O presente artigo é uma tradução adaptada de Thiago Zambelli, M.A., do trabalho originalmente publicado sobre o título A Christian Psychology of and Response to Homosexuality de Samuel Williams, Ph.D. A pedido do autor, o presente artigo possui adições e mudanças feitas pelo tradutor.
1. Introdução
Para muitas vidas a homossexualidade não é simplesmente um tema teórico. E estas palavras não formam o discurso de alguém que decidiu sair do armário. Elas tampouco colocam este tema como a pior poeira dele. Os autores deste artigo (abrev. ada) reconhecem que há muitos tipos de armários, alguns dos quais possuem muita poeira para faxinar. Todavia, a poeira dos outros armários não é o alvo deste artigo.
Seguramente, a homossexualidade não é uma mera teoria ou abstração para os ada. Ela envolve vidas muito amadas. Dale, por exemplo, foi um querido amigo durante a faculdade. Quando se revelou homossexual, também expressou seu desejo de tirar sua própria vida quando chegasse aos vinte e três anos de idade. Roger, outro amigo próximo de faculdade e república,[1] era homossexual confesso. Faleceu em consequência de HIV antes da medicina conhecer os coquetéis para a manutenção da vida dos soropositivos. Danny confessou estar apaixonado por um dos ada enquanto no segundo grau escolar. Para os ada, a homossexualidade envolve amizades estáveis, importantes e marcantes.
Nos últimos quarenta anos, o significado de “sair do armário” se mostrou tão volátil quanto os valores desta época. Antes era extremamente impopular assumir uma identidade gay. Todavia, sementes plantadas na década de setenta germinaram e se tornaram árvores frondosas no novo milênio, cheias de orgulho e simpatia. “Sair do armário” se tornou apreciado e incentivado.
Uma pesquisa do instituto Gallup mostrou que em 2010, pela primeira vez nos Estados Unidos, a maioria dos americanos considerava a homossexualidade moralmente aceitável (52%), enquanto a menor parte (43%) a considerava imoral.[2]
A mudança cultural e a progressiva aceitação da identidade gay fez com que a homossexualidade também não fosse simplesmente abstrata aos jovens desta geração. Familiares e bons amigos rapidamente vêm à mente deles. Sendo os ada conselheiros e discipuladores,[3] pedidos de ajuda de pessoas como Terry, Karl, Dave, Roger e Paul, ou seja, cristãos comprometidos com a fé, são comuns. Eles não entendem o porquê de suas bússolas sexuais apontarem mais para os homens do que para as mulheres. A realidade é que há poucas pessoas disponíveis e dispostas, compreensíveis e capazes para verdadeiramente ajudá-los na busca por entendimento de suas dúvidas mais íntimas.
Todos estes homens tiveram que enfrentar o significado do desejo sexual pelo mesmo sexo (ou gênero).
- Isso significa que eu sou gay?
- Eu nasci assim?
- Deus me fez assim?
- Eu não queria que minha bússola apontasse nessa direção; tem como mudar?
- Se Deus pretende que tenhamos desejos heterossexuais, o que está acontecendo comigo?
- Eu não me lembro de ter escolhido ser assim. Se eu não escolhi ter meu desejo nessa direção, posso escolher ter meu desejo em outra direção?
- Posso reiniciar meu corpo para mudar por quem eu me sinto atraído?
- Se eu não escolhi sentir o que eu sinto pelo mesmo sexo, isso é pecado?
- Eu me arrependo disso ou é somente uma tentação como qualquer outra que precisa ser resistida?
Este é, então, o assunto deste artigo: Uma perspectiva cristã em resposta à homossexualidade.
Os autores
Os ada não cresceram em lares evangélicos. Para eles, pensar sobre a homossexualidade de seus amigos foi um grande desafio paradigmático quando se tornaram filhos de Deus (cf. Jo 1.12). Ver a homossexualidade como um pecado nas Escrituras Sagradas parecia algo muito estranho. Por que tinha que ser errado? Por que não podia ser algo simplesmente diferente, como ser canhoto, por exemplo? Outra preocupação era entender o tipo de relacionamento que deveria ser mantido com os amigos que se sentiam atraídos sexualmente pelo mesmo gênero. Era confuso entender a hostilidade dos cristãos aos homossexuais diante do que a Bíblia lhes apresentava.
