Por Fernando Leite
A Bíblia apoia o estupro? (4)*
O caso de Oséias e Gomer
O autor do artigo ‘A cultura do estupro também descansa sob a sombra da nossa leitura bíblica’ (clique aqui), aborda também o caso do casal Oséias e Gomer, ele um profeta, e ela uma prostituta; que ilustram a relação entre o Senhor Deus e o povo de Israel que é infiel como uma prostituta. A leitura dessa história não favorece a prostituição, nem contribui para a cultura do estupro do machismo.
Ainda que Gomer fosse uma prostituta, ela é um símbolo não do gênero feminino, mas de toda a nação de Israel com quem o Senhor tinha uma aliança. A prostituição de Gomer ilustrava que o povo ao invés de ser fiel ao seu Senhor Deus, servia a outros deuses, deuses falsos que eram construídos a partir de um pedaço de pau, reproduzindo as práticas dos povos vizinhos. (4.12) Ao deixar o seu Deus, e se prostrar diante de outros deuses, Israel cometia adultério e prostituição espiritual.
Ao se prostrarem diante destes ídolos, rompiam com a Lei de Deus (4.6) e passavam a seguir os valores e princípios das nações à volta de Israel. Consequentemente a conduta era marcada por falta de verdade, amor, e conhecimentos de Deus (4.1), e em seu lugar reinava assassinato, mentira, roubo e furto, (4.2) sensualidade e bebedeira, (4.11) prostituição cultual e prostituição. (4.12-13) Não existia no culto instituído por Deus para Israel a personagem prostituta cultual, que era uma sacerdotisa e prostituta que transava com os adoradores pagãos. O povo de Israel que se prostrava em adultério espiritual diante dos ídolos, também se deitava com essas sacerdotisas e outras; e lógico, ignoravam completamente as determinações de Deus e corrompiam todos os seus costumes.
Oséias era o profeta, o santo de Deus que colocava o dedo no nariz das lideranças religiosa e política, denunciando o pecado de todo o povo, e não só das mulheres; apontando o caminho do arrependimento e retorno a Deus. (6.1-3) O padrão moral estava absolutamente comprometido. (6.7-10) Nesse caso existiria estupro e machismo? Como tudo estava corrompido, estou certo que sim, mas como a liberdade sexual era extrema, talvez nem fosse necessário o estupro por ser muito fácil a prostituição.
Nesse contexto, não só mulheres, mas os homens também eram culpados de suas escolhas e eram vítimas delas. Como todo pecado, antes de ser vítima da sociedade, o pecador é o responsável por seu pecado. A prostituta ou o garoto de programa que ganha o minguado pão para sobreviver, ou o prêmio que lhe dá o carro conversível, o ‘apê’ na frente da praia ou ainda as viagens ao exterior, antes de ser vítima é responsável por seus pecados e poderia evitá-lo se desejasse viver restaurado ao relacionamento com Deus e Pai que cuida dos seus. Já vi esse caminho de retorno ser feito e é uma realidade.
Seriam eles vítimas da sociedade? Isso também é verdade. A sociedade ao se rebelar contra Deus chama de certo o que não é certo, passa essa cultura de impiedade aos que nela estão, quando não, oprimem, escravizam e vitimam. Essa é a sociedade sem Deus que descreve Oséias (4-5) e a sociedade brasileira. Isso não está em consonância com a leitura bíblica, mas com a falta de leitura e de obediência.
O fato da sociedade ser culpada e vitimar seus membros, e de cada um ser cúmplice do próprio pecado, não deve ser tomado como final. Ao longo do livro, o Oséias que denuncia o pecado e que alerta para o desvio com fins trágicos, também chama para a restauração. O povo se meteu na encrenca, Deus os castigou, mas também sara, liga, revigora e levanta. (6.1-3)
Somos o que somos por causa de nosso pecado, somos o que somos por causa dos condicionamentos da sociedade de pecadores, mas não precisamos ser escravos disso. Há um Deus que com Sua bondade e amor está pronto a nos receber e restaurar. Essa é a figura de Oséias, não a de um machista e abusador, mas de um Deus que apesar da infidelidade de seu povo, insiste em trazer de volta, perdoa e restaura, e isso vale para homens e mulheres.
* Título Original. Texto retirado do Facebook.
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