Por Marcelo Ferreira
O mundo em que vivemos apresenta incontáveis necessidades e desafios. Quem está na igreja se questiona sobre a atuação da mesma frente aos problemas que sangram todos os dias na sociedade. A questão que surge é “o que a igreja deve fazer neste cenário?” e “por onde começar?” É bem verdade que a igreja não é uma instituição cujo fim é reagir a tudo o que ocorre. A igreja existe para glorificar a Deus no panorama da eternidade. Porém, é impossível ficarmos alheios ao cenário da História. E questões como as levantadas acima tratam dos compromissos, das atividades e das prioridades do povo de Deus no mundo, enquanto entidade eterna e histórica. Por esta causa, proponho uma reflexão sobre a agenda missionária da Igreja.
Ao olharmos para os Evangelhos, percebemos Jesus fazendo opções, escolhas e revelando prioridades na sua caminhada ministerial, também num contexto bastante conturbado. Jesus tinha a sua “agenda missionária”, que colocou em prática antes de entregar-se à cruz pelos pecadores. Os apóstolos tiveram o privilégio de assistir e aprender com os compromissos e atividades de Jesus no desenrolar de sua missão redentora. Participaram desta agenda.
Do mesmo modo, devemos pautar nossa ação no mundo à luz da agenda missionária de Jesus. Como Seu Corpo, imitamos seus passos dando continuidade ao que Ele começou a fazer e a ensinar. O livro de Atos dos apóstolos diz no seu prólogo:
“Fiz o primeiro relato, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar, até o dia em que foi elevado ao céu, após ter dado orientações, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera.” (At 1.1,2)
As palavras de Lucas pressupõem a continuação da Igreja na pregação e ação de Jesus no mundo. Num dueto de obras e proclamação, precisamos aprender com o Senhor a maneira virtuosa de expressar Seu Reino. Não nos compete saber tempos ou épocas que culminarão com a manifestação gloriosa e final de Deus e Seu Reino. O que nos cabe é sermos testemunhas em toda parte, no poder do Espírito Santo.
Minha reflexão a seguir está baseada numa vista panorâmica do Evangelho de Mateus 4-10. Apresentarei cinco lições que aprendo com a agenda missionária de Jesus, que não são exaustivas, mas que me parecem verdadeiras no tocante ao tema. São elas:
- Vencer o diabo (Mt 4.1)
- Discipular gente (Mt 4.18-22)
- Pregar a Palavra (Mt 5.1 – 7.29)
- Socorrer os fracos (9.35-36)
- Multiplicar e enviar líderes (9.37,38; 10.1,16)
A meu ver, elas se aplicam tanto ao crente individual como à igreja local. São lições que devem traduzir-se em prioridades pessoais e comunitárias. A pergunta que faço é: que compromissos estão na agenda missionária de Jesus e que devem estar na nossa agenda pessoal e eclesiástica? Segue abaixo alguns comentários que fundamentam e inquirem a nossa prática:
1. Vencer o diabo (Mt 4.1)
Após ser batizado, o primeiro acontecimento do ministério de Jesus se deu no enfrentamento com o poder das trevas. Sem plateia, num cenário de escassez, solidão e opressão, Jesus foi tentado pelo diabo. Sem nenhum seguidor, nenhum colega, nenhum amigo, ali estava o Mestre, sozinho. Para começar seu ministério, Jesus precisava enfrentar o Maligno, segundo a vontade do Espírito.
Note que quem levou Jesus ao confronto foi o Espírito Santo. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade levou Jesus para a arena, colocou o Mestre no octógono, o conduziu ao campo inimigo, para o enfrentamento com o adversário. O deserto era este local.
