Por Fernando Leite
A Bíblia apoia o estupro? (6)*
O caso de Esdras e a expulsão das mulheres estrangeiras
Uma resposta ao texto “A cultura do estupro também descansa sob a sombra da nossa leitura bíblica.”
A cena descrita em Esdras, à qual o autor faz referência e compara ao que Hitler fez é humanamente chocante, mas nem um olhar isolado, sem considerar os demais fatos que a cercam, dá motivo para entender que isto esteja associado de alguma forma à cultura do estupro.
Lembremos que a violência fazia parte da ação do povo e o narrar a história não promove a cultura do estupro, como ler a história da invasão russa na Alemanha no fim da guerra, em que teriam estuprado dois milhões de alemãs, não contribuem com a cultura do estupro.
Antes de mais nada devemos entender a formação deste povo e sua razão de ser povo de Deus. Foi chamado para ser santo e tinha ordens expressas de não se misturarem aos demais povos para preservarem sua fidelidade a Deus, para que permanecessem na aliança com Deus. A sua fidelidade traria bênçãos e vida, enquanto a infidelidade acarretaria maldição e extermínio. (Lv 26)
Em tempos anteriores aos dias de Esdras e Neemias o povo de Judá estava indiferente e infiel a Deus, com todas as injustiças que podiam cometer uns contra os outros, assim acabaram por receber todos os níveis de disciplina divina e foram dominados e levados para o exílio em Babilônia. Depois de setenta anos Zorobabel, Esdras e Neemias foram protagonistas na história deste retorno de Babilônia para Jerusalém com a reconstrução dos muros, templo, casas e o culto ao Senhor Deus.
Logo que retornaram e reconstruíam o templo foram abordados pelos inimigos que propunham alianças, que prontamente foram rejeitadas. (Ed 4.1-5) Entretanto, posteriormente, o povo volta à infidelidade a Deus (1) deixando suas mulheres e (2) se casando com mulheres dos povos à volta. (Ml 2.13-14) Essa realidade encontrada por Esdras é absurda, pois destrói suas famílias, desobedece a Deus, se colocam novamente na condição de disciplina de Deus e assim ameaçam a sobrevivência da nação.
Nesta situação complexa é decidido que os maridos devem desfazer seus casamentos com mulheres pagãs. Foi uma boa decisão? Podemos facilmente opinar que não. Foi eficaz na solução do problema? A história mostra que não, pois nos dias de Neemias estavam com o mesmo problema, e Neemias não aplicou a mesma medida que Esdras tomara, pois se mostrara ineficiente.
Essa história é a soma de tragédias: infidelidade a Deus, infidelidade às esposas, separação das mulheres pagãs e seus filhos e um novo ciclo de disciplina da nação, mas isso não está relacionado de nenhuma forma com estupro ou cultura do estupro. Acrescentar essa história como argumento de que se pode ler de uma maneira que favoreça a cultura do estupro depende muita criatividade e distorção do leitor.
Lamento essa história de tragédia causada pelo pecado, como também as histórias contemporâneas de descaso com Deus e seus valores, com as graves consequências sociais que ocorrem na igreja e nação brasileira.
* Título Original. Texto retirado do Facebook.
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