Por Andreas J. Köstenberger
Escrever o livro The Final Days of Jesus [Os Últimos dias de Jesus] tem sido uma grande experiência de vida. Mergulhar na última semana da vida terrena de Jesus, que culmina em sua morte e ressurreição, nos dá uma nova apreciação de quão vital essa semana é na história humana.
Neste breve artigo eu apresento as cinco principais razões do porquê você também deve refletir nos últimos dias de Jesus nesta época do ano; assunto que, de fato, deve ser refletido em qualquer outra época do ano.
1. Esta é a semana mais importante na vida da pessoa mais importante que já viveu!
Mesmo o ator agnóstico Hugh Bonneville, mais conhecido pelo seu papel como Lord Grantham em Downtown Abbey, concorda: “Seja você uma pessoa de fé ou não, você não pode evitar o fato de que os últimos seis dias da vida deste homem e a sua morte mudaram o mundo.” Bonneville diz isso em seu documentário de uma hora – Jesus: Countdown to Calvary [Jesus: Contagem Regressiva para o Calvário], referindo-se aos “seis últimos dias de Jesus” como o tempo entre o Domingo de Ramos e a Sexta-Feira Santa, ao qual eu adicionaria o Domingo de Páscoa.
Os quatro Evangelhos devotam extensa cobertura à última semana de Jesus, tanto que um grande conhecido erudito Alemão, Ernst Käsemann, celebremente escreveu que o Evangelho de Marcos é “uma narrativa da paixão com uma introdução extensa.” A vida e o ministério terreno de Jesus têm seu clímax nos eventos que cercam sua morte, sepultamento e ressurreição, eventos históricos que são o coração do evangelho cristão, os quais indisputavelmente impactaram o mundo.
2. Em nossas vidas ocupadas por tantas coisas, muitas boas, outras nem tão boas assim ou essenciais, refletir na última semana de Jesus ajudará a focar novamente nossas vidas naquilo que é central à nossa fé.
Paulo escreveu à igreja de Corinto, uma rica cidade portuária, que ele resolveu não pregar nada, exceto sobre o Cristo crucificado (1Co 2.2). Ele notou que a mensagem da cruz era loucura para aqueles que pereciam, mas vida para aqueles que acreditavam (1Co 1.18). Quando eu falo ou ensino, em quase todos os assuntos, há um chamado consistente de se pregar a cruz. Se eu negligencio chamar a atenção para este elemento vital da mensagem do evangelho – o ingrediente mais essencial para a salvação e perdão do pecado que não se encontra em qualquer um, exceto em Jesus – eu perdi o ponto principal da mensagem.
3. Refletir na última semana de Jesus lhe ajudará a entender melhor os Evangelhos bíblicos.
De fato, há somente um evangelho, o evangelho quádruplo, de acordo com quatro testemunhas: Mateus, Marcos, Lucas e João. Lembre-se que o livro de Deuteronômio estipula que cada questão precisa ser definida por no mínimo duas ou três testemunhas (Dt 19.15). Reflita que Deus, em sua providência, nos deu os quatro Evangelhos – um emaranhado de riquezas que testificam a narrativa, a história de Jesus! Ainda que eruditos, por vezes, identifiquem o relacionamento de Mateus, Marcos e Lucas como o “problema Sinótico”, revelando um crítico preconceito em relação à confiabilidade destes escritos, a questão deveria ser vista como a “benção sinótica” ou a “oportunidade sinótica”. Indiscutivelmente, ter quatro evangelhos que complementam e suplementam um ao outro é um benefício e não um fardo.
Veja, por exemplo, como as aparições da ressurreição de Jesus espalhadas pelos diferentes Evangelhos, em conjunto, revelam a história completa. Os Evangelhos (e as cartas de Paulo) registram aproximadamente doze aparições da ressurreição de Jesus aos seus seguidores. Nenhum deles tem todas as aparições, mas cada um, exceto por Marcos, que termina com um quebra-cabeça, apresenta pelo menos uma, se não dois ou mais dessas aparições. Tomados juntos, os escritos do Novo Testamento oferecem um relato extremamente completo do primeiro dia ocupadíssimo de Jesus, e a primeira semana, após a ressurreição. Em dado ponto, Paulo nos diz que Jesus apareceu para 500 pessoas ao mesmo tempo (1Co 15.6)!
Perceba também que os Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) focam no julgamento de Jesus diante do Sinédrio, enquanto João menciona o julgamento judeu apenas de passagem, somente num único versículo (João 18.28). Em vez disso, João foca na audiência informal diante de Anás, o sumo-sacerdote patriarca e no julgamento romano diante do governador, Pôncio Pilatos. Aqui nós vemos como João pressupõe e deliberadamente suplementa o relato dos Sinóticos. Dessa forma, enquanto você pode obter a história dos últimos dias de Jesus em qualquer um dos quatro Evangelhos neotestamentários, para se obter um quadro completo você precisa ler todos eles.
4. Refletir nos últimos dias de Jesus é um exercício valoroso em qualquer dia do ano, mas é especialmente benéfico no período em que toda a cristandade celebra a Páscoa, enquanto o resto do mundo assiste e até promove especiais de Páscoa nos noticiários da internet e televisão.