Aprendemos aqui que para fazer o ministério de Jesus, o crente fiel e a igreja fiel terão de enfrentar o poder das trevas. Não há como fugir desta realidade. Não ministramos em campo neutro. Interessante que, muitas vezes, isso é a agenda do Espírito Santo. E deverá ser item considerável na nossa agenda de vida e missão. Não que devamos marcar hora para este enfrentamento. Mas devemos saber que esta realidade é contínua. O apóstolo Pedro diz:
“O diabo, vosso adversário, anda ao derredor rugindo como leão, buscando a quem possa tragar. Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão acontecendo entre vossos irmãos no mundo.” 1 Pe 5.8,9
Em tempos de sociabilidade virtual, barulho e movimento, é muito difícil ficar sozinho. Num deserto sombrio, escasso, aparentemente intransponível. Mas para fazer o ministério de Jesus, o crente e a igreja dedicados considerarão passar pelo deserto e enfrentar o maligno. Assim como o inimigo se levantou contra Cristo, também se levantará enfurecido contra os pequenos-cristos. Se ignorarmos a guerra espiritual na agenda missionária, nossa atuação será inócua. Pois nossa mensagem e ação neste mundo não se definem como contribuição cultural, antropológica, sociológica, etc. Embora haja implicações do senhorio de Cristo em todas estas áreas, está claro que o trabalho da igreja é de natureza espiritual, e no mundo espiritual há uma guerra.
Graças a Deus não estamos descobertos no combate, mas temos a Palavra viva, que atua como espada. Tomamos toda a armadura de Deus, a fim de resistirmos no dia mau, permanecendo firmes contra as ciladas do diabo. Não lutamos segundo padrões do mundo, mas lançamos mão das armas espirituais, poderosas em Deus para destruir fortalezas, anular sofismas e toda arrogância que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento em obediência a Cristo. E temos a certeza de que é Deus quem nos dá a vitória enquanto levamos o Seu Nome adiante.
2. Discipular Gente (Mt 4.18-22)
É muito curioso pensar que o discipulado era algo prioritário na vida de Jesus. Pois o processo envolvido na vida discipular é silencioso e, aparentemente, de curto alcance. Porém, o discipulado é um fato inquestionável na agenda missionária do Senhor. O Mestre gastou tempo com homens comuns que escolheu para a caminhada. O Filho de Deus, com todo o poder sobrenatural em suas mãos para fazer-se conhecido no palco religioso do mundo antigo decidiu trabalhar para o Pai e revelá-Lo por trás das cortinas do discipulado. Multiplicar-se através da caminhada próxima. E assim, transformar vidas, uma a uma, perto de Si, na dinâmica das relações humanas (concomitante ao ministério das multidões).
Jesus chamou estes homens. Não eram nada especiais. Andou com eles. Fez-se acessível. Serviu os mesmos. Suportou a incredulidade e insensibilidade deles por três anos. Abriu o peito para ser traído e abandonado pelos tais antes da cruz. Jesus deixou-se gastar neste projeto de vida na vida. Discipulado estava na agenda missionária de Jesus. A questão que se levanta é automática: discipular gente é algo que está na nossa agenda? Faz parte de nossos compromissos? É um valor? Está no nosso projeto de vida e missão? Pois deveria estar.
Discipular gente foi a ação escolhida por Jesus no início do seu ministério. Foi o processo feito com os apóstolos e os primeiros líderes da igreja primitiva. É a dinâmica escolhida por Jesus para toda a sua igreja. Quando Jesus ressuscitou dos mortos, antes de subir ao Pai, deu sua última orientação:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações…” Mt 28.18-19
Esta é como que uma cláusula pétrea do Evangelho. Algo imodificável e irreformável, e que traz consigo a chancela do próprio Cristo. O crente fiel e a igreja fiel não continuarão as obras e ensinos de Jesus sem discipular gente.
O problema é que temos transformado o discipulado em programa. Aquilo que é para ser missão de vida do crente e missão de existência da igreja tem se reduzido a um programa eclesiástico. Mais uma obrigação ou opção dentre as muitas variáveis que uma igreja local oferece.