Fortuitamente, por meio de boas ferramentas hermenêuticas, um genuíno desejo para a compreensão da verdade e apoio de mestres zelosos pelas Escrituras, os ada adquiriram clara convicção bíblica sobre a homossexualidade: as Escrituras Sagradas condenam tanto a prática quanto a paixão homossexual. Seus apontamentos são contundentes: “vergonhoso, antinatural, desonroso (Romanos 1), perverso (1Coríntios 6.9) e repugnante (Levítico 18.22; 20.13)”.
Prerrogativas
É fato que o tema homossexualidade é um divisor de águas no que diz respeito à interpretação, autoridade e relevância das Escrituras. No entanto, esta não é a bandeira que erguemos aqui. Nossa intenção não é providenciar uma análise ética da homossexualidade, tampouco uma teologia bíblica sobre o tema.[4]
Para o fim que desejamos neste artigo, nós iremos presumir que a maioria dos leitores possui uma hermenêutica bíblica conservadora e uma ética sexual cuja visão enxerga cada aspecto da homossexualidade como um produto da Queda e do pecado: a homossexualidade não faz parte do ideal divino. Além disso, apesar de reconhecermos a legitimidade de bons diálogos políticos e midiáticos, aqui evitaremos essas questões. Para este discurso, acreditamos que seguir a Cristo e Sua Palavra é mais relevante que travar batalhas culturais. No dia que Jesus voltar, Ele vencerá de forma esmagadora a batalha cultural. Jesus terminará Sua missão redentora e nada O impedirá. Enquanto Ele não volta, desejamos que cada cristão entenda, aceite e exercite seu papel como instrumento dEle.[5]
2. Como pensar sobre o assunto?
Como a igreja deveria compreender as pessoas que lutam com a atração pelo mesmo sexo? Como ela deveria apresentar ajuda e esperança para as pessoas que a procuram? Que tipo de ajuda ela pode e deve oferecer? O que você diria a um amigo, filho ou filha, caso ele ou ela lhe dissesse ser gay? Como e por que a bússola sexual deles ficou tão desorientada? Será que eles podem mudar? Se sim, que tipo de mudança pode ser esperada? Como você aconselharia e ministraria a eles?
De acordo com David Powlison, um ministério efetivo requer de nós uma tripla exegese: das Escrituras, das pessoas e deste belo e louco mundo no qual vivemos.
O processo que vai das Escrituras à vida real deste mundo requer olhos cuidadosos para as três áreas. É indubitável que comecemos pela Bíblia, cuja antropologia apresenta a perspectiva do Criador. Depois, acreditamos que algumas ciências podem ser visitadas e consideradas desde que avaliadas com o devido filtro, rigor e piedade.[6]
Mark Yarhouse, por exemplo, proveitosa e didaticamente nos ajuda com seus conceitos quando diferencia atração pelo mesmo sexo, orientação homossexual e identidade gay.[7]
Conceitos didáticos
(1) Atração pelo mesmo sexo (AMS) é um termo meramente descritivo que aponta para a direção do desejo sexual de uma pessoa. AMS pode variar em força, durabilidade ou longevidade. Pode ser fraco, moderado ou forte e pode ser temporário ou duradouro. O termo “AMS” não diz nada sobre como uma pessoa se sente sobre sua atração sexual, nem mesmo sobre suas intenções com seus desejos sexuais. Tampouco, e isso é muito importante, AMS não diz nada sobre a identidade da pessoa: como ela é ou como ela se define.
Aproximadamente 6% dos homens e 4,5% das mulheres apresentam algum grau de atração pelo mesmo sexo (Laumann, Gagnon, Michael, e Michaels, 1994).
(2) Orientação pelo mesmo sexo (OMS) é o termo que preferimos usar, visto que homossexual é uma palavra cuja conotação, com frequência, carrega o sentido de identidade. A OMS, comparada à AMS, é mais forte, duradoura e persistente. A OMS é somente uma expressão descritiva, como a AMS.