Ponderar o significado dos últimos dias de Jesus na(s) última(s) semana(s) antes da Páscoa pode nos ajudar quando dialogamos com vizinhos sem igreja, amigos ou parentes que vão à igreja apenas uma ou duas vezes por ano: no Natal e no Domingo de Páscoa. Embora não precisemos reencenar os eventos da semana final de Jesus, como os católicos romanos fazem em suas estações para a cruz na Via Dolorosa, fazemos bem em refletir sobre a extensão da dor que Jesus suportou para nos salvar. Meditar nessas verdades pode ser um devocional profundo e uma experiência espiritual transformadora. Também pode nos ajudar a conduzir outros à fé, ou pelo menos apontá-los para Jesus, enquanto aproveitamos as oportunidades para explicar a eles o verdadeiro significado da cruz.
Eu ainda me lembro, quando incrédulo, que olhei no crucifixo de uma igreja católica romana na qual eu ia quando menino, e fiquei totalmente sem entender do porquê de Jesus estar pendurado na cruz. Eu me lembro que pensei: “por que ele está lá? O que ele está fazendo?” Eu não tinha ideia do porquê Jesus, o Deus-homem, devia morrer na cruz como o substituto sem pecado para o meu pecado, para que então eu fosse perdoado e reconciliado com Deus. Foi aqui que Jesus desviou a ira de Deus que repousava sobre mim, não apenas porque eu havia cometido um erro, mas porque eu era (e ainda sou) um pecador. Porém, agora, Jesus pagou por todos os meus pecados passados, presentes e futuros. Eu agora entendo e aprecio a incrível esperança de passar a eternidade com Deus no céu.
Encerro meu artigo com a razão mais importante:
5- No fundo, a verdadeira fé cristã não é meramente um conjunto de crenças abstratas ou uma lista de doutrinas para serem afirmadas. Pelo contrário, é uma série de eventos que ocorreram historicamente na vida de Jesus: sua crucificação, seu sepultamento e sua ressurreição. A grande narrativa da Escritura chega ao seu clímax na representação histórica de Jesus e da salvação que ele proporcionou.
Sim, o cristianismo é fundamentalmente centrado numa pessoa: o Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Messias, a Palavra de Deus encarnada. A fé cristã é uma fé profundamente pessoal. Em seu coração, o cristianismo é Jesus. E a história de Jesus é mais do que um mero conto – é a verdadeira história. Jesus morreu, foi sepultado e ressuscitou dos mortos historicamente (não apenas textualmente, como um de meus alunos certa vez disse!). Paulo acertadamente afirma, de maneira enfática, que se Jesus não ressuscitou dos mortos, nós ainda estamos em nossos pecados e nossa fé é vã (1Co 15.14, 17).
Além do mais, a crucificação, o sepultamento e a ressurreição de Jesus estão inextricavelmente ligados entre si. Se Jesus tivesse simplesmente morrido e sido sepultado, mas não tivesse ressuscitado dos mortos, sua morte nos salvaria? Lógico, esse é apenas um quadro hipotético, porque Jesus, de fato, ressuscitou dos mortos. Mas, se ele não tivesse, eu acredito que sua morte teria sido insuficiente, porque é por meio de sua ressurreição que Jesus foi vindicado por Deus, levantou-se triunfantemente da sepultura e abriu para nós a possibilidade de compartilharmos com Ele da nova vida.
Como Paulo diz, Jesus foi o primogênito dentre os mortos (Cl 1.18). Sua ressurreição é essencial à nossa fé. Por isso que os primeiros cristãos não paravam de proclamar a ressurreição. Todos estes três eventos são essenciais e caminham juntos: a cruz, o sepultamento e a ressurreição.
A cruz é onde Jesus, efetivamente, morreu para a nossa redenção. O sepultamento prova que Jesus verdadeiramente morreu: que sua morte foi uma morte real, em vez dele ser um fantasma ou uma aparição. Sua ressurreição é o ponto de exclamação final da história. A ressurreição é o que o evangelista João apresenta como a glorificação de Jesus: sua vitória espetacular sobre a morte, o maior de todos os milagres, que é absolutamente único na história da humanidade.
Você está convidado!
Hugh Bonneville está certo quando diz: “Seja você uma pessoa de fé ou não, você não pode evitar o fato de que os últimos seis [faça desse número oito] dias da vida deste homem, e a sua morte, mudaram o mundo.” Ninguém pode legitimamente negar que os eventos da vida de Jesus, do Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa, mudaram o mundo. Eles também mudaram a minha vida para sempre.
E você? Talvez nesta Páscoa você perceberá que Jesus foi mais que um mero homem: que ele era Deus em carne, que tomou sobre si os seus pecados e que você precisa desesperadamente do que ele tem a oferecer, a saber, a redenção do pecado e a vida eterna.
Como os primeiros cristãos proclamaram, “não há salvação em nenhum um outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12).
Andreas J. Köstenberger é fundador do Biblical Foundations™, autor, editor, e tradutor de cerca de 50 livros em diveros tópicos bíblicos e teológicos. Também é editor do Journal of the Evangelical Theological Society. Atualmente serve como Professor Pesquisador Sênior do Novo Testamento e Teologia Bíblica no Southeastern Baptist Theological Seminary, em Wake Forest-NC (EUA).
Artigo originalmente publicado em Credo Magazine (clique aqui) em 26 de março de 2018.
Traduzido por T. Zambelli e publicado em Todah Elohim com a autorização do autor.
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