O que fizemos com o discipulado? Reduzimos a:
- Livrinho – estudo de 3 meses
- Até o batismo e depois nunca mais
- Reduzimos o conceito de “fazer discípulos” à evangelização
- Dificilmente caminhamos o bastante para que a fé e a vida sejam internalizadas
- Consideramos algo muito difícil, inacessível a crentes comuns
- Alegamos não sabermos discipular, uma vez que não fomos discipulados
Porém, o que foi prioridade para Jesus deve ser também para nós. Nosso ministério tem de colocar na agenda a dinâmica do discipulado como prioridade em meio aos programas. É prioridade de vida e missão. Não importa que programa teremos na igreja, o discipulado tem de estar lá, pois é princípio. Não importa que estilo de vida teremos na correria urbana, o discipulado tem de estar lá. Algumas dicas práticas são válidas aqui:
- Procure alguém maduro na fé para caminhar com você (um discipulador ou um mentor em caso de pessoas já maduras)
- Se você já caminha com Cristo, está firme na fé, em comunhão com sua igreja, escolha poucas pessoas para discipular (uma ou duas) e comece
- Elimine a desculpa da falta de tempo. Para uma prioridade, tempo nunca será desculpa
- Não se esqueça de discipular seus filhos – se você não o fizer, alguém o fará
- Foque na replicação da vida de Cristo pelo Espírito de Deus – “Ensinamos o que sabemos, mas reproduzimos o que somos” (Howard Hendricks).
O Evangelho não se resume a um conhecimento intelectual, uma matéria a ser compreendida, mas é um poder a ser vivido (1 Co 2.1-5). Nosso ensino precisa desaguar na prática. Fé extra templo, além-religião, da informalidade, do cotidiano, da convivência e, sobretudo, do exemplo (1Tm 4.12). Eis o teste da fé, e o que o nosso mundo tanto precisa provar.
3. Ensinar a Palavra (Mt 5.1-2)
A sequência da narrativa de Mateus nos coloca numa das salas de aula mais importantes da História. Um monte na Palestina antiga, cuja localização não é certa pelos estudiosos, onde Jesus ensinou o famoso sermão das bem-aventuranças. Ensinar a Palavra ao povo foi mais um dos compromissos primordiais da agenda missionária de Jesus.
O conteúdo do ensino e pregação de Cristo, embasado no AT e revestido de divina autoridade, era o Reino de Deus e suas implicações proféticas. O conceito teológico do Reino já foi descrito por John Stott pela expressão “já e ainda não”, indicando tanto sua inauguração em Cristo, como também a esperança de que o mesmo se fará pleno sobre todo o universo no futuro escatológico. A mensagem do Reino é uma mensagem que proclama o domínio de Deus por meio de Seu Messias prometido. É uma palavra de salvação e libertação que convoca os homens a se acertarem com Deus pela mudança na direção da vida – uma chamada ao arrependimento. A mensagem do Reino é, ainda, um anúncio profético e escatológico, apontando o início das manifestações redentoras de Deus antes do fim dos tempos. Os últimos dias começaram, e o relógio de Deus corre no ritmo de Sua misericórdia, antes que venha o juízo sobre a criação e as nações. Como já disse o apóstolo Pedro:
“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a considerem demorada. Mas ele é paciente convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos venham a se arrepender.” 2 Pe 3.9
Como se vê, Reino de Deus é um conceito bastante abrangente. E Jesus proclamou no início do seu ministério que o Reino dos céus havia chegado (4.17). O que nos interessa aqui, é o anúncio verbal da mensagem como parte integrante da agenda missionária de Jesus. Ensinar a salvação, proclamar o Reino dos céus, pregar a Palavra ao povo foi ato constante na caminhada do Mestre. Mateus 5 – 7 é um sermão. Jesus discorreu nele sobre os critérios do Reino, seus valores, e a prática coerente dos verdadeiros súditos. Assentado no monte junto às multidões, o Senhor falou sobre felicidade, dinheiro, relacionamentos, religião, perseguição, falsos discípulos. Não aboliu a lei. Não tirou um só traço do que estava escrito, para ser o cumprimento e o fim da Torá. Ao final do discurso as multidões estavam maravilhadas com o ensino que provinha dos lábios de Jesus, diferenciando-o dos escribas (Mt 7.28,29).