Aproximadamente 2% dos homens e 1% das mulheres disseram experimentar OMS, os quais primária ou predominantemente são atraídos sexualmente pelo mesmo gênero.
É possível também que pessoas se sintam atraídas sexualmente por ambos os sexos em diferentes níveis. Tais pessoas se identificam como bissexuais. Não obstante, ainda que raro, é possível uma pessoa experimentar AMS somente por um indivíduo específico e, assim, se considerar heterossexual.
(3) Identidade gay ou lésbica é o que algumas pessoas adotam. É uma escolha baseada naquilo que consideram ser uma característica essencial que as representa. Tal decisão e aceitação acompanham um comportamento homoerótico sexual alternativo considerado por elas moralmente neutro ou bom.
A percentagem de adultos que se identificam como gays ou lésbicas é estimada em 1,7% da população mundial. Em referência aos que se consideram bissexuais, a estimativa é de 1,8% da população mundial.[8]
É importante notar que estas três categorias não são se misturam. Além disso, enquanto a AMS ou a OMS são experiências inerentes a cada pessoa, a identidade gay ou homossexual não o é. A identidade, neste caso, é a admissão de uma decisão baseada numa perspectiva própria e pessoal sobre seus desejos sexuais. Em outras palavras, a adoção de uma identidade gay é uma escolha baseada em valores, ao invés de um determinado fato da experiência, da psicologia ou da biologia.
Sobre identidade
Com respeito à identidade, devemos entender que ela não é afirmada pelas circunstâncias. É o próprio indivíduo o principal organizador, tanto quanto o agente ativo na formação da sua identidade. Ainda que a maioria das pessoas não esteja ciente da escolha, suas identidades são construídas a partir de matérias-primas de quem elas são: suas experiências consigo mesmas e com o mundo, tudo interpretado à luz de alguma narrativa, cosmovisão ou filosofia de vida predominantes.
Dessa forma, nossa identidade é um projeto de construção pessoal composto de muitas escolhas conscientes e subconscientes que se acumulam gradualmente ao longo do tempo. De importância peculiar estão as atribuições que fazemos a nós mesmos e as atribuições que os outros fazem a nosso respeito, os quais funcionam como um roteiro de como devemos gerir as nossas vidas. Em grande medida, esses roteiros de identidade são fornecidos por diversas autoridades sociais dentro da nossa cultura: pais, colegas, religião, “ciência”, “psicologia”.
Agora, no que diz respeito ao desenvolvimento da identidade sexual, reconhecemos que há elementos genéticos e elementos que são moldados por meio dos relacionamentos existentes na cultura em questão, ou seja, dentro de uma cosmovisão de vida e sociedade. Obviamente, no centro de todo este sistema, está uma pessoa feita à imagem e semelhança de Deus, capaz de responder ativamente aos estímulos internos e externos, porém, afetada biológica, psicológica e espiritualmente pelo pecado neste mundo caído.
Dessa forma, identidade é algo pessoal ao mesmo tempo que contextual. Ela é tanto inata, quanto formada por meio de uma estrutura de relacionamentos, semelhante ao desenvolvimento da linguagem na criança, com cérebro e língua projetados para falar. Essa capacidade inata para se comunicar é formada pela família, pelos amigos e pela cultura.
Grande parte dos psicólogos reconhecem que a identidade é tanto uma construção quanto uma expressão da essência, e que os valores pessoais, crenças e convicções religiosas são como a lenha para a fogueira, formando a identidade do indivíduo. Entre os psicólogos desenvolvimentistas, existem dois campos que enfatizam diferentes elementos no desenvolvimento da identidade: os essencialistas (natureza) e construtivistas sociais (educação).
A linguagem moderna da identidade sexual, “homossexual, bissexual, gay, lésbica, etc.” é um bom exemplo dessa mutualidade entre uma pessoa e sua cultura. Ainda que a homossexualidade seja uma prática existente há séculos, “gay,” como identidade, é uma descrição pertencente apenas à cultura ocidental moderna.
