Nenhum de nós está escape de lidar com conflitos os mais diversos no dia a dia, seja na própria vida ou na vida daqueles que nos cercam. Um relacionamento quebrado, uma criança abusada sexualmente, o impacto de um diagnóstico de doença terminal, um abatimento persistente… Onde buscar a ajuda adequada? O que são problemas espirituais? O que são problemas clínicos?
Ed Welch trabalha a questão em Biblical Counseling: Is it Just for Spiritual Problems?, postado recentemente por CCEF (Christian Counseling and Educational Foundation).
Ouça aqueles que o criticam. Sejam eles seu cônjuge, seus amigos, inimigos, colegas ou pessoas que compartilham seus interesses vocacionais, ouça aqueles que o criticam. Posso não ser muito bom nisso, mas quero melhorar especialmente quando o assunto é o aconselhamento bíblico.
Jack Miller, cuja pregação influenciou-me significativamente, sempre nos exortou a olharmos para o fundo de verdade contido nas críticas que recebemos. A tese de doutorado de David Powlison sobre a história do aconselhamento bíblico desafiou-me ainda mais a ouvir.
Quando procuro ouvir o que outros dizem sobre o aconselhamento bíblico, posso identificar duas categorias de críticas.
- Existem fraquezas na nossa abordagem atual do aconselhamento.
- O aconselhamento bíblico é válido para os problemas espirituais, mas não para os problemas clínicos.
- O aconselhamento bíblico é valido para o pecado, mas não para o sofrimento, a vitimização ou outros problemas do nosso passado.
- O aconselhamento bíblico me feriu. Alguns foram mal-entendidos ou tratados com rispidez por pessoas que se identificaram como conselheiros bíblicos.
- Existem fraquezas na nossa posição quanto à psicologia atual.
- O aconselhamento bíblico esquiva-se da pesquisa secular em seu detrimento.
- O aconselhamento bíblico é ingênuo no sentido de que tem sido influenciado pelo material secular, mas nega esta influência.
Há um fundo de verdade em todos esses pontos, sem dívida. Responderei a um deles: o aconselhamento bíblico é válido para os problemas espirituais, mas não para os problemas clínicos.
Discordo, evidentemente. O aconselhamento bíblico é a cura para tudo. Vamos ao ponto seguinte.
Claro que não é assim!
Na verdade, trata-se de uma proposição complexa. Ela encerra uma infinidade de opiniões sobre as definições de ambos os termos, espiritual e clínico. O que é um problema espiritual? O que é um problema clínico? Estas perguntas por si só já merecem atenção cuidadosa. Se começarmos com entendimentos diferentes destes termos, a conversa já estará perdida. Partirei, portanto, dessas perguntas.
Os dicionários não ajudam. Precisamos ouvir as palavras em seu contexto e, dentro do possível, perguntar aos outros como eles costumam usá-las.
A palavra espiritual? Quando uso a palavra espiritual, eu o faço com um de no mínimo três sentidos: (1) relativo ao Espírito, que é o uso mais comum da palavra no Novo Testamento, (2) de substância eterna – não somos mero corpo físico decaído, mas seres espirituais cuja vida perdura além da sepultura (esta definição justapõe-se à primeira), (3) questões relativas ao nosso relacionamento com Deus, o que pode incluir praticamente tudo.
Entre aqueles que questionam o aconselhamento bíblico, as definições de espiritual são um pouco diferentes. A meu ver, eles costumam identificar um âmbito limitado de problemas que são mencionados especificamente nas Escrituras como, por exemplo, um pecado óbvio, uma compreensão errada de pecado e graça… e, às vezes, é isso mesmo. Entre os críticos, alguns fazem deespiritual uma categoria mais rica, mas ainda limitada aos problemas identificados claramente nas Escrituras.
A palavra clinico? Um problema clinico refere-se a algo descrito no manual de diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-IV. Você encontra os problemas clínicos classificados ali. Enurese noturna, síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção, ansiedade de separação, depressão, mania, ansiedade, abuso de drogas e de álcool, transtornos alimentares, personalidade borderline e muitos outros.
Hmm. Os problemas espirituais são importantes. No entanto, em termos de números absolutos, eles são pequenos se comparados aos problemas clínicos. O campo espiritual, de acordo com algumas definições, é uma área relativamente pequena da pessoa. Já começo a me sentir um pouco inferior.
Os problemas clínicos podem também significar “problemas emocionais”, sugerindo que as experiências emocionais que escapam ao comum não estão incluídas entre os problemas espirituais. Junte nesta categoria tudo aquilo que tem a ver com o nosso passado, e o espiritual, na verdade, torna-se relevante para a eternidade, mas não tanto para hoje.
Muito bem. E agora?
Primeiro, verifico junto àqueles que me criticam e descubro se estou me aproximando do uso que eles fazem dessas palavras. Em geral, a maioria dos críticos concordaria comigo, embora alguns deles salientem que o limite entre espiritual e clinico é vago. Os problemas espirituais, dizem, eles podem se tornar problemas clínicos. Os vícios podem ter raízes pecaminosas, mas eles ganham forma que vai além do pecado. O alvo número um é identificar os termos de maneira que os críticos digam: “Sim, é isso que eu quero dizer”.
Segundo, quero descobrir as estruturas teológicas que estão por trás das nossas diferenças. Acreditamos que a vida é teológica no todo e guiada pelos nossos compromissos teológicos. Algumas vezes, a nossa infraestrutura teológica é explícita e estamos cientes dela; outras vezes, ela guia o nosso pensar sem estamos cientes disso. As crianças pequenas, por exemplo, agem a partir de uma teologia que identifica quem elas são, quem Deus é e quem seus pais são, mas estas pressuposições não vêm de decisões conscientes. O desafio é fazer com que o implícito torne-se explícito. Isso pode ser fácil quando um teólogo reformado conversa com um mórmon, mas quanto mais próximos estamos teologicamente uns dos outros, mais difícil é descobrir as nossas diferenças teológicas. Este ponto, portanto, pode dar certo trabalho.
Minha observação é que aqueles que mantêm a distinção entre espiritual e clínico são os descendentes atuais dos tricotomistas, que identificam alma, corpo e espírito, ou uma variante daquele grupo. Você encontra as pistas desta teologia sempre que encontra embates. Por exemplo, aqueles que reivindicam tratar as pessoas holisticamente poderiam dizer que consideram as pessoas como um todo emocional, cognitivo, espiritual e físico. Sua preocupação com o aconselhamento bíblico é que nós olhamos apenas para o aspecto espiritual. Eles poderiam insinuar que fazemos isso bem, mas nos limitamos a um ponto específico quando existem outros aspectos da pessoa que deixamos escapar.
>> Continue a leitura em Conexão Conselho Bíblico
Tags: Aconselhamento
