Por John MacArthur
Como o cristão deve responder ao Halloween? É responsável os pais permitirem que seus filhos participem das doçuras-ou-travessuras? E o que dizer do cristão que se recusa a participar de qualquer celebração nessa época – será que ele está exagerando?
A Origem Pagã do Halloween
O nome “Halloween” vem da celebração do Dia de Todos os Santos que foi criado no início da igreja cristã, um dia separado para a lembrança solene dos mártires. All Hallows Eve (“A noite anterior ao dia de todos os santos” – All Hallows Evening), tornou-se, então o momento dessa lembrança. “All Hallows Eve” assumiu, então, uma forma contraída de pronúncia “Hallow-e’em”, e acabou se tornando “Halloween”.
À medida que o cristianismo caminhou pela Europa, ele colidiu com culturas indígenas pagãs e confrontou costumes estabelecidos. Os feriados e festas pagãs estavam tão enraizados que novos convertidos os tinham como pedras de tropeço para sua fé. Para lidar com esse problema, a igreja organizada deslocava um conhecido feriado cristão para um lugar no calendário que desafiaria diretamente um feriado pagão. A intenção era opor-se às influências pagãs e fornecer uma alternativa cristã. Mas, na maioria das vezes a igreja conseguiu apenas “cristianizar” um ritual pagão – o ritual continuava sendo pagão, mas era misturado com o simbolismo cristão. Foi exatamente isso que aconteceu com a Noite que Antecede o Dia de Todos os Santos (All Saints Eve) – ela foi a alternativa original para o Halloween!
O povo celta da Europa consistia de druidas pagãos cujas principais celebrações eram marcadas pelas estações do ano. Ao final do ano na Europa do Norte, as pessoas se preparavam para sobreviver ao inverno apressando as colheitas, abatendo o rebanho, sacrificando animais que não sobreviveriam. A vida desacelerava à medida que o inverno trazia trevas (dias mais curtos e noites mais longas), solo sem possibilidade de cultivo e morte. A imagem da morte, simbolizada pelos esqueletos, caveiras e pela cor preta, permanecem até hoje nas celebrações do Halloween.
A festa pagã Samhain celebrava o final da colheita, a morte e o início do inverno durante 3 dias – 31 de outubro a 2 de novembro. Os celtas acreditavam que a cortina que separava os mortos dos vivos, erguida durante a festa de Samhain, permitia que os espíritos dos mortos caminhassem entre os vivos – fantasmas assombrando a terra.
Alguns aderiam à temporada da assombração envolvendo-se com práticas de ocultismo tais como a adivinhação e comunicação com os mortos. Essas pessoas procuravam espíritos divinos (demônios) e os espíritos de seus ancestrais em buscas de previsões do tempo, expectativas de colheita e até previsões amorosas para o ano seguinte. Pescar maçãs com a boca era uma das práticas pagãs usadas para divinizar as “bênçãos” espirituais do mundo sobre o casal.
Outras pessoas concentravam sua atenção mais na morte, no ocultismo, na adivinhação e nos pensamentos de espíritos retornando para assombrar os vivos, algo que serviu para impulsionar superstições e temores fruto da ignorância. Essas pessoas criam que esses espíritos estavam presos à terra até que recebessem um presente adequado de envio – posses, riqueza, alimentos ou bebidas. Os espíritos que não recebiam os presentes adequados atormentariam aqueles que os negligenciaram. O temor do assombramento se multiplicava caso aquele espírito tivesse sido ofendido durante seu período de vida natural.
As pessoas acreditavam que os espíritos presos à travessura assumiam aparências grotescas. Algumas tradições se desenvolveram, sendo que uma delas dizia que vestir uma fantasia semelhante à de um espírito enganaria espíritos que vagueavam para assombrar. Outros acreditavam que os espíritos poderiam ser espantados ao se recortar um rosto assustador numa abóbora (os escoceses usavam nabos) – colocando-se depois uma vela acessa dentro dela – o conhecido jack-o-lantern (“Jack da Lanterna”).
Neste mundo sombrio, supersticioso e pagão, Deus fez brilhar de maneira misericordiosa a luz do evangelho. Os novos convertidos se armaram com a verdade e deixaram de temer os espíritos que retornavam à terra. Na realidade, eles denunciaram a forma de paganismo daquelas pessoas com Deuteronômio 18.10-13:
“Não permitam que se ache alguém no meio de vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês. Permaneçam inculpáveis perante o Senhor, o seu Deus.”
Contudo, os cristãos convertidos encontraram dificuldades para resistir à influência familiar e cultural; eles eram tentados a retornar aos festivais pagãos, especialmente o Samhain. O papa Gregório IV reagiu ao desafio pagão deslocando a celebração do Dia de Todos os Santos no século IX – ele o alterou para 01 de novembro – bem no meio do Samhain.
À medida que os anos se passaram, o Samhain e o All Hallows Eve foram misturados. Por um lado, a superstição pagã deu espaço à superstição cristianizada e forneceu mais lixo para o medo. As pessoas começaram a entender que os espíritos ancestrais pagãos eram demônios e os adivinhos praticavam bruxaria e necromancia. Por outro lado, a festa fornecia grande oportunidade para a farra. O trick-or-treat (doçura-ou-travessura) tornou-se um momento no qual grupos itinerantes de jovens iam de casa em casa juntando alimentos e bebidas para suas festas. Os moradores pão-duros corriam o risco de sofrerem “retaliação” (ou “travessura”) em sua propriedade por parte de jovens alcoolizadas.
O Halloween não se tornou um feriado norte-americano até que os imigrantes europeus das classes trabalhadoras chegaram no século XIX. Enquanto os primeiros imigrantes possivelmente tinham tradições supersticiosas, foram os aspectos maliciosas que atraíram os jovens norte-americanos. Gerações mais novas emprestaram ou adaptaram muitos costumes sem a referência à sua origem pagã.
Hollywood certamente acrescentou à “diversão” uma série de personagens funcionais – demônios, monstros, vampiros, lobisomens, múmias e psicopatas. Isso certamente não beneficiou a mente norte-americana, mas certamente deu dinheiro a muita gente.
A Resposta Cristã ao Halloween
Hoje o Halloween é quase que exclusivamente um feriado norte-americano secular, mas muitas pessoas que o comemoram não fazem idéia de sua origem religiosa ou herança pagã. Isso para não dizer que o Halloween se tornou mais completo. As crianças vestem as mais complexas e trabalhadas fantasias, passeando pela vizinhança em busca de doces, e contando histórias assustadoras umas às outras; mas os adultos normalmente aderem a atos vergonhosos de embriaguez e devassidão.
Sendo assim, como o cristão deve reagir a isso?
Em primeiro lugar, o cristão não deve responder ao Halloween como pagãos supersticiosos. O pagão é supersticioso; o cristão é iluminado pela verdade da Palavra de Deus. Os espíritos demoníacos não são mais ativos e sinistros no Halloween do que em qualquer outro momento normal do ano; na realidade, todo dia é um ótimo dia para Satanás andar ao redor buscando a quem possa devorar (1 Pe 5.8). Mas “Aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Deus já “despojou os poderes e as autoridades” por meio da cruz e “fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles” (Cl 2.15).
Em segundo lugar, o cristão deve responder ao Halloween com uma sabedoria cautelosa. Algumas pessoas temem a atividade de satanistas ou bruxos pagãos, mas os reais incidentes criminosos associados ao diabo são poucos. A grande ameaça do Halloween vem dos problemas sociais que satisfazem a conduta pecaminosa – embriaguez ao volante, vandalismo e crianças sem supervisão.
Como qualquer outro dia do ano, o cristão deve ter cautela como despenseiros fiéis de suas posses e protetores de suas famílias. O jovem cristão deve se manter longe de festas seculares de Halloween uma vez que são lugares propícios para aquilo que é errado. Pais cristãos podem proteger seus filhos mantendo-os bem supervisionados e restringindo o consumo de balas e doces vindos de fontes conhecidas.
Em terceiro lugar, o cristão deve responder ao Halloween com a compaixão do evangelho. Aquele que rejeita a Cristo, o incrédulo, vive uma vida de medo perpétuo da morte. Não se trata apenas da experiência da morte, mas aquilo que a Bíblia chama de “terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10.27). Bruxas, fantasmas e espíritos demoníacos não são assustadores; a ira de Deus desencadeada sobre os pecadores – isso sim é verdadeiramente assustador.
O cristão deve usar o Halloween e tudo que ele traz à imaginação – a morte, superstição, expressões de devassidão – como uma oportunidade para levar o evangelho de Jesus Cristo ao mundo incrédulo. Deus nos deu uma consciência que responde à verdade dEle (Rm 2.14-16), e a consciência é o aliado do cristão na jornada do evangelismo. O cristão deve gastar tempo para informar a consciência dos amigos e da família com a verdade bíblica a respeito de Deus, da Bíblia, do pecado, de Cristo, do julgamento vindouro, e da esperança da vida eterna em Jesus Cristo para o pecador arrependido.
Há inúmeras maneiras do cristão se engajar no evangelismo durante o Halloween. Alguns adotam a política de “não participar”. Como pais cristãos, eles não querem seus filhos participando de atividades espiritualmente comprometedoras – ouvir a histórias de terror ou colorir figuras de bruxas. Eles não querem seus filhos vestindo fantasias para participar do “doçura-ou-travessura” ou mesmo a qualquer alternativa para o Halloween.
Essa resposta naturalmente gera reações e fornece uma ótima oportunidade para partilhar do evangelho aos que perguntam o motivo da escolha. É igualmente importante que pais expliquem suas posições aos seus filhos e os preparem para enfrentar a zoeira por parte dos colegas e a desaprovação por parte dos professores.
Outros cristãos optarão por alternativas ao Halloween chamados de “Festa da Colheita” ou “Festa da Reforma” – as crianças se vestem de fazendeiros, de personagens bíblicos, ou heróis da reforma. É irônico quando consideramos o Halloween como o iniciador de uma alternativa, mas ele pode ser um meio eficaz de alcançar as famílias da vizinhança com o evangelho. Algumas igrejas deixam o edifício da igreja para trás e fazem atos de misericórdia em suas comunidades, fazendo atos de “doçura” para com famílias necessitadas com cestas de alimentos, cartões de presente e com a mensagem do evangelho.
Existe outras alternativas boas; existe também outras que não são nada boas. Algumas igrejas estão usando a peça de evangelismo “Casa do Julgamento” para chocar jovens para que se tornem cristãos. Eles fazem as pessoas caminhas nas salas adornadas como casas mal-assombradas e colocam o pecado em evidência – mulheres abortando, pessoas sendo sacrificadas em rituais satânicos, consequências de relacionamentos sexuais antes do casamento, perigos de festas, possessão demoníaca e outras tragédias.
Eis o problema com esse tipo de evangelismo: para chocar uma cultura que não se choca, você precisa representar muito bem graficamente. Imagens que exibem o pecado e suas consequências são desnecessárias – mentes incrédulas já estão cheias de imagens como essas. O que elas precisam ver é uma vida verdadeiramente transformada pelo poder de Deus, e o que eles precisam ouvir é a verdade de Deus numa apresentação precisa do evangelho. Esses truques baratos não combinam com embaixadores de Cristo.
Há uma outra opção para o cristão: uma participação limitada, sem comprometimento no Halloween. Não existe nada inerentemente mal numa bala, em fantasias, ou com o “doçura-ou-travessura” na vizinhança. Na realidade, tudo isso é capaz de fornecer uma oportunidade singular de compartilhar o evangelho com a vizinhança. Até mesmo entregar um doce para as crianças da vizinhança – com tanto que você não seja pão-duro – pode aumentar sua reputação entre as crianças. Com tanto que as fantasias sejam inocentes e a conduta não desonre a Cristo, “doçura ou travessura” pode ser usado para propósitos futuros do evangelho.
Por fim, a participação cristã no Halloween é uma questão de consciência perante o Senhor. Seja qual for o nível de participação, você deve honrar a Deus mantendo-se separado do mundo e demonstrando misericórdia para com aquele que está espiritualmente morto. O Halloween fornece ao cristão a oportunidade fazer as duas coisas no evangelho de Jesus Cristo. O evangelho é uma mensagem santa, separada do mundo; sua mensagem é a própria misericórdia de um Deus perdoador. Que momento melhor podemos ter para partilhar isso do que no Halloween?
Fonte: Grace to You
Tradução: Enrico Pasquini
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