Por Joe Carter
Originalmente escrito em inglês em 06 de Janeiro de 2014.
Em novembro de 2013, os cidadãos do Colorado votaram a Emenda 64, que acrescentava à constituição daquele estado a permissão para o uso pessoal de maconha por adultos com mais de 21 anos, bem como para o cultivo comercial, a manufatura e a venda, regulamentando, assim, a maconha da mesma forma que o álcool. Os primeiros estabelecimentos para venda de marijuana para uso recreativo foram inaugurados em janeiro de 2014.
Embora a nova legislação se aplique apenas ao Colorado (o estado de Washington aprovou uma medida similar, embora a maconha ainda seja ilegal em todos os outros estados e na federação), americanos de todo o país estão começando a levantar questões relacionadas ao uso da droga. Para os cristãos, uma das questões mais pertinentes é se o uso da maconha é pecado.
Embora muitos cristãos considerem a resposta a essa pergunta algo bem óbvio e claro, talvez seja útil examinarmos o processo de raciocínio que nos permite determinar o quanto os princípios bíblicos podem ser aplicados a esse assunto.
O que a Bíblia diz sobre maconha?
Assim como no caso do aborto, de armas nucleares e muitos outros temas controversos, a Bíblia não fala especificamente sobre a maconha. Contudo, alguns defensores da droga recorrem à Bíblia – na verdade, ao primeiro capítulo dela – para construírem sua argumentação:
Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. (Gênesis 1:29)
Como a maconha é uma planta, poderíamos considerar que ela foi dada por Deus para nosso “alimento”. Antes de concluirmos isso, contudo, devemos observar que a aplicação do versículo não é adequada ao uso mais popular que se faz dessa erva: o fumo. Não nos alimentamos desse jeito. Então, esse argumento só faria sentido se estivéssemos encarando a maconha como um alimento.
Podemos presumir que ninguém adiciona maconha a um brownie porque ela melhora o sabor. A razão para que essa erva seja adicionada a alimentos tem a ver com o efeito que ela causa nos sentidos, e não com o sabor que ela tem. Mesmo assim, vamos assumir que alguém realmente aprecie o gosto da maconha e seja nutrido ao ingerir as folhas dessa planta. Isso seria pecado?
Raciocínio análogo e a Bíblia
Para darmos uma resposta que esteja fundamentada pelas Escrituras e pela ética cristã, precisamos recorrer a uma analogia. No ensaio “O papel das Escrituras na ética cristã”, James Gustafson descreve o amplamente aceito método da analogia bíblica:
As ações de pessoas e grupos devem ser consideradas moralmente erradas quando elas são similares a ações que, nas Escrituras, em circunstâncias parecidas, são declaradas erradas, ou contra a vontade de Deus. Também devem ser consideradas moralmente erradas as ações que estejam em discordância com atos declarados corretos, ou que estejam de acordo com a vontade de Deus expressa nas Escrituras.
Embora isso soe óbvio, surge a questão de como podemos determinar se uma ação ou uma circunstância é similar a outra que, na Bíblia, é declaradamente errada. O acadêmico do Direito Cass Sunstein explica como podemos aplicar o argumento da analogia:
Esse tipo de pensamento tem uma estrutura simples: (1) “A” tem a característica “X”; (2) “B” partilha dessa característica; (3) “A” também tem a característica “Y”; (4) Pelo fato de “A” e “B” terem a característica “X”, podemos concluir que “B” também tem a característica “Y”.
Há alguma ação nas Escrituras que seja claramente errada, ou contra a vontade de Deus, e que seja similar à situação do uso recreativo da maconha? De fato, há um exemplo claro que é mencionado frequentemente na Bíblia: a embriaguez. (No fim desse artigo, há várias referências bíblicas que tratam de embriaguez e sobriedade.) A embriaguez, segundo a Bíblia, é o estado de intoxicação pelo álcool.
“A” (embriaguez por ingestão de álcool) tem a característica “X” (produz um efeito psicoativo, que afeta a função cerebral, resultando em alterações na percepção, no humor, no nível de consciência, na cognição e no comportamento). “B” (entorpecimento pela ingestão de maconha) partilha dessa mesma característica; porque “A” e “B” têm a característica “X”, concluímos que “B” também partilham a característica “Y” (ser uma ação considerada contra a vontade de Deus, portanto, pecado).
