que não precisava tanto da graça de Deus quanto os demais?

Irmãos e irmãs, será que, ao nos envolvermos em milhares de atividades na igreja, estamos fazendo isso mais para cumprir tarefas do que como forma de expressar um coração amoroso e uma atitude de adoração? Será que as coisas que dizemos e fazemos são para Deus ou revelam nossa identidade depositada no lugar errado?

Eis o que você precisa perguntar a si mesmo: “sou tão necessitado da graça de Deus hoje quanto no dia em que recebi Jesus como Salvador?” Será que há, em minha vida, evidência de religiosidade, legalismo e dureza de coração? Descobrir que estamos deixando um legado digno de um fariseu tem um gosto muito amargo, mas Deus nos transforma, mesmo quando achamos que não precisamos da graça Dele.

Não baseie sua identidade em seu desempenho espiritual pessoal. Cristo veio ao mundo exatamente porque nosso desempenho não é suficiente! Em vez disso, descanse na obra perfeita de Cristo em seu favor e desfrute de um relacionamento de humildade, amor e gratidão para com Deus e seus irmãos.

Tradução de Eduardo Tavares
Original em Paul Tripp Ministries