Por Paul Tripp
Foi a situação mais difícil que eu enfrentei na minha juventude.
No verão após meu primeiro ano do Ensino Médio, tive uma lesão séria no joelho durante um treino de futebol americano e nunca mais voltei a jogar. Não que eu fosse um astro do futebol, mas colocar aqueles equipamentos e o capacete e correr para o campo eram parte da minha identidade.
Eu cresci em uma família que dava muito valor aos esportes. Meu pai havia sido um atleta bem-sucedido e sempre nos incentivava a darmos nosso melhor. E eu também sabia que ser do time de futebol significava ser popular no colégio, então, lá estava eu, um aluno veterano, pronto para liderar o time à vitória diante da minha cidade toda, dos meus amigos, da minha família. Seria um ano de glórias!
Mas, em um instante, tudo desmoronou. Eu me sentia morto, mas o grande problema é que ainda estava vivo. E eu não só teria que encarar minha própria “morte”, como também precisaria descobrir um novo jeito de viver ao passar por tudo isso. Tudo parecia muito injusto, esmagador, impossível de suportar. Minha identidade havia sido roubada de mim, e eu não sabia como consegui-la de volta.
Talvez você possa estar pensando que tudo não passava de um sonho adolescente bobo, mas eu não acho. Na verdade, após anos aconselhando jovens, adultos e idosos, percebi que muitos de nós definimos nossa identidade em qualquer outra coisa que não o Criador. Só que a criação jamais foi planejada para carregar o fardo de definir quem somos. Então, em algum momento, os sonhos e desejos que, equivocadamente, constituem nossa identidade vão vir abaixo.
Por que ficamos desencorajados? Por que ficamos deprimidos? Por que ficamos desapontados? É porque, basicamente, tentamos achar uma identidade alternativa nesse mundo caído. E o assustador é que, muitas vezes, essa identidade alternativa vem com uma mudança invisível e imperceptível em nossos corações.
Nas próximas sete semanas, vou explorar esse conceito de “amnésia de identidade”. Nós iremos considerar quatro áreas nas quais é comum criarmos uma identidade alternativa e descobrir três poderosos motivos para encontrarmos nossa identidade em Deus, o Criador, Soberano e Salvador.
Para concluir o pensamento dessa semana, eu apenas gostaria de definir biblicamente essa ideia de amnésia de identidade. Vamos olhar para 2 Pedro 1:8-9. “Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. Todavia, se alguém não as tem, está cego, só vê o que está perto, esquecendo-se da purificação dos seus antigos pecados.” (NVI)
Pedro mostra uma clara relação de causa-e-efeito no coração de todos os crentes: nós nos tornamos ineficientes e infrutíferos quando nos esquecemos de quem somos e do que nos foi dado em Cristo.
Eu pergunto a você hoje: de que maneira você vem se esquecendo de quem você é e do que você recebeu em Cristo? E a óbvia pergunta que vem em seguida: em que parte da criação seu coração está tentando encontrar identidade, em vez de buscar isso no Criador?
É por isso que a comunhão com outros crentes é tão imprescindível. Quando nossos olhos espirituais estão cegos, a amnésia de identidade raramente é perceptível, então, precisamos da exortação amorosa dos nossos irmãos, para nos prevenirmos dos enganos do pecado e do endurecimento do nosso coração (Hebreus 3:13).
Não há maior segurança e alegria do que encontrarmos nossa identidade em Cristo – nós precisamos apenas nos lembrarmos disso. Então, hoje, humildemente admita que você está com amnésia. Deus está perto, e está agindo; e ele não vai parar de trabalhar até que a obra esteja concluída.
Tradução de Eduardo Tavares
Original em Paul Tripp Ministries
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