Por Paul Tripp
Em algum momento de nossas vidas, somos incentivados a decorar a oração ensinada por Jesus, mas, para o caso de você precisar refrescar a memória, aqui está a primeira parte: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mateus 6:9,10)
Por mais históricas que essas palavras possam ter sido para a igreja, temo que elas também tenham se tornado um dos maiores clichês na história do Cristianismo. Nesse caso, acho que memorizamos uma das ordens mais importantes de Deus sem realmente entender o que ele nos estava mandando fazer.
Lembre-se, Jesus disse aos discípulos “vocês orarão assim” antes de ensinar a oração do Pai Nosso. O que Jesus está nos mandando fazer? Mudar a maneira como nós oramos, e orar para Deus, de forma a glorificá-lo.
Falando sobre mim, e sei que não estou sozinho nessa, muitas das minhas orações não têm tido nada a ver com a glória de Deus. Infelizmente, na maioria das nossas orações, estamos, na verdade, pedindo que Deus apoie a busca de nossa própria glória. Mas nós colocamos as palavras de forma que não soe como algo tão egoísta assim:
“Deus, dê-me mais sabedoria no trabalho… (para que eu consiga ganhar mais dinheiro e ter mais poder)”
“Deus, alivie minhas aflições financeiras… (para que eu tenha mais dinheiro para gastar em prazeres e posses que vão me fazer mais feliz)”
“Deus, ajude meus filhos a serem mais respeitadores… (para que minhas tardes sejam mais tranquilas e eu consiga terminar minhas coisas)”
“Deus, aja no coração da minha esposa… (de tal forma que eu possa ter, enfim, o casamento dos meus sonhos)”
“Deus, dê-me um relacionamento melhor com meus vizinhos… (para que ele goste de mim o bastante para fazer com que o cachorro dele pare de destruir minhas flores)”
“Deus, por favor, cure meu corpo… (para que eu possa voltar a fazer as coisas que eu amava tanto)”
Temos que mudar a maneira como oramos. A primeira coisa que deveríamos fazer ao orar é pedir a Deus que ele glorifique a si mesmo, ou ame a si mesmo, mais do que qualquer outra coisa.
“Mas isso não nos dá uma ideia de um Deus narcisista e egoísta? Eu achei que ele fosse generoso, altruísta e amasse muito as pessoas.” Essas são questões muito boas e dignas de serem respondidas.
Primeiro, não avalie o caráter de Deus da mesma forma como você faria com um ser humano. Deus não é um homem e não pode ser julgado pelos mesmos padrões que ele estabeleceu para os seres humanos. Para um humano, ser obcecado com sua própria glória revelaria um horrendo espírito de orgulho e auto-engrandecimento. Mas não é assim com Deus. Deus é um ser diferente, em uma posição inigualável no universo.
Segundo, se Deus negasse sua própria glória, ele deixaria de ser Deus. Para ser Deus, ele precisa estar acima e além de qualquer coisa criada. A boa vontade em subjugar a si mesmo a qualquer outra coisa além dele próprio faria com que ele não fosse mais Senhor sobre todas as coisas.
Terceiro, o zelo de Deus por si mesmo é a esperança do universo. Se Deus abandonasse sua glória (e, portanto, seus propósitos gloriosos), todas as suas promessas teriam tanto valor quanto o papel no qual elas foram impressas, e as esperanças de salvação de todos os pecadores estariam terminadas.
Finalmente, ao nos dizer para orarmos para que Deus glorifique a si mesmo, Jesus nos liberta de nosso vício autodestrutivo de buscarmos nossa própria glória. Ao mesmo tempo, ele nos liberta do infindável catálogo de falsas glórias que acompanha esse vício. O compromisso inabalável de Deus com sua própria glória é a coisa mais amorosa que ele poderia fazer por nós. É o que nos resgata de nós mesmos e quebra o vínculo que temos com todas as coisas que pensamos, erroneamente, nos conduzir à vida, mas que levam apenas ao vazio e à morte.
Espero que isso ajude você a mudar o modo como você ora.
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