Aprendemos com a agenda missionária de Jesus que o crente genuíno e a igreja saudável cumprirão seu mandato celestial pondo em sua agenda missionária a pregação da Palavra. O ensino sobre a salvação e a proclamação esperançosa do Reino dos Céus. Como Jesus, crentes e igrejas bem fundamentadas falarão ao povo conforme a sã doutrina. Há muitas congregações que excluíram de seus púlpitos a mensagem da cruz, a ressurreição de Cristo, o discipulado radical, o arrependimento e o perdão dos pecados, a necessidade de santidade, a disciplina bíblica, a veracidade do céu e o juízo eterno. Deram ouvidos ao liberalismo teológico que ganha voz nos lábios de oradores habilidosos, e negaram o verdadeiro Evangelho. Foram engolidas pela cultura pagã e idólatra deste mundo. Outras igrejas têm utilizado a roupagem bíblica do AT para ensinar heresias, teologia da prosperidade, idolatria de anjos, misticismo e crendices afro-brasileiras. Precisamos, com urgência, aprofundar e proclamar a cruz:
“Porque não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” Rm 1.16
“Pois a palavra da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.” 1 Co 1.18
Neste instante cabe uma reflexão pessoal. Qual o valor da Palavra de Deus para você? Como você demonstra isto na vida devocional? Com que frequência você compartilha a mensagem do Reino com outras pessoas? De que modo você tem vencido a vergonha, a timidez, o acanhamento do Evangelho diante de nossa sociedade pagã? Você está disposto a passar vergonha pelo nome de Cristo? Você saberia compartilhar Jesus e contar sua história de conversão de modo objetivo? A mensagem do governo ativo de Deus é compatível com seu testemunho e estilo de vida cotidiano? Você já experimentou a alegria de expor a mensagem salvadora a ouvintes abertos ao convite de Cristo?
O crente e a igreja verdadeira cumprirão com a missão de Deus priorizando em sua agenda missionária a pregação e o ensino da Verdade. Na devocional diária, no convívio do lar, na sociedade, na igreja e no púlpito, a Palavra de Deus deve ser anunciada. Como a igreja primitiva que perseverava na doutrina dos apóstolos, esta deve ser a nossa marca. Pregarmos a Palavra com fé e autoridade, crendo no poder que a mensagem da cruz tem de salvar os que creem pela pregação.
“Eu te exorto diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino, prega a palavra, insiste a tempo e a fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com toda paciência e ensino…” 2 Tm 4.1-2
4. Socorrer os fracos (Mt 9.35,36; cf 4.24,25)
Outro tópico importante da agenda missionária de Jesus é o socorro aos fracos. Jesus mostrou compaixão a todos, e não é por acaso que as multidões faziam de tudo para segui-lo. Nem sempre as motivações do povo eram as mais corretas, espirituais e eternas. Mas, nem por isso Jesus deixou de servir. Este é um assunto teologicamente polêmico, visto que pode ser mal compreendido. É preciso deixar claro: a mensagem de Jesus não visava mera libertação estrutural da opressão de Roma, e sua perspectiva do ser humano não era definida pelas categorias dualistas e polarizadas de opressores e oprimidos, como se vê na leitura viciada dos marxistas. Ainda assim, vemos que o Mestre socorreu os fracos, pois veio para desfazer as obras do diabo e sanar com o maior problema do homem, a saber, o pecado. Este sim, responde por todas as mazelas sociais, econômicas e existenciais.
A sociedade nos tempos de Jesus, especificamente na Palestina, era bastante seccionada e dividida. A ala religiosa oficial era composta por fariseus, escribas, mestres da Lei (conservadores, zelosos, mas sem entendimento e apegados ao poder). Os saduceus eram também religiosos, mas compunham uma classe mais elitizada e de influência política (teologicamente mais liberais). Ainda entre os religiosos, correndo pelas margens, havia a comunidade dos essênios, que viviam separados, numa vida monástica nas montanhas, sem relações com o epicentro político e religioso de Israel (piedade, santidade, separação do mundo). Havia, ainda, os zelotes (grupo radical nacionalista contrário ao poderio de Roma), publicanos e cobradores de impostos (que viviam à serviço do Império extorquindo os próprios irmãos, por isso vistos como traidores), comerciantes, pescadores, agricultores, construtores e o povo comum. Rebeldes e prostitutas representavam uma quantidade considerável. Mulheres e crianças não eram contadas. Doentes eram vistos como amaldiçoados por Deus, e, portanto, abandonados à margem da sociedade. Samaritanos eram desprezados por terem mesclado a raça (dominação Assíria em 722 a.C.), e gentios eram rejeitados como pessoas que Deus não escolheu, que não pertenciam à aliança, às promessas e bênção de Abraão.
