As recentes tragédias, nacionais e internacionais, de acidentes e guerras, noticiadas por todos os veículos de comunicação, mais uma vez levantou a questão: onde estava Deus na hora da tragédia? Essa pergunta ecoa todas as vezes em que tragédias ocorrem. Se estoura uma guerra, “onde estava Deus que não a impediu?”. Se barrancos desabam sobre as casas, “por que Deus permitiu tal coisa?”. Se um terremoto devasta uma região ou até um país, “como pode um Deus bom existir se coisas ruins acontecem?”.
As afirmações da Bíblia sobre a soberania de Deus aplicada à história da humanidade são tantas e tão contundentes que não há como atacá-las ou negá-las. Ele é um Deus que controla tudo que acontece. Entretanto, as dúvidas dos estudantes das Escrituras não se dão somente à soberania em si, mas sobre os propósitos de Deus em um caso de uma terrível tragédia. Para o teísmo aberto, Deus nunca teria propósitos em uma catástrofe, pois sua vontade teria relação unicamente com o amor e com a felicidade de todas as pessoas.
Quando olhamos para as Escrituras em busca de respostas sobre que propósitos Deus teria em tragédias, em qualquer outra ocorrência ou nos rumos que a história toma, percebemos que não é possível sondar os intentos e a mente do Senhor. Depois de escrever o trecho que mais fala sobre a soberania de Deus na história e na salvação e condenação dos homens, o apóstolo Paulo demonstra sua perplexidade diante da impossibilidade humana de compreender os planos do Senhor, dizendo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?” (Rm 11.33-35).
Apesar dessa limitação humana no campo do conhecimento da mente de Deus, olhando para situações semelhantes nas Escrituras é possível notar alguns propósitos do Senhor que são concomitantemente viabilizados por meio de uma situação de crise ou de tragédia:
A) O BEM DOS CRENTES QUE SOBREVIVEM À TRAGÉDIA. Nem todo benefício da vida cristã vem da alegria e do consolo. O crescimento do servo de Cristo vez por outra se dá no meio de provações. É por meio delas que eles desenvolvem a dependência de Deus, aprendem a ser fiéis em tudo e são despertados para a necessidade de nutrir a esperança futura. Por isso, Tiago afirma: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tg 1.2-4).
B) O TRASLADO DOS CRENTES QUE MORREM PARA JUNTO DE DEUS. A vida do homem nesse mundo está longe de ser a realidade final da sua existência. Mais ainda do servo de Deus, visto que aguarda uma pátria e uma existência superior: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Fp 3.20,21). Desse modo, a morte, seja em uma tragédia, seja em uma cama confortável, sempre leva o crente à presença maravilhosa do Senhor. O cristão não teme a morte, pois seu segundo estado é sempre melhor que o primeiro, pelo que Paulo declarava seu “desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23).
C) O CONVITE DE CONVERSÃO AOS INCRÉDULOS. Um evento de natureza catastrófica costuma assustar muito os homem e fazer temer aqueles que não têm a paz que vem da certeza da salvação e da vida eterna. Nesses momentos, é muito comum homens e mulheres refletirem sobre a transitoriedade da vida humana e sobre a necessidade de se buscar um abrigo seguro que os proteja, não dos efeitos das catástrofes, mas dos efeitos da morte. Desse modo, muita gente é chamada por Deus à salvação em Cristo por meio de situações catastróficas. As igrejas e as agências missionárias, sabendo disso, sempre se empenham por divulgar a mensagem de Cristo aos sobreviventes de tragédias como as do Japão, do Haiti e de Petrópolis (RJ). Um exemplo da oportunidade evangelística em uma crise é o do terremoto de Filipos promovido pelo Senhor para aliviar Paulo e Silas. O carcereiro de Filipos, vendo as celas abertas depois de um terremoto, intentou tirar sua vida. Foi quando ele ouviu a mensagem do evangelho e foi salvo por Cristo: “De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão, abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos! Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa” (At 16.26-28,30-32).
D) A PUNIÇÃO DE HOMENS REBELDES. Tragédias também podem servir a propósitos punitivos do Senhor em relação a homens que se mantêm rebeldes à sua Palavra e distantes da sua santidade. Basta olhar para a rebelião no meio de Israel liderada por Corá, Datã e Abirão (Nm 16). Deus resolveu a questão punindo os rebeldes. O modo da punição foi um tremor de terra que engoliu os homens a quem o Senhor abateu: “E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus bens. Eles e todos os que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação” (Nm 16.31-33).
E) OS SINAIS DOS TEMPOS. Jesus utilizou essa expressão (Mt 16.3) para dizer que alguns eventos, como sua ressurreição, apontam para a veracidade da revelação e para o progresso do curso da história em direção aos eventos escatológicos. Antes desses dias, disse Jesus, muitas coisas deveriam acontecer, incluindo tragédias: “E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares” (Mt 24.6,7).
Com tudo isso em mente, mesmo sem saber quais propósitos foram efetivados por Deus, como o crente em Cristo pode encontrar consolo em um momento de tamanha tristeza?
Em PRIMEIRO LUGAR, os crentes encontram consolo no conhecimento de que os propósitos divinos, por mais misteriosos que nos pareçam, são cumpridos nesses eventos e nos demais a fim de glorificar seu nome, edificar a igreja, chamar perdidos ao arrependimento, punir o pecado e anunciar o retorno de Cristo. Em tudo, inclusive nos eventos tristes que não compreendemos, a vontade de Deus é “sempre boa, perfeita e agradável” (Rm 12.2).
Em SEGUNDO LUGAR, os crentes encontram consolo no conhecimento de que, um dia, seremos reunidos novamente aos nossos irmãos de fé que partiram, razão pela qual o apóstolo encoraja os crentes dizendo: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4.13-18).
Consolemo-nos com essas palavras e com a esperança da vida eterna. E que o nome de Jesus Cristo seja glorificado em nossas vidas quando estamos a sorrir e também quando estamos a chorar.
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