Por Fernando Leite
A Bíblia apoia o estupro? (5)*
O Senhor Jesus e a mulher adúltera
Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras. De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava. Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais. (João 8.1-11)
Essa belíssima história que conta como o Senhor Jesus tratou com o pecado, com uma mulher culpada de adultério e com a hipocrisia dos religiosos, não pode ser usada como argumento que possa contribuir de alguma forma com a cultura do estupro (como foi aqui). Tirar um movimento da narrativa e abandonar o resto desbota o quadro. Olhar para um detalhe desse quadro e colorir como apraz, a corrompe por completo.
A narrativa descreve que a mulher foi flagrantemente surpreendida em adultério, e causa no mínimo estranheza que não tenham trazido o homem também. Podemos especular porque não o trouxeram, mas não poderemos concluir, o que não compromete a história. Sendo verdadeira a informação que ela fora surpreendida em adultério, vamos tirar uma grande lição de como o centro das Escrituras, o Senhor Jesus, tratou com uma mulher e uma sobre quem pesava fortes acusações.
Enquanto para aqueles homens a mulher era somente um pretexto para pegar a Jesus, (6) para ele era uma pessoa que precisava de misericórdia e perdão. Nem o pecado dela, nem ela mesma eram importantes para aqueles homens, pois eles mesmos eram culpados. (9) Para o Senhor Jesus ela tinha valor e foi tratada com respeito que lhe era peculiar inclusive com mulheres. Ele conversou a sós com uma mulher de moral duvidosa em ambiente público (Jo 4). Ele deixou que uma mulher de má reputação expressasse tão emotivamente e publicamente o seu amor e a enalteceu (Lc 7.36-48). Essa e outras história de Jesus com respeito às mulheres nunca passam por qualquer possível consideração de cultura do estupro, mas sim de valorização e respeito.
Sendo aquela mulher pecadora, como eram todos os seus acusadores, temos que reconhecer que ele não foi indiferente com seu pecado e culpa. Ele não a condenou, a protegeu de acusadores e ainda lhe disse que não continuasse em seu pecado (10-11). Ele já demonstrara que tinha autoridade para perdoar, e ainda iria para a cruz levar o castigo do pecado de todos os pecadores, inclusive daqueles hipócritas.
O Senhor Jesus não permitiu que ela fosse condenada, a livrou do constrangimento público, não permitiu que fosse reduzida a uma isca, tratou-a com liberdade e respeito, mesmo que naquele contexto ela representasse risco. Ela era uma pessoa, um ser humano como outro qualquer, criado à imagem e semelhança de Deus, e alvo da redenção que estava para manifestar. Essa história e sua leitura jamais contribuiu ou contribuirá com a cultura do estupro, embora possa ser usada como isca e argumento.
* Título Original. Texto retirado do Facebook.
Tags: Adultério Cultura do Estupro Hipocrisia João Pecador Perdão