O que vemos Jesus fazer nesta teia social é ir em direção aos fracos, desprezados, pecadores do extrato social, como metodologia de sua agenda missionária. Jesus escolheu trabalhar desta forma (Mt 4.13 – Cafarnaum; Is 9 – não no gueto teológico, ou não só nele). Isto confundiu os líderes religiosos, Pilatos, Herodes e o próprio povo, que quis aclamá-lo rei após Jesus multiplicar os pães.
Jesus carregava as multidões, que andavam aflitas, perdidas e carentes. Ele foi confundido com profeta, líder, rei político e libertador para aquele instante de opressão. Mas continuou tocando seu ministério de natureza celestial, no dueto da proclamação e das obras.
Os capítulos 8 e 9 de Mateus mostram o Mestre avançando em direção à missão após pregar um sermão. A agenda missionária de Jesus é vista neste instante enquanto Ele toca e cura um leproso. A Lei de Moisés do AT estabelecia um código de conduta para os contraentes de lepra, que deveriam viver afastados da população, e qualquer que tocasse num leproso ficava cerimonialmente impuro (Lv 13.46). Na sequência, Jesus cura o servo de um centurião romano, estendendo graça a um estrangeiro. Ainda no ritmo da missão, o Senhor restaura a saúde da sogra de Pedro, liberta dois homens endemoninhados de Gadara, salva e cura o paralítico que desceu pelo telhado, chama Mateus, o cobrador de impostos, para ser seu discípulo, e realiza outros atos de misericórdia e cura para com a população. Destaca-se a cura da filha de Jairo e da mulher com hemorragia ininterrupta. Também o caso dos cegos que recuperaram a visão e o homem mudo e endemoninhado que encontrou liberdade e voltou a falar pelo poder de Jesus. O capítulo 9 termina com o suspiro do Mestre pelas multidões oprimidas, sua visão da ceifa divina e seu ensino sobre a oração por obreiros na seara de Deus. Nestes dois capítulos o ministério de Jesus de socorro aos fracos fica evidente.
A agenda de vida e missão do crente e da igreja tem de incluir a compaixão e o socorro à população marginal.
- Sem paternalismo
- Cientes de que nossa ação poderá até ser confundida
- Sem perdermos a perspectiva espiritual e eterna do Evangelho
- Certos de que é pela compaixão de Deus, sabedoria de Deus, e coragem de Deus que nos envolvemos com este tipo de trabalho
- Tanto como indivíduos, como na coletividade do Corpo
- No intuito primário de levar salvação através de uma igreja viva e atuante
Este é sempre um desafio para a igreja de Cristo. Não se acomodar com o mal que há ao seu redor e fazer algo pelas pessoas com um coração tomado de compaixão. Para tanto, é preciso nos arrependermos de nosso individualismo, nosso culto ao consumo, nossa indiferença e nossa teimosia em querermos apenas dizer o que o Evangelho não é, ao invés de vivermos o que ele pode ser em sua plenitude. Que Deus nos dê graça para servirmos os fracos de nosso entorno com a Sua compaixão a fim de levarmos a genuína e eterna salvação.
“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder; o qual andou fazendo o bem, e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.” Atos 10.38
5. Multiplicar Líderes e Enviá-los (10.1,5,16)
Finalmente, após o vislumbre panorâmico de Mateus 4-10, podemos dizer que se fecha um ciclo da agenda missionária de Jesus. É claro que a missão do Mestre não estava acabada. Ele veio para dar a sua vida na cruz pelos pecadores. Mas aqui se conclui uma etapa importante na vida dos discípulos.
