Por Larissa Fernandes
Sofrer com um apelido estranho dado por colegas da escola, ter o lanche roubado na hora do recreio ou ser excluída pelas “amigas”. Essas são práticas não tão incomuns entre crianças e adolescentes.
Caso seu filho já frequente a escola, possivelmente já se pegou pensando em uma possível situação de bullying contra ele, seja dessas citadas acima ou alguma outra. Se ele já viveu isso, você sabe que é algo real e presente nos ambientes sociais, entre os amigos da vizinhança, parentes, igreja (pasmem!), e, principalmente, na escola onde as crianças passam boa parte do seu dia.
Mas antes de continuar é preciso ter uma definição do que é bullying. Bullying é o nome dado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia.
As crianças estão sujeitas a sofrer ou a praticar o bullying, seja apelidando, agredindo, difamando, ameaçando, pegando pertences, enfim, a lista é grande. Crianças sabem ser cruéis. O pecado do coração se manifesta já entre os pequeninos.
Entre os meninos o bullying costuma se dar através da violência. Já entre as meninas ele se dá através da difamação ou exclusão.
Interessante notar que, na Bíblia, apesar de não citar o termo bullying, atitudes semelhantes se manifestam em vários relatos. Penso em Penina tratando continuamente Ana com desprezo, por aquela não poder ter filhos; em José, que era alvo do ciúme e do ódio de seus irmãos; em Davi, perseguido exaustivamente por Saul.
Onde há relações interpessoais, há potencial para conflitos e para que Deus trabalhe através deles.
Minha intenção não é ser exaustiva, e sim abordar o assunto de forma bíblica, objetiva e prática, para que, como cristãos, exalemos o bom perfume de Cristo em situações de bullying.
Então, como lidar biblicamente com o bullying?
1. Tenha sempre um canal de comunicação aberto com seu filho.
Em Mc 7.21-23, Jesus fala que do coração do homem é que saem nossas atitudes pecaminosas. O coração é enganoso e perverso (Jr 17.9), incluindo o do nosso filho! Por isso, é importante conhecer seu coração a fim de pastoreá-lo.
Para pastorear seu coração é preciso conhecê-lo mantendo sempre um canal de comunicação aberto com seu filho. Se você tem meninos como eu, sabemos que se expressam por monossílabos (Legal!; Tudo!; Gostei!; Maneiro!…) ou frases curtas (Foi legal!; Acho que não; Acho que sim).
A mãe pergunta ao filho ao voltar da escola:
– Filho, como foi a escola hoje?
O filho responde:
– Tudo bem! (e ponto!)
Já uma menina contaria todas as conversas que teve na escola como se fosse um roteiro de novela.
Como já disse, sou mãe de dois lindos meninos e por isso tenho na manga algumas perguntinhas que me ajudam a saber como foi o tempo na escola. Aí vão elas:
- O que você faria diferente do que a professora fez hoje na sala?
- Quem merece uma medalha de ouro?
- Quem você mandaria pra lua hoje e por quê?
- Do que você brincou no recreio e com quem?
- Com quem conversou?
- Que matéria foi mais legal e por quê?
- Quem foi um bom amigo hoje? O que ele (a) fez?
- Você foi um bom amigo? O que fez?
Essa comunicação aberta ajudará em momentos em que seu filho passar por alguma dificuldade e conversará com você com mais facilidade, pois o hábito do diálogo já foi adquirido. Você terá mais facilidade para pastoreá-lo.
2. Ensine seu filho a ser um bom amigo e a ter bons amigos.
Dizemos em casa aos nossos filhos que eles precisam ser bons amigos e ter bons amigos. No começo eles nos perguntavam como ser um bom amigo e explicávamos que um bom amigo é aquele que ajuda quando o outro não entende a matéria; compartilha o lanche com um amigo, que por algum motivo não o levou; não conversa durante a aula para não atrapalhar os colegas de sala; se um amigo quiser fazer uma coisa errada mostra para ele qual seria a melhor atitude.
Outra pergunta feita por nossos filhos era se eles tinham que ser amigo de todos. Dizíamos que eles não precisavam ser o melhor amigo de todos. Eles tinham que respeitar, serem educados e gentis com todos, mas que teriam alguns melhores amigos. Porém, os demais seriam colegas e não inimigos. Os bons amigos são aqueles que prestam atenção na aula, não se metem em brigas, tratam a professora e os demais com respeito e assim era nossa conversa.
Pv 13.20 ensina que quem anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o amigo dos tolos acabará mal.
3. Ensine seu filho a lidar com a ira.
“Eu fico irada”! “Pronto falei”! A ira nada mais é que uma resposta do coração diante de um direito ou desejo violado, uma expectativa não alcançada ou uma preferência pessoal que não foi realizada. Quando isso acontece, reajo com ira. É um forte desejo do coração de fazer o que lhe agrada. Ela é uma emoção relacionada à justiça e à vingança.
