O artigo que se segue é um trecho do e-book gratuito do Covenant’s Eyes: The Porn Circuit: Understand Your Brain and Break Porn Habits in 90 Days.
O cérebro impregnado de pornografia soa parecido com os versos de Mick Jagger; “eu não consigo ficar satisfeito” (“I can’t get no satisfaction, em tradução livre).
À primeira vista, isso soa absurdo. A pornografia oferece oportunidades inesgotáveis de excitação. Se um humano se masturba estimulado por uma variedade enorme de imagens e vídeos, isso não deveria satisfazê-lo? A resposta é simples: não.
O doutor Norm Doidge explica que a pornografia é mais excitante que satisfatória pelo fato de possuirmos dois sistemas separados de prazer em nossos cérebros: um para o prazer da excitação e outro para o da satisfação.
O sistema da excitação, impulsionado pelo mediador químico dopamina e pela sensação de expectativa, está intimamente ligado ao apetite, como, por exemplo, imaginar sua refeição favorita, ou ter alguma fantasia sexual.
O sistema da satisfação entra em ação quando, de fato, fazemos a refeição, ou quando temos uma relação sexual, nos trazendo calma e um prazer gratificante. Esse sistema libera endorfinas opióides, que causam em nós sensações de paz e euforia.
A pornografia, segundo Doidge descreve, torna o sistema da excitação hiperativo. O sistema da satisfação, contudo, continua faminto, desejando a experiência real, que inclui toque, beijos, carícias e uma conexão não apenas corporal, mas também entre mentes e almas. O sistema da satisfação libera oxitocina e endorfinas, mas grita, protesta, como nas palavras de Marvin Gaye: “não tem nada a ver com o lance real, querida” (“ain’t nothing like the real thing, baby”, em tradução livre).
O cérebro saturado de pornografia torna-se obcecado por sexo, segundo explica o Dr. William Struthers, mas o sexo de verdade tem tudo a ver com intimidade. Tal cérebro está pronto para múltiplos parceiros, imagens e possibilidades sexuais, mas foi desenhado para o foco estreito da relação exclusiva. A supervia neural da pornografia é construída em nossas mentes para altas velocidades, mas o sexo realmente satisfatório requer a lenta e envolvente descoberta e apreciação de um amante. A pornografia nos oferece algumas poucas saídas rápidas (masturbação), escapes efêmeros que só aceleram a necessidade por cada vez mais estímulos, ao passo que um casal comprometido pode desfrutar de longas e satisfatórias experiências, com muitas alternativas para expressões criativas de intimidade que não tem a ver só com os estímulos genitais.
Doidge escreve:
Os produtores de pornografia prometem um prazer saudável e o alívio para as tensões sexuais, mas o que eles realmente oferecem é vício, indulgência e uma eventual diminuição do prazer. Paradoxalmente, os pacientes homens com os quais trabalhei eram viciados em pornografia, mas não gostavam dela.
Como a pornografia prejudica o sexo conjugal
A indústria da pornografia quer que as pessoas acreditem que ver esse tipo de conteúdo é um entretenimento inofensivo, e que pode até mesmo apimentar a vida amorosa de um casal, mas a verdade é completamente o oposto. Em vez de encorajar a intimidade, pesquisas mostram que a pornografia a faz diminuir entre o casal.
Pornografia estimula o egoísmo em vez de fomentar a intimidade. Particularmente entre os homens, que são mais estimulados visualmente que as mulheres, o conteúdo pornográfico transmite a ideia de que as mulheres são objetos a serem desejados. Elas são retratadas como meros corpos usados para a satisfação pessoal do homem.
A pornografia transforma homens em consumidores que tratam o sexo como uma comoditie e que pensam sobre sexo como algo sempre à mão e feito sob encomenda. Como a doutora Mary Anne Layden escreve, “é uma deseducação sobre sexo e relacionamentos”.
No livro do doutor Gary Brooks, “A Síndrome de Centerfold” (The Centerfold Syndrome, em tradução livre), ele explica que as mulheres na pornografia são apenas imagens nas páginas de revistas ou pixels nas telas dos computadores, ou seja, elas não têm expectativas sexuais ou relacionais. Isso condiciona os homens a desejarem a excitação barata em vez do compromisso de um relacionamento que requer deles uma conexão profunda com outro ser humano. A pornografia essencialmente treina os homens a serem voyeurs digitais, a olharem para as mulheres em vez de procurarem uma intimidade genuína.
De acordo com um estudo publicado no Jornal de Psicologia Social Aplicada, após apenas alguns períodos de exposição prolongada a vídeos pornográficos, homens e mulheres reportaram uma queda na satisfação sexual do relacionamento com seus parceiros, incluindo uma diminuição no carinho para com o outro, na atração física e na performance sexual.
Outro estudo publicado no Jornal de Terapia Sexual e Conjugal mostrou resultados similares. Quando homens e mulheres eram expostos a fotos de modelos “de capa” de revistas pornográficas como a Playboy e a Penthouse, isso reduzia significativamente a opinião dos participantes do estudo sobre a aparência física de pessoas “normais”.
A pesquisa do doutor Victor Cline mostrou que a excitação sexual diminui à medida que uma pessoa é exposta a cenas de sexo, levando-a a buscar mais variedade e novidades no tipo de pornografia que ela vê.
O neurocientista francês Serge Stoleru relata que a superexposição a estímulos eróticos exaure as respostas sexuais de jovens homens saudáveis.