O primeiro verso do capítulo dez nos informa que Jesus chamou seus doze seguidores e deu-lhes poder para expulsarem espíritos imundos e curarem toda enfermidade e todo o mal. Os versos sete e oito detalham o tipo de ministração à qual eles estariam autorizados a realizar. Pregariam a chegada do reino dos céus às ovelhas perdidas da casa de Israel. Perceba que é a mesma pregação proclamada por Jesus. Além disso, curariam enfermos, limpariam leprosos, ressuscitariam mortos e expulsariam demônios gratuitamente, visto que receberam tudo de graça. O Mestre os aconselhou a não acumularem bens para si, pois seriam recompensados e teriam a sua paga sob os cuidados de Deus. Jesus os advertiu, também, da maldade e malícia dos homens, que fariam oposição ao ministério e os entregariam aos tribunais.
Todas essas coisas acontecem no contexto de uma palavra muito importante – o envio. Foi Jesus quem a proferiu dizendo “eis que eu vos envio” (Mt 10.16). Vemos que o Senhor se multiplicou na vida de seus alunos, os capacitou para o ministério às multidões e os lançou à população. Aqueles homens foram treinados enquanto observavam o cotidiano do Mestre, e receberam o poder para a realização da divina obra. Em nossos dias, diríamos que Jesus multiplicou líderes e os enviou em Seu nome e autoridade. Um processo intencional de sua agenda missionária.
Nossa agenda de vida e missão deve contemplar o mesmo processo aplicado por Jesus. Devemos ter a mesma visão, o mesmo sonho, para com as pessoas às quais ministramos. Que os nossos queridos irmãos se desenvolvam na fé em Cristo e, a seguir, sejam enviados ao mundo para realizarem a Sua vontade – tanto perto, quanto longe. Nosso objetivo não é termos um feudo eclesiástico, um curral religioso local, onde agimos como dominadores das pessoas. Já disse o apóstolo Pedro que os bispos pastoreiem o rebanho de Deus não por força, ganância ou manipulação, mas com cuidado, de livre vontade e servindo de exemplo ao rebanho. O apóstolo Paulo sofria dores de parto até que Cristo fosse formado nos crentes gentios. E sinalizou claramente aos de Éfeso que o ministério é realizado por todos os crentes, rumo à maturidade de Cristo e à unidade do Corpo. Assim, almejamos o crescimento espiritual dos nossos irmãos, a fim de que sirvam a Deus com poder onde Ele os colocar.
Quando lemos a Grande Comissão e o desenvolvimento da Igreja no livro de Atos aprendemos que nós, também, fomos enviados. O Espírito que disse à igreja de Antioquia que separasse a Barnabé e a Saulo para a obra é o mesmo que nos chama e nos envia para as pessoas da nossa cidade, do nosso bairro e da nossa vizinhança. Não podemos perder de vista a multiplicação de cristãos maduros e capacitados, que sejam enviados à missão sob a autoridade de Jesus. De modo intencional, em nome de Jesus e por uma igreja viva, que trabalhemos incansavelmente por homens e mulheres fiéis que sejam capazes de transmitir a outros o que temos visto e aprendido do Salvador.
CONCLUSÃO
A agenda missionária de Jesus nos inspira para a nossa ação missionária como igreja no mundo. Aprendemos com o Mestre a prioridade da vitória espiritual contra o diabo no deserto. A missão cristã é espiritual, e exige um poder sobrenatural vindo do Alto. Refletimos sobre a importância do discipulado em todo o ministério do Senhor, e como este deve ser nosso princípio de trabalho no reino. Não são os programas bem elaborados ou o marketing de excelência que formarão verdadeiros discípulos, mas a caminhada formativa e interpessoal. Discorremos sobre a pregação da Palavra, que estava presente no dia a dia de Jesus em seu ensino ao povo. Temos que pregar a Palavra, centrados no Evangelho, crentes de que a Escritura é poderosa e útil para levar os homens ao Salvador. Observamos a atitude compassiva do Senhor, de socorro aos fracos, o que a igreja não pode esquecer. Um povo alcançado pela graça não pode assistir a desgraça e permanecer inerte. E finalizamos nossa leitura panorâmica de Mateus 4-10 sublinhando a etapa do envio dos discípulos à missão com a autoridade de Jesus. Cristo nos enviou para fazermos a missão e, assim, enviarmos outros em Seu nome. Creio que temos aqui alguns princípios para a nossa agenda missionária local. Que Deus nos dê a Graça de nos parecermos com Ele na missão!
Original em Teologando
Foto de Charbel Chaves
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