Há pouco tempo, uma amiga e irmã em Cristo escreveu no seu mural do Facebook o seu sentimento em relação à quantidade de discordância doutrinária entre os cristãos. Ainda que eu também me entristeça como isso, o cerne da questão para mim é outro: a forma como os cristãos apresentam as suas discórdias.
De 2010 a 2014 eu servi ao Senhor por meio de uma agência missionária interdenominacional. Ali fui positivamente desafiado a pensar biblicamente em como aplicar às verdades de Deus em meio a tanta diferença teológica. Meus esforços miravam o que disse Larry Moyer, fundador e CEO do EvanTell:
Ao responder àqueles que se opõem à sua mensagem, tenha uma atitude humilde, não um argumento hostil.
Não foram poucas as vezes que Larry Moyer repetiu essa frase enquanto pregava para os alunos de Dallas Theological Seminary. Segundo ele, a frase representa muito bem o cerne da questão de 2Timóteo 2.22-26:
Fuja dos desejos malignos da juventude e siga a justiça, a fé, o amor e a paz, juntamente com os que, de coração puro, invocam o Senhor. Evite as controvérsias tolas e fúteis, pois você sabe que acabam em brigas. Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do Diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade. (NVI)
É inegável que uma das marcas da época em que vivemos é a quantidade de diferentes opiniões. Isso não é diferente no meio evangélico. Pense, por exemplo, nas opiniões sobre escatologia (doutrina das últimas coisas). Pense nas questões que envolvem a soteriologia (doutrina da salvação). Pense em algo como a educação de filhos. O que você crê sobre o ensino bíblico da disciplina física? Basta revelar sua resposta para que alguém discorde da sua opinião, além de rotulá-lo como insensível, inflexível, frouxo, preguiçoso, violento, abusivo, herege, anti-bíblico, ou alguma outra coisa do infame gênero. Ainda que divergir de opinião não seja um problema em si, a forma, ou melhor, a atitude como muitos cristãos o fazem não reflete o ensino de Deus e compromete a proclamação do Evangelho.
Como responder àqueles que se opõem à sua mensagem apropriadamente?
Timóteo recebeu sua segunda carta do apóstolo Paulo quando tinha aproximadamente 35 a 40 anos. A primeira orientação deste texto, fuja dos desejos malignos da juventude, ensina o jovem pastor, ou orientador de pastores, a não ser pretencioso, arrogante ou presunçoso, possível pecado na vida de jovens nesta posição. (Clique aqui para saber mais sobre o significado de paixões da mocidade ou desejos malignos da juventude, o qual nada tem a ver com cobiça – desejos sexuais.) Nenhuma apresentação da Verdade deve ser feita sob qualquer pretexto de vaidade. Fuja disso, exclama o experiente apóstolo Paulo a seu verdadeiro filho na fé Timóteo, menos experiente no ministério.
Orgulho e ministério não podem coexistir. – Larry Moyer
Em seguida, Paulo aponta quatro características que, ao contrário de serem evitadas, precisam ser buscadas:
- Justiça: o que você faz e como você faz devem ser para honrar o Senhor;
- Fé: dependa de Deus;
- Amor: ame inclusive seus inimigos – eis o amor de Jesus Cristo;
- Paz: busque a unidade pacífica em meio a diversidade de opiniões.
O apóstolo Paulo então apresenta outro aspecto que precisa ser evitado: Evite as controvérsias tolas e fúteis, pois você sabe que acabam em brigas. Em outras palavras, fuja das conversas “sem instrução, sem educação, e com especulações estúpidas” (Moyer).
Note que as palavras de Paulo não apontam para pessoas sendo tolas e fúteis, mas para as controvérsias. Neste contexto, nossa tarefa não é evitar as pessoas, mesmo porque, elas foram pegas pela armadilha do Diabo. Devemos evitar as brigas, mas buscar corrigir as pessoas que estão enganadas, para que, em unidade, façamos a vontade do Senhor.
Cristãos que sabem dialogar são, segundo Paulo, conhecidos por sua (1) amabilidade a todos, (2) aptidão de ensinar e (3) paciência. Evitam o sarcasmo e abordam com gentileza. Evitam o debate e demonstram um genuíno desejo de conduzir as pessoas à verdade bíblica. Evitam o desrespeito e possuem discernimento de quando e o que falar, cientes que não são conhecedores de todas as coisas. Repetindo as palavras de Larry Moyer:
Ao responder àqueles que se opõem a sua mensagem, tenha uma atitude humilde, não um argumento hostil.
Parece-me que poucas pessoas entendem que controvérsias desta natureza não são meramente intelectuais, mas especialmente espirituais. Pessoas caem na armadilha do Diabo e, para ajudá-las, devemos ser instrumentos de Deus para que Ele conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade.
Não se iluda. Seu volume de voz, sua eloquência e seus títulos não são os agentes de uma genuína mudança. Somente Deus é capaz de causar a mudança necessária para que tais pessoas conheçam a Verdade.
Não há um versículo na Bíblia que diz traga o perdido para Cristo, não há um versículo sequer. A Bíblia diz, traga Cristo para o perdido. (…) Apenas Ele é capaz de mudar a mente de alguém.” – Larry Moyer
Enquanto alguns irmãos e irmãs em Cristo focam nos argumentos das controvérsias, Deus foca na atitude que Seus filhos e filhas devem ter ao dialogar suas diferenças. Nosso foco deve estar em nossos corações, não em nossos lábios. Afinal de contas, as coisas que saem da boca vêm do coração (Mc 15.18). Ao discutir / debater / dialogar, não negligencie a dignidade daquele que argumenta.
Deus preza por Seus filhos e por aquilo que eles declaram como verdade. Que Ele nos perdoe por todas as vezes que usurpamos o poder e a suficiência da Palavra de Deus (Rm 1.16; Sl 19) ao nos esquecermos ou ignorarmos a forma correta de dialogar a Verdade e discordar do nosso próximo. Que Ele nos ajude a sermos melhores representantes do único Salvador, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Texto baseado no sermão se Larry Moyer (clique aqui para vê-lo).
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