Por Charles Hodges
Um artigo recente publicado em um periódico científico da área médica é um lembrete de que antidepressivos não são isentos de efeitos colaterais ou riscos. (i) Pesquisadores descobriram que indivíduos com idades entre 10 e 24 anos tratados com doses iniciais maiores que o normal tinham duas vezes mais chances de terem pensamentos suicidas do que os pertencentes ao grupo tratado com placebo (uma pílula que parece a original, mas não contém o princípio ativo). Nessa mesma faixa etária, os indivíduos tratados com doses iniciais maiores tinham duas vezes mais chance de causarem danos físicos a si mesmos. (ii) (iii)
Essa informação é muito importante por várias razões. A primeira é que ninguém deveria pensar que medicamentos inibidores da recaptação de serotonina, tais como Prozac, Zoloft, Cipramil e Lexapro são tão seguros quanto tomar Tylenol ou Aspirina. Aqueles são medicamentos que podem acarretar sérios efeitos colaterais. Pacientes aos quais são prescritas tais drogas deveriam pedir aos médicos que os informassem detalhadamente sobre os possíveis efeitos colaterais.
Segundo, é vital ter certeza de que o indivíduo que está sendo tratado com tais medicamentos está, de fato, lutando contra a depressão. Esse é um problema real hoje, porque, desde os anos 1980, a tristeza normal tem sido encarada como depressão. Pessoas que estão enfrentando o luto por causa de uma perda não têm uma doença. Ao serem tratadas com uma medicação feita para combater uma doença, elas estarão apenas tristes, mas terão de enfrentar os efeitos colaterais do remédio.
Terceiro, é importante notar que pessoas mais jovens parecem ter mais problemas com os efeitos colaterais de antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina do que os mais idosos. Os pesquisadores notaram que “a eficácia da terapia com antidepressivos em jovens parece ser mais modesta”. Dito isso, tomar medicamentos com efeitos colaterais e riscos significativos deveria ser o último recurso, não a primeira coisa a ser pensada.
Em “Bom Humor Mau Humor” (“Good Mood Bad Mood”, em tradução livre), falo da pesquisa sobre a importância de lidar com pessoas em luto por causa de perdas de forma diferente de como lidamos com pessoas que não sabem nos dizer o porquê de estarem tristes. (iv) Esse segundo grupo tem sido descrito ao longo do tempo como portador de “tristeza desordenada” e vem sendo usado como um dos principais critérios para se diagnosticar depressão.
Mais de 90% dos indivíduos que carregam o rótulo da depressão hoje são capazes de nos dizer quando começou e quando terminou. É mais provável que eles estejam lidando com uma tristeza normal do que com uma doença. E ao mesmo tempo, aparentemente, cerca de 90% das pessoas que usam antidepressivos não têm nenhuma melhora superior a que teriam se estivessem sendo tratadas com placebo. (v)
O primeiro princípio da medicina que os médicos devem a prender é não fazer o mal. Poucos de nós na medicina ficaríamos satisfeitos com essa simples afirmação. Eu diria que a maioria de nós, médicos, estamos sempre à procura de melhores maneiras de ajudar e, sim, de curar. Mas o benefício de se fazer uso de remédios deve compensar os riscos.
Quando nós consideramos o problema significativo dos efeitos colaterais, vemos que a maioria das pessoas enfrentando tristeza conseguiriam ser ajudadas apenas conversando com pessoas treinadas, cheias de habilidades e de compaixão. E muitos de nós poderíamos tirar grande proveito do aconselhamento bíblico, que lida com como Deus quer que amemos e ajudemos as pessoas em meio às tristezas delas.
>> Original em Biblical Counseling Coalition
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