O documento antigo conhecido como Epístola de Barnabé é uma carta preservada pelo Códice Sinaítico datado entre o terceiro e quarto século depois de Cristo. Trata-se de uma versão completa do Novo Testamento, que tem anexada após Apocalipse, juntamente com a obra do Pastor de Hermas. Entretanto, a antiguidade do documento é atestada pelas citações que outros pais da Igreja fazem dela bem antes do Códice mencionado.
Clemente de Alexandria (150-215dC) já fazia uso dessa epístola citando-a nos livro Stromata e O Instrutor. Além disso, outros fatores internos da carta sugerem que tenha sido escrito ainda mais cedo. Por exemplo, nos versos 3-5 do capítulo 16 a Epístola apresenta um quadro sobre os judeus que tendo o Templo sido destruído de acordo com a profecia do nosso Senhor, eles agora saem à guerra, embora sejam escravos dos seus inimigos. Embora isso possa ser identificado em várias ocasiões na história de Israel, é importante considerar o verso quatro do nono capítulo que apresenta um fato interessante: A circuncisão havia sido abolida, fato que ocorreu sob a ordenação de Adriano. Ou seja, essa carta foi escrita entre os dois fatos apresentados por ela mesma, sendo datada aproximadamente por volta de 130dC.
Nessa carta, encontramos algumas interessante alegações sobre Jesus Cristo, sua historicidade e visão de outro ponto de vista sobre sua pessoa. Como já vimos anteriormente, a visão do autor dessa carta também é perpassada pela doutrina bíblica, mas em alguns casos manifesta-se de maneira um pouco diferente, detalhes que não consideraremos, pois temos por propósito encontrar evidências da historicidade de Cristo em documentos Cristãos antigos.
Na Epístola de Barnabé, Jesus é apresentado como Cristo apenas cinco vezes (EpBar.1.1; 2.6; 12.1, 10-11), do mesmo modo que apenas poucas vezes Ele é chamado de Senhor. Nas declarações que faz sobre Jesus como Cristo, ele também atesta seu amor pelos cristãos (1.1), o fato de que em sua morte aboliu todas as coisas relacionadas aos sacrifícios judaicos (2.6), sua morte na cruz como cumprimento profético (12.1), sua descendência de Davi e Senhorio de Cristo tal como apresentado pelas profecias. Nessa mesma epístola o sacrifício de Cristo é declarado como o critério divino para nos retirar da corrupção, nos direcionar na santidade e para remissão de pecados (5.1), sendo apresentado como Senhor ao entregar sua vida por nós.
Na visão extremamente alegórica dessa carta, Jesus é apresentado como uma referência profética estabelecida por um detalhe apresentado no passado, como um tipo de determinada declaração vétero-testamentária. Nesse modo de ver, o autor da Epístola de Barnabé apresenta a Cristo como tipo do sacrifício completo em relação a oferta de Abraão de Isaque (7.3), como tipo da ovelha sem mácula que a lei exigia para o sacrifício expiatório (7.10), como uma referência aos espinhos colocados na lã como um tipo do sofrimento de Cristo (7.11), como um tipo de Moisés pois ele revela a Cristo (12.5) e por fim, atesta que a encarnação é verdadeira física e tipicamente (12.9).
Apurando um pouco da visão do autor da Epístola de Barnabé, entendemos que de modo geral Jesus Cristo é Senhor (1.1; 26; 14.5) amado (4.8), criador de todas as coisas (12.7), verdadeiro Filho de Deus (12.9) e imagem de Deus (12.6), que foi verdadeiramente feito carne (6.9), e através de sua encarnação sofreu verdadeiramente (7.10-11; 12.5), vindo a morrer na cruz (8.5) e com isso conceder graça e redenção (9.8), e também ressuscitou e ascendeu aos céus (15.9) e hoje deve ser o alvo da fé cristã (11.10).
Apesar de poucos dados especificamente históricos, como um cético gostaria de encontrar, vemos nas declarações dessa carta, uma visão diferenciada da visão tradicional cristã, mas que ainda assim, apresenta claras evidências de proximidade com o ensino apostólico. E sendo assim, encontramos mais um testemunho antigo da propagação da mensagem dos apóstolos, o que mais uma vez confirma que Jesus Cristo era sem considerado uma figura histórica, muito embora apresentado como verdadeiro Filho de Deus.
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