Por David Jones
Em um post anterior, vimos que a Bíblia aborda o tema do trabalho muitas vezes, sempre recomendando e com uma perspectiva positiva sobre o assunto.
Apesar das descrições e representações do trabalho na Bíblia, muitos de nós continuamos com ideias erradas sobre ele. Abaixo, seguem algumas das confusões mais comuns:
1 – Trabalho é ruim. Lazer é bom.
Muitas pessoas – incluindo cristãos – têm o pressuposto de que o trabalho é ruim e o lazer é bom. Algumas pessoas veem o trabalho como um mal necessário para ganhar dinheiro. Percebemos isso pela maneira como as pessoas falam de seus empregos, comemoram com prazer a chegada das férias e dos fins de semana e sonham com a aposentadoria. Dessa perspectiva, o trabalho se torna um fim para um meio: nós trabalhamos para viver e vivemos para nos divertir aos fins de semana, limitados apenas por quanto dinheiro temos para gastar nisso.
Não estou tentando negar ou ignorar as dificuldades reais que o trabalho nos traz ou os benefícios do descanso. Na verdade, nosso trabalho pode mesmo nos deixar moídos. Independente de qual seja nossa ocupação, todos nós temos épocas em que o trabalho parece ser chato, sem sentido, frustrante e exaustivo. A Bíblia nos diz que o trabalho se tornou difícil, a criação foi amaldiçoada e nossos colegas de trabalho são hostis ou indiferentes ao cristianismo.
Compreensivelmente, muitas pessoas sentem que falta propósito em seus trabalhos, duvidam de suas escolhas de emprego, estão incertas sobre a trajetória de suas carreiras ou se sentem inseguras em suas empresas.
O pecado que contamina o ambiente de trabalho é real – tanto em nós quanto em nossos colegas – e todos podemos dar testemunho de termos provado isso neste mundo caído.
Mas ter de lidar com os efeitos inevitáveis do pecado em nosso trabalho é diferente de afirmarmos categoricamente que o trabalho é ruim e o lazer é bom. A Bíblia descreve o trabalho como um privilégio jubiloso, não uma necessidade pesarosa. Deus é um trabalhador, e fez a humanidade para que ela trabalhasse. Na verdade, nosso trabalho diário é um dos jeitos mais importantes pelos quais podemos carregar a imagem de Deus no mundo físico.
Entender mal esse conceito nos levará a consequências práticas severas: em vez de dominarmos nosso trabalho, nos tornaremos escravos dele; em vez de o governarmos, seremos governados por ele. Este não é o plano de Deus para seus filhos.
2 – Alguns trabalhos são melhores que outros.
Outro erro quando pensamos no trabalho em nossa cultura contemporânea tem a ver com os tipos de empregos que temos. Por exemplo, muitas pessoas veem trabalhos voltados para servir como sendo inferiores aos trabalhos que dependem do intelecto. Essa é uma perspectiva incorreta, porque, embora a Escritura de fato proíba algumas atividades – tais como prostituição, assassinato ou roubo – ela não favorece um trabalho em detrimento de outro. Alguns trabalhos requerem mais esforço manual, enquanto outros demandam mais esforço mental. As Escrituras não têm preconceito para com nenhum tipo de trabalho.
Uma das distorções que vemos é nossa tendência a favorecer empregos que pagam salários mais altos (e muitas vezes as pessoas que têm esses empregos) em detrimento de outros trabalhos que pagam menos. Por exemplo, quando alguém fala do desejo de achar “um bom emprego”, com frequência o que se está querendo dizer é “um trabalho que pague melhor”. Trabalhos que pagam pouco não são cobiçados. Mas falando de forma prática, percebemos que a definição de um bom emprego deveria ser um trabalho que esteja de acordo com as habilidades do indivíduo, sua preparação educacional, experiência de vida e dons espirituais – independente do salário.
Isso não significa que a renda não deva ser levada em conta. Na verdade, a compensação pela produção não é apenas importante, mas também questão de justiça. Portanto, ver trabalhos com salários altos como superiores àqueles que pagam pouco é um engano.
3 – “Sagrado” é melhor que “secular”.
A objetividade das Escrituras com relação aos tipos de trabalho também se aplica à distinção que se faz com frequência entre o “sagrado” e o “secular”. É fácil ver que aqueles que têm empregos “sagrados”, como pastores e missionários, estão fazendo a obra do Senhor. É muito mais difícil conectar trabalhos “seculares” ao esforço em prol do Reino. É importante entender que esta divisão entre o trabalho sagrado e o secular não existe nas Escrituras.
Certamente o trabalho do clero é funcionalmente diferente do trabalho dos leigos, mas o mesmo pode ser dito ao compararmos duas categorias quaisquer de trabalho. A Bíblia ensina que, independentemente do tipo de trabalho que tenhamos, todos os crentes são parte de um clero de sacerdotes (1 Pedro 2:9), estão envolvidos com o trabalho do Reino (Lucas 11:2) e trabalham para glorificar a Deus (1 Coríntios 10:31). Portanto, tanto o pastor quanto o encanador estão fazendo o trabalho do Senhor.
Embora reconhecer alguns dos conceitos errados que temos com relação ao trabalho seja importante, seria impossível delinear e analisar cada erro pessoal e cultural. Mas um jeito claro de identificar e corrigir toda distorção da doutrina cristã é focar no que a Bíblia realmente ensina.
Publicação original em IntersectProject.org
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