Já o doutor Dolf Zillmann relata que, quando jovens são repetidamente expostos a pornografia, pode haver um impacto duradouro nas crenças e comportamentos deles. Frequentemente, homens que têm o hábito de ver pornografia desenvolvem uma postura cética a respeito do amor e da necessidade de afeto entre parceiros. Eles começam a enxergar a instituição do casamento como sexualmente confinante. Frequentemente esses homens desenvolvem uma “tolerância” a conteúdo sexualmente explícito e isso os leva a buscar novos materiais, alguns bizarros, para conseguirem o mesmo nível de excitação que tinham com a pornografia comum.
A doutora Judith Reisman resume bem: a pornografia causa impotência – uma inabilidade de performar com sua própria potência sexual. “Se o homem tem que visualizar uma figura, se ele tem que imaginar uma cena, para conseguir ter um bom desempenho sexual com sua parceira, então ele não depende mais unicamente de sua própria potência, não é mesmo? Ele foi despojado. Ele foi roubado. Ele foi emasculado. Ele foi, na verdade, castrado visualmente.”
Pornografia e disfunção erétil
Se as preocupações acima não são suficientes, há ainda o fato de que muitos homens se tornam tão habituados à pornografia que passam a sofrer de disfunção erétil quando estão com suas esposas. Em vez de conseguir uma performance melhor, que é o que a pornografia promete, muitos homens descobrem que conseguem ter uma ereção consistente e duradoura apenas quando o estímulo sexual vem da pornografia.
Os doutores Marnia Robinson e Gary Wilson explicam no periódico “Psicologia Hoje” (Psychology Today, em tradução livre) que o excesso de estímulos por meio da pornografia muda o cérebro, fazendo com que o homem se torne menos sensível ao prazer físico de uma mulher real e hipersensível ao conteúdo pornográfico. Os homens se tornam sensibilizados à pornografia na internet, mas insensíveis ao sexo em geral, que requer mais e mais estímulos para que haja excitação. Quando está se preparando para o sexo real, o cérebro afetado pela pornografia falha em conseguir sua dose de dopamina e o sinal enviado ao pênis é muito fraco para que haja ereção. Mas basta que o homem se conecte à internet, com páginas ilimitadas de novidades pornográficas, e BUM, o encanamento volta a funcionar.
Uma comunidade crescente de pessoas na internet tem se queixado de que a pornografia é a raiz de problemas como disfunção erétil e ejaculação precoce. A masturbação está causando tantos males a essas pessoas que elas se reuniram em busca de apoio. Uma comunidade online diz ter 50 mil membros com o objetivo de encorajarem-se uns aos outros a evitarem a pornografia e a masturbação por 90 dias, na esperança de nunca mais voltarem a essas práticas.
Satisfação verdadeira
Devido à plasticidade do cérebro, as pessoas que um dia foram devoradas pela pornografia podem rearranjar suas redes neurais para desfrutarem intimidade sexual apenas com seus cônjuges e estudos mostram que esses relacionamentos se revelaram os mais satisfatórios.
Por exemplo, os homens que consomem pornografia acreditam que mais parceiros sexuais trarão uma satisfação maior. Mas um estudo de 2011 mostra que relacionamentos de longo prazo (com uma duração média de 25 anos) mostra exatamente o oposto. Essa pesquisa concluiu que, quanto mais tempo um homem estava em um relacionamento, mais provavelmente ele desfrutava de felicidade relacional e satisfação sexual. Mulheres, por sua vez, apreciavam menos o sexo durante os primeiros anos do relacionamento, mas experimentaram uma satisfação muito maior depois.
Outro estudo feito em 2010 mostrou que casais que fizeram sexo apenas após se casarem desfrutaram de um relacionamento mais estável e feliz. Eles também relataram uma qualidade do sexo e satisfação em seus relacionamentos 15% e 20% maiores, respectivamente, do que casais que tiveram experiências sexuais antes do casamento.
Os resultados dessas pesquisas não são novidade, segundo o doutor Weiss. Estudos feitos com pessoas casadas têm apontado satisfação sexual elevada ao longo de décadas.
Weiss diz: a pesquisa mostra que pessoas que fazem sexo de forma consistente dentro do casamento – o qual envolve uma conexão espiritual, inclusive – têm a melhor satisfação sexual ao longo do tempo. As pessoas que tiveram os maiores números de parceiros revelaram os menores níveis de satisfação sexual ao longo da vida adulta.
Ao contrário da pornografia, o sexo da vida real, com compromisso, tem muitas nuances de excitação e satisfação, desde palavras e tons de voz, toque, temperatura da pele e diversas outras interações. Sim, a dopamina gosta de novidades. Para o usuário de pornografia, isso significa mais pornografia, mas em um relacionamento com compromisso, a novidade não precisa acabar nunca.
“Felizmente, os amantes podem estimular sua produção de dopamina, mantendo-a elevada, ao injetar novidade em seus relacionamentos”, escreve o doutor Doidge. “Quando os cônjuges fazem uma viagem romântica, tentam novas atividades em conjunto, usam novos estilos de roupas, ou surpreendem um ao outro, eles estão usando a novidade para estimular os centros de prazer, de forma que tudo o que eles experimentam, inclusive um ao outro, os excita e satisfaz.”
Para as mentes e casamentos feridos pela pornografia, um sexo ótimo e a intimidade verdadeira não virão da noite para o dia. Reparar o quebrantamento no casamento requer trabalho duro e determinação. Construir confiança leva tempo.
>> Original em Josh.org
Tradução de Eduardo Tavares
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