Embora o comportamento homossexual tenha sido praticado em outras culturas ao longo da história, nós somos a primeira cultura em que as pessoas se referem a si mesmas dessa forma. Nunca houve uma linguagem para isso e nunca houve uma comunidade de suporte para esse tipo de identificação ou rótulo. Até recentemente, nem mesmo uma forma de falar havia para isso. (Yarhouse, 2010).[9]
Discernir estas questões num nível pessoal é um processo. Uma pessoa que experimenta AMS é confrontada com um dilema bem específico: qual a relação entre a minha atração pelo mesmo sexo e quem eu sou? Tais pessoas passam por um processo que pode ser resumido em duas etapas:
- Crise de identidade: é um doloroso nó de emoção. Vergonha, culpa, ansiedade, depressão, tudo com muita confusão e diversas perguntas. Se você nunca ouviu uma pessoa nesta fase, procure uma oportunidade para escutá-la. Se difícil, é importante que você leia sobre o tema. Isso ajudá-lo-á a entender o desafio de se encontrar esperança quando algo tão fundamental para a sua pessoa e para o seu gênero está de cabeça para baixo e você não consegue simplesmente apertar um botão ou interruptor para mudar as coisas para melhor.[10]
No entanto, as pessoas não ficam em crise para sempre. Eventualmente elas chegam a uma decisão.
- Atribuição de identidade: uma síntese e consolidação da atração pelo mesmo sexo. Eventualmente, pessoas chegam a conclusões sobre elas mesmas e suas experiências sexuais baseadas em seus próprios sistemas de interpretação, com respeito ou desrespeito ao roteiro moral de Deus colocado em cada coração humano.
Estas atribuições de identidade ocorrem muito cedo nos dias de hoje, aproximadamente aos quinze anos de idade; cedo em relação aos vinte anos em 1970 (Savin-Williams & Cohen, 2004). Outro fenômeno recente e interessante é a escolha de alguns jovens em evitar a adoção de qualquer rótulo relativo à sua identidade sexual.
Na cultura ocidental contemporânea há duas formas dominantes de se integrar à OMS. A primeira é a adoção de uma identidade gay ou homossexual. Isto é demonstrado por meio do Quadro Explicativo Gay (QEG) (Yarhouse & Tan, 2004), onde o “eu” é definido pelo desejo sexual. Nessa explicação, a atração sexual define a pessoa tanto quanto um “alcoólatra” se define pelo seu desejo por bebida alcoólica.
Esta fórmula de identidade é bem conveniente em culturas de grande manifestação individualista, as quais premiam, sobre tudo, a expressão pessoal.[11] O QEG depende de metáforas como “descoberta” ou “sair” para descrever a atribuição da identidade.
O QEG ultrapassa a experiência pessoal e se desenvolve no âmbito acadêmico, desenvolvendo sua própria personalidade e teorias de desenvolvimento, que incluem um processo de socialização ideal ou “saudável” e, infelizmente, foi adotado na praça pública e nas escolas públicas na maior parte da cultura ocidental.
Geralmente, o QEG é caracterizado com explicações simplistas de causa, especialmente pelo reducionismo biológico: “já que eu não tenho conhecimento de um dia ter decidido por esta posição, de me sentir assim, eu possivelmente devo ter nascido dessa forma. Portanto, obviamente isto é natural”. De acordo com esta perspectiva, realizações pessoais são dependentes dos desejos sexuais, os quais são considerados moralmente neutros, bons, ou até mesmo superiores.[12]
Enquanto a maiorias das pessoas que lidam com a AMS ou a OMS na nossa cultura acredita que o QEG é a única opção plausível, existe uma outra opção, uma que parece cada vez mais estranha, até mesmo anormal às pessoas modernas e pós-modernas. Esta outra opção é compreendida pelo Quadro Explicativo Cristão (QEC), tendo a Criação, a Queda, a Redenção e a Restauração Final como fronteiras para explicar os desejos sexuais pelo mesmo gênero. Este quadro explicativo é honesto quanto às experiências de AMS ou OMS, mas as enxerga como antinaturais ou desordenadas, inconsistentes com a vontade de Deus para a sexualidade.
A questão fundamental, para qualquer um, mas particularmente para os cristãos, é qual dos nossos desejos e afetos escolheremos para nos definir. Um cristão com AMