Por Vaneetha Rendall Risner
Uma das coisas mais difíceis para mim sobre o sofrimento é a solidão.
Inevitavelmente eu me sinto isolada. Ainda que meus amigos possam me ajudar, eles não conseguem se simpatizar com a minha tristeza. É um poço muito fundo.
Quando a perda é recente, pessoas ficam ao redor. Elas ligam, oferecem ajuda, enviam cartões e trazem refeições. O cuidado delas ajuda a aliviar a dor, mas por um tempo somente. Então elas param com as refeições, o telefone fica mudo e a caixa dos correios vazia.
Ninguém sabe o que dizer. Eles não têm certeza o que perguntar, por isso, muitos não dizem nada. Às vezes estou de boa com isso. É difícil falar sobre a dor. E eu nunca quero aquele sentimento de dó, com um olhar triste, o aperto no braço, e a pergunta silenciosa: “como você está?”
Eu não sei como responder a esta pergunta. Eu não sei como eu estou. Parte de mim está desmantelada. Eu nunca serei a mesma pessoa. Minha vida está radicalmente alterada. Todavia, outra parte de mim anseia pela normalidade, um retorno à familiaridade; para se misturar com a multidão.
Eu não sei o que eu quero
Eu quero ser agradecida pelo apoio dos meus amigos. Nos melhores dias eu consigo enxergar e apreciar todo o esforço deles. Porém, nos dias ruins, eu fico frustrada e irada. Eu me pergunto porque as pessoas não estão atendendo às minhas necessidades. Elas não sabem o que eu quero? Eles não conseguem ver os sinais? Por que elas não podem descobrir o que me faz me sentir melhor? Elas não podem porque eu mesma não me conheço.
Essa é a parte mais insana do luto. Eu não sei o que eu quero. Eu não tenho ideia o que irá me satisfazer. E, de alguma forma, seja lá o que as pessoas fazem, elas não conseguem satisfazer minhas expectativas. Expectativas que são inconstantes e unilaterais, que refletem a minha auto-absorção.
Dor intensa, seja ela física ou emocional, tem o seu jeito de fazer isso com a gente. Eu me tornei fixada em mim mesma – minhas necessidades, minha dor, minha vida. De alguma forma, eu me esqueci que as outras pessoas têm suas próprias dores e suas próprias vidas. Elas querem ajudar, mas não conseguem fazer muito.
Sozinha com Deus
Enquanto eu estou frustrada porque os outros não têm aliviado a minha dor, eu preciso me lembrar que há uma parte no sofrimento que eu mesma preciso suportar.
Paulo diz sobre essa tensão. Em Gálatas 6:2, ele diz: “Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo.” Três versículos depois, ele fala dela novamente: “pois cada um deverá levar a própria carga” (Gl 6.2). A palavra que Paulo usa para carga implica numa carga que excede a nossa força. Nos dias de Paulo, viajantes geralmente tinham cargas pesadas para transportar. Alguns ajudavam a carregá-las por um tempo. Sem ajuda, a carga deles poderia esmagar.
Isso pode ser comparado à ajuda tangível que podemos oferecer – nossos atos de serviço, nossas orações contínuas, nossa presença física.
A palavra dele para carga é algo proporcional à nossa força individual. Ela poderia ser um pacote carregado por um soldado. Talvez pudesse ser o trabalho contínuo de processar nosso luto. A parte que ninguém pode carregar para nós. A carga que nós mesmos devemos levar. Até mesmo o amigo mais próximo não consegue estar conosco em nossa dor mais profunda. Eles até podem chorar conosco, mas, em última análise, eles não conseguem andar conosco.
Jesus entende isso. Em Seu momento de maior necessidade, Seus amigos o abandonaram. Amigos que disseram que morreriam por Ele nem mesmo conseguiram ficar acordado e orar com Ele. Assim, no jardim Jesus encontrou-se sozinho. Com Deus, exatamente como nós. Ao final, somos todos deixados sozinho com Deus.
Para onde eu vou?
Então, para onde nós vamos quando nos sentimos secos e vazios? Quando ninguém entende nosso sofrimento ou parece se importar? Quando nos sentimos desencorajados, cansados e insuportavelmente sozinhos?
Leia a Bíblia e ore. Leia a Bíblia mesma que pareça que você está comendo papelão. Ore mesmo que você se sinta falando com a parede.
Isso se parece muito simplista? É assim mesmo. Ao mesmo tempo, não lhe parece excessivamente difícil? É difícil.
Entretanto, ler a Bíblia e orar foi o único jeito que eu já encontrei para lidar com meu luto. Não há atalhos para a cura. Com frequência eu desejo que existissem atalhos, porque eu gostaria de vencer a dor e seguir adiante. Mas, de muitas maneiras, eu sou grata pelo processo transformativo que eu passo com meu sofrimento, cujo requerimento é que eu leia a Bíblia e ore.
Não apenas lendo
Quando eu leio, eu não quero dizer que eu somente leio as palavras do texto por um tempo específico. O que eu quero dizer é que eu medito nelas. Eu escrevo o que Deus está dizendo para mim, pedindo a Ele que se revele a mim, crendo que Ele usa as Escrituras para me ensinar e me confortar, para me ensinar coisas maravilhosas de Sua lei (Sl 119.118). Para me consolar com Suas promessas (Sl 119.76).
Ler dessa forma transforma papelão em maná. Eu ecoo as palavras de Jeremias, que disse: “Quando as tuas palavras foram encontradas eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo, pois pertenço a ti, Senhor Deus dos Exércitos.” (Jr 15.16)
Não apenas orando
Quando eu oro, eu não quero dizer uma recitação habitual de pedidos e palavras sem sentido. Com oração, o que eu quero dizer é: falar com Deus tão honestamente quanto eu falaria com um amigo. Orando por meio de um salmo. Desesperadamente clamando para Ele. Pedir ajuda para Ele. Esperar que Ele responda.
O que me transforma é investir tempo com Jesus, sentar-me com Ele, lamentar com Ele, falar com Ele e ouvi-lO.
Ainda que eu que eu goste de amigos me consolando, ninguém jamais me conheceu como Deus conhece. Ninguém já teve uma palavra que me mudou tanto quanto a Escritura Sagrada. E a presença de ninguém jamais me encorajou da forma como o Espírito Santo já me encorajou.
Meus amigos podem me ajudar, mas eles não podem me curar. Apenas o Deus vivo e sua Palavra viva que pode fazer isso.
Este caminho do sofrimento, da mágoa, da solidão, leva-me diretamente ao Salvado. Este é o único caminho que vale a pena, pois somente Jesus pode me curar.
Fonte: Desiring God
Tradução de T. Zambelli
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