Por Mack Stiles
Recentemente senti pesar meu coração por um grupo não alcançado do Oriente Médio. Então eu fui e o visitei. Parecia que Deus havia alinhado as necessidades daquele local com os meus dons ministeriais. Minha esposa disse que seu coração estava queimando para ir. Minha família deu todo o suporte. O apoio financeiro estava lá. E conforme orávamos nosso desejo de ir só aumentava.
Preparar, apontar e vai, certo? Nós tínhamos o desejo, o treinamento, os meios, o suporte, o senso de chamado de Deus, só precisa escolher a agência missionária e partir?
Não.
Não para sua vida. Não sem o apoio de uma igreja local saudável.
Maior problema em missões
Os esforços missionários modernos apresentam muitos desafios. Contextualização, culturas tribais indígenas e autonomia, entre outros desafios culturais. Ainda assim, em nosso mundo globalizado, com muitos fazendo trabalhos tão relevantes com relação a problemas culturais, ainda há um problema que está crescendo: a falta de entendimento da natureza da igreja e de sua função com missões.
Esse é o maior desafio das missões modernas e isso cria uma série de outras dificuldades. Aqui eu gostaria de focar em um pequeno, ainda que significante, canto desse desafio. A parceria entre uma igreja enviadora saudável e o trabalho missionário.
Mas, antes, deixe-me contar uma história.
“Eu me batizei!”
Eu fui um ministro no campus da InterVarsity Christian Fellowship por décadas, nos Estados Unidos. Uma das alegrias de se trabalhar nesse ministério era o acampamento de uma semana que acontecia anualmente na praia no final do ano escolar. Um ano, em um dos momentos de testemunho, um estudante disse: “Eu estava tendo um ótimo tempo na praia enquanto lia o livro de Atos – que, inclusive, nunca havia lido antes – e eu cheguei na parte sobre Felipe e o cara da Etiópia.”
Neste momento a equipe do acampamento começou a se olhar perplexamente.
“Então eu comecei a pensar”, o inexperiente teólogo continuou, “eu nunca fui batizado. E tinha todo um oceano na minha frente, e então eu pensei, por que não? Foi então quando eu pulei no mar, fiz uma oração e mergulhei de costas na água. Eu batizei a mim mesmo!”
Sim, o estudante se batizou.
Agora, eu não vou detalhar todos os motivos pelos quais os cristãos não devem fazer isso. Não há nenhum registro histórico ou de nenhuma organização contemporânea que pratica o auto batismo. A maioria dos cristãos entendeu corretamente que batismo significa ser incorporado com Cristo e no seu corpo visível, a igreja. O batismo é o portal para se entrar na comunidade dos crentes.
Auto batismo é bobo. E ir às nações sem o suporte da igreja local é como batizar a si mesmo. Se auto denominar o lobo solitário de missões é tão ridículo e arrogante quanto se auto batizar.
A igreja envia
Desde que a igreja começou a organizar viagens missionárias em Atos 13, missões têm sido relacionadas com a igreja – e não a um indivíduo ou a organizações para-eclesiásticas – enviando os trabalhadores para pregar o evangelho e estabelecer novas igrejas.
Ainda com uma regularidade surpreendente, eu encontro pessoas que se proclamam missionárias com pouco ou nenhum apoio ou suporte da igreja local. Ironicamente essa pessoa irá me dizer que trabalha com PI, plantação de igrejas. Eles talvez não perceberam que a igreja de Antioquia – a primeira praticante de missões no Novo Testamento – é nosso modelo para missões hoje.
Barnabé, enviado da igreja de Jerusalém, foi para a Antioquia. Quando se tornou claro que Deus estava trazendo muitos para ele, Barnabé recrutou Paulo para se juntar a ele nesse trabalho (Atos 11:22). Barnabé e Paulo pastoreavam a igreja de Antioquia junto com outros fiéis cristãos (Atos 13:1). Depois de algum tempo, o Espírito falou com a igreja – a igreja! – para separar Paulo e Barnabé para o trabalho que Deus havia chamado. Nós nos referimos a isso como a primeira viagem missionária (Atos 13:2-3). E aqui está a grande virada: a igreja fez isso.
A igreja de Antioquia não enviou os mais novos (e os mais baratos para manter), os menos experientes no ministério, os mais estranhos ou aqueles que a igreja queria se livrar. Eles enviaram Paulo e Barnabé! Eles enviaram os melhores, os dois que sem dúvidas eram os mais fortes líderes da congregação. Você pode imaginar como seria perder Paulo e Barnabé na comunhão semanal da igreja?
Nós precisamos desesperadamente de uma aplicação de Atos 13 nos dias de hoje. Isso não diz respeito a igrejas querendo firmar um contrato com alguém e talvez enviar pagamentos mensais. Isso diz respeito a igrejas enviando os biblicamente qualificados, examinado cuidadosamente os parceiros para o trabalho. A igreja precisa enviar aqueles que eles gostariam de contratar como equipe, aqueles que sentiriam falta quando forem enviados para um trabalho longe da igreja.
Não vá até ser enviado
A igreja precisar enviar os membros qualificados para a liderança, mas além disso, aqueles que estão realmente submissos à igreja.
Quando encontrei com os anciãos da minha igreja para compartilhar o que Deus havia posto em meu coração, eu disse a eles que eu não gostaria de fazer o que havia visto muitos terem feito no passado.
Eu disse a eles que, tendo sido um ancião da igreja também, sabia como era quando um crente vinha me informar do chamado missionário sem ao menos ter procurado os líderes por direção. Eu não estava indo a eles esperando um envio automático com apoio financeiro total. Eu gostaria que os anciãos soubessem que eu estaria submisso à liderança deles.
Houve uma época, eu confesso, que eu fui aquele jovem crente que esperava o apoio e a benção para o “meu ministério”. Mas, agora, mais velho e sábio, eu disse a eles que jamais iria se dissessem “não”.
Os líderes fizeram boas perguntas e testes. Houve uma acalorada discussão sobre minha submissão à liderança. Um deles perguntou: “Mack, eu acreditaria mais se nós decidíssemos por um “não” para depois ver se você realmente obedeceria”. Não me surpreende ele ser advogado e que exame cruzado é seu trabalho. Porém, meu coração estava limpo: eu cheguei a uma decisão de que jamais iria a missões sem a sabedoria coletiva dos meus líderes de uma igreja saudável.
Em parte, isso é porque eu tenho visto o que acontece quando missionários insubordinados “enviam” a si mesmos. Eles formam igrejas doentes fora do país – isso quando formam alguma. Esse é o peso da ironia, que missionários que trabalham tão duro em culturas tão sensíveis levam consigo o pior da cultura ocidental, o individualismo de como esse modelo tem falta de comprometimento com a igreja local.
Então, não se batize. E se você está determinado a fazer o trabalho missionário, não vá até ser submisso e enviado por uma igreja local saudável.
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução de Lucas Fonseca
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