Usando o argumento da analogia, podemos afirmar que, uma vez que é pecado se embriagar pelo consumo de álcool, também é pecado se entorpecer pela ingestão de maconha.
O que constitui embriaguez?
O argumento análogo contra o uso recreativo de maconha parece não ser controverso. Porém, a Bíblia proíbe a embriaguez, mas não proíbe o consumo de álcool – mesmo aquele com fins recreativos. Uma pessoa pode consumir pequenas quantidades de álcool sem qualquer intenção de ficar embriagada. Uma pessoa pode consumir pequenas quantidades de maconha sem a intenção de ficar entorpecida?
Para responder a essa questão, precisamos determinar a quantidade de droga – álcool ou maconha – necessária para levar o corpo ao estado de entorpecimento.
No caso do álcool, a unidade de medida é a “dose padrão”, ou seja, qualquer bebida que contenha 14 gramas de álcool puro (algo como 1,2 colher de sopa). Uma dose padrão é convencionalmente definida como a quantidade de álcool contida em 350 mL de uma cerveja com 5% de teor alcoólico; ou 150 mL de vinho com 12% de teor alcoólico; ou 45 mL (um ‘shot’) de bebidas mais fortes, com 40% de teor alcoólico. Nos Estados Unidos, por exemplo, o estado de embriaguez definido por lei ocorre após o consumo de 4 “doses padrão” para uma mulher de massa corporal média e de 5 “doses padrão” para um homem de massa corporal média.
Para a maconha, porém, uma dose muito menor basta para induzir um estado de entorpecimento. Estudos mostram que o entorpecimento ocorre com a ingestão de menos de 7 miligramas de THC (o componente psicoativo da marijuana). Isso é equivalente a 4 tragadas em um cigarro de maconha.
Se o propósito de consumir maconha fosse nutrição ou apreciação do gosto, poderíamos ingerir uma pequena quantidade sem que o efeito entorpecente se manifestasse – mais ou menos 200 miligramas de folha de maconha. Em tese, então, seria possível ingerir maconha sem intenções pecaminosas. Mas, é claro, em quase todos os casos, o uso recreativo de maconha tem a intenção de se chegar a algum nível de entorpecimento. E se o objetivo do uso recreativo de maconha é ficar entorpecido, então, é claramente uma ação pecaminosa.
Uma amostra de versos bíblicos relacionados a embriaguez e sobriedade.
Efésios 5:18 – Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito.
Gálatas 5:21 – e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.
1 Pedro 5:8 – Sejam sóbrios e vigiem.
1 Coríntios 6:10 – nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.
Provérbios 23:20-21 – Não ande com os que se encharcam de vinho, nem com os que se empanturram de carne. Pois os bêbados e os glutões se empobrecerão, e a sonolência os vestirá de trapos.
Provérbios 23:29-35 – De quem são os ais? De quem as tristezas? E as brigas, de quem são? E os ferimentos desnecessários? De quem são os olhos vermelhos? Dos que se demoram bebendo vinho, dos que andam à procura de bebida misturada. Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho, quando cintila no copo e escorre suavemente! No fim, ele morde como serpente e envenena como víbora. Seus olhos verão coisas estranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas. Você será como quem dorme no meio do mar, como quem se deita no alto das cordas do mastro. E dirá: “Espancaram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, mas nem percebi! Quando acordarei para que possa beber mais uma vez? ”
Isaías 5:11 – A i dos que se levantam cedo para embebedar-se, e se esquentam com o vinho até à noite.
Oséias 4:11 – à prostituição, ao vinho velho e ao novo, o que prejudica o discernimento do meu povo.
1 Coríntios 5:11 – Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer.
Isaías 28:7 – E estes também cambaleiam pelo efeito do vinho, e não ficam de pé por causa da bebida fermentada: Os sacerdotes e os profetas cambaleiam por causa da bebida fermentada e estão desorientados devido ao vinho; eles não conseguem ficar de pé por causa da bebida fermentada, confundem-se quando têm visões, tropeçam quando devem dar um veredicto.
Mateus 24:48-49 – Mas suponham que esse servo seja mau e diga a si mesmo: ‘Meu senhor se demora’, e então comece a bater em seus conservos e a comer e a beber com os beberrões.
>> Original em The Gospel Coalition
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