“O tolo dá vazão à sua ira, mas o sábio domina-se”. Pv 29.11
Crianças que sofrem bullying podem ter um desejo crescente de vingança e ensiná-las a abrir mão daquilo que seu coração deseja, para fazer o que Deus deseja é algo essencial a fim de que não desenvolvam um coração rancoroso.
Crianças que praticam bullying podem enfrentar dificuldade em controlar sua ira. Por isso fazem o que fazem. Podem ser filhos que precisam de atenção dos pais, crianças que não compreendem quem são em Cristo e precisam se afirmar. Podem ter desejos tão intensos que, se contrariados, explodem em agressividade. As motivações podem ser as mais variadas.
A motivação do coração é algo que devemos sondar a fim de desvendar os porquês de praticarem o bullying e usar a Palavra de Deus para dar esperança a esses corações sedentos da graça. Que formemos filhos sábios que sabem dominar a sua ira.
4. Ensine seu filho a ser um pacificador.
Uau! Que tarefa difícil! Não me entenda mal. Ser um pacificador não é ser um “banana”, um coitado, o que sempre abre mão de tudo, o que vai dividir sempre o lanche e ficar sem nada, o que vai emprestar o material e não vê-lo mais de volta. O que quero dizer com ser pacificador é estar disposto e agir para resolver os conflitos interpessoais de forma bíblica. Se assim ele o fizer, a briga com o valentão será mais fácil de ser evitada, o desprezo de um certo grupo de meninas será visto com outros olhos.
5. Ensine seu filho a se proteger.
Ué! Mas como ser pacificador e se proteger ao mesmo tempo? Proteger não quer dizer que ele revidará em alguma situação, mas sim que ele tentará evitar a agressão. O princípio é evitar a violência seja ela física ou verbal, fazendo todo o possível para viver em paz com todos, como diz o texto de Rm 12.18.
6. Confrontação – Confissão – Perdão.
Se seu filho pratica ou praticou o bullying deve ser confrontado pelo seu pecado. Sim! Praticar bullying é pecado, já que envolvem práticas e atitudes contrárias a Palavra de Deus. Ajude-o a confessá-lo e pedir perdão primeiramente a Deus. Ensine-o que arrependimento é não ter a intenção de fazer isso novamente. Ajude-o a pedir perdão ao agredido. Seu filho precisará de sua ajuda para isso. Reconhecer ao ofensor seu erro não é nada fácil, porém é bíblico.
Se seu filho é o agredido, ajude-o a entender o que é o perdão e a colocá-lo em prática, já que perdoar não e um sentimento e sim uma atitude. Além disso, confrontar o pecado é uma grande demonstração de amor que podemos fazer a nossos filhos. Em Mateus a partir do verso 18 podemos aprender como resolver situações de pecado.
7. Esteja atenta ao comportamento do seu filho.
Caso seu filho mude bruscamente de comportamento é possível que algo esteja acontecendo. Não querer mais ir à escola, mudança no sono, alteração no apetite, ficar agressivo, queda no rendimento, dores inexplicáveis. Fique atento a isso!
8. Entre em contato com a escola.
Seja por meio da professora ou da direção da escola. É importante que a escola saiba da situação para tomar as medidas necessárias. Talvez sua primeira reação seja de omitir para que ninguém seja prejudicado. Porém, é importante para escola estar informada. Infelizmente, ela não fica sabendo muito do que ocorre sob seus olhos. Isso é importante, também, para que seu filho veja que você trata desse assunto com seriedade. Faça isso de maneira pacificadora! Lembre-se queremos que nossos filhos sejam pacificadores e, portanto, precisamos ser o exemplo para eles.
9. Conte sempre com a graça de Deus.
A graça sempre estará disponível para nós e nosso filho. Caso ele ainda não tenha se rendido ao amor de Jesus, a graça salvadora se estende a ele. Seja persistente em compartilhar do que Cristo fez por Ele na cruz. Mostre que ele é um pecador e que necessita de Deus para ter vida real.
Talvez ele já tenha conhecido a Jesus e a graça, que é o poder sobrenatural dado por Deus para enfrentar situações que imaginamos serem impossíveis. É possível em Jesus! Com a graça, o valentão é capaz de controlar suas emoções e de forma sobrenatural, agir como um bom amigo ao invés de querer se impor e ridicularizar outros. Essa mesma graça capacita o agredido a transbordar de perdão e amor ao próximo. O bullying revela dois corações carentes da graça de Deus. Ambos vazios e carecendo dessa graça que preenche e renova os corações.
Que Deus nos capacite a lidar de forma bíblica em situações tão indesejáveis, porém reais, sendo promotoras de reconciliação e paz (em situações de conflitos interpessoais).
Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade. Hebreus 4.16
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