Por Paul Tripp
Nas últimas três semanas, venho escrevendo sobre o que acontece quando baseamos nossa identidade em qualquer outra coisa que não o Senhor Jesus Cristo: nossas conquistas, relacionamentos, ou até mesmo a espiritualidade. Hoje vou concluir essa primeira parte falando sobre outra base sobre a qual, de forma equivocada, construímos nossa identidade: a criação.
Sejamos honestos: as coisas desse mundo nos seduzem porque estimulam nossos sentidos. Podemos ver forma e beleza, sentir texturas e perfumes. A Bíblia nos diz que as coisas que realmente importam são as que não podemos ver (por exemplo, em 1Samuel 16:7), mas a criação torna-se uma concorrente poderosa quando o assunto é atrair nossa atenção e moldar nossa forma de viver.
Para piorar, nossa cultura defende que há algo de errado conosco se nos contentamos com o que temos e paramos de correr atrás de coisas maiores e melhores. Crescemos tão acostumados com esse incentivo a buscarmos sempre mais que mal percebemos quando passamos a definir quem somos por meio das coisas que existem nesse mundo.
Minha experiência mostra que as seis armadilhas mais comuns para nós, quando o assunto é depositarmos nossa identidade no lugar errado, são:
- Posses
Pode escolher: uma casa, a segunda casa, um carro, o segundo carro, uma televisão tela plana, uma bela piscina, uma sala de jogos, o último lançamento da Apple, ou uma simples unha bem-feita na manicure; é praticamente impossível não sermos definidos pelas coisas que temos, ou que nos faltam. É claro que podemos usar o que temos de forma generosa, sendo hospitaleiros, mas, muitas vezes nossas compras não visam em primeiro lugar o Reino de Deus.
O que nossa compra mais recente diz sobre nosso coração?
- Comida
Eu amo comer; sou muito grato pelo fato de que boa parte da glória de Deus revelada na criação é comestível! Pare por um minuto e pense na combinação de sabores que o Senhor inventou e você vai ver que é impossível não o adorar por sua criatividade. Mas tudo o que é bom pode se tornar mau quando em excesso, e quando passa a dominar nossos corações.
Você gasta muito tempo e dinheiro atrás do próximo banquete?
- Sexo
Assim como a comida, o prazer sexual é uma sensação física que Deus nos deu para nosso contentamento, e para o louvarmos por isso. Mas quando perdemos isso de vista, tendemos a ultrapassar as fronteiras que Ele estabeleceu para um relacionamento sexual saudável, e corremos o risco de cair em vícios destrutivos.
Será que estamos violando o belo desejo de Deus para o relacionamento sexual?
- Boa forma
Vivemos em uma cultura que institucionalizou o tal do “Crossfit”, a necessidade de ter o famoso “abdome de tanquinho” e bíceps enormes. “O exercício físico é de pouco proveito; a piedade, porém, para tudo é proveitosa, porque tem promessa da vida presente e da futura.” (1Timóteo 4:8)
Você gastou mais tempo essa semana cuidando do seu corpo do que da sua alma?
- Visual
Os homens frequentemente definem quem são não apenas por seu trabalho, mas também pelo valor de seus ternos, relógios e sapatos. E é comum ver mulheres que têm mais roupas e bolsas do que cabe em seus guarda-roupas. Raramente essas peças são necessárias; geralmente os excessos têm a ver com identidade.
Será que não estamos nos preocupamos demais com, por exemplo, qual será nosso visual no culto do próximo domingo?
- Lazer
A vida nesse mundo caído é difícil e precisamos de pausas; afinal de contas, o próprio Deus criou um dia exclusivo para descansarmos. Mas nós provavelmente não precisamos das férias exageradamente luxuosas que tiramos e, definitivamente, devemos questionar nossas motivações ao compartilhar fotos de viagens no Facebook ou Instagram.
Você tem prazer em contar aos outros o que faz no seu tempo de lazer, sabendo que isso causa uma “invejinha” neles?
É importante nos lembrarmos: um Criador amoroso e bom fez coisas deleitáveis. Isso significa que curtirmos a criação não é algo ruim em si. Mas, como eu disse no começo, mesmo uma coisa boa pode se tornar um mal quando começa a controlar nossos corações.
Ouça – uma casa enorme não lhe dará segurança duradoura; um carro de luxo não trará paz ao seu coração; um guarda-roupa “fashion” e uma barriga de tanquinho não podem saciar os anseios de sua alma. Somente a pessoa e a obra do Senhor Jesus Cristo podem fazer isso por você. Certamente, em algum momento, a criação vai lhe desapontar; Jesus nunca fará isso.
Os argumentos são persuasivos e a conclusão é clara: nós tendemos a deixar que as coisas desse mundo definam quem somos, em vez de nos definirmos em Cristo. Mas Deus não desiste de nós, nem mesmo quando tropeçamos. Ele continua em nosso encalço e algumas vezes pode tirar nossas posses, se necessário, de tal forma que nossos corações possam adorá-lo exclusivamente. E um coração que adora somente a Deus encontra descanso, segurança, paz e alegria, independente das circunstâncias.
Tradução de Eduardo Tavares
Original em Paul Tripp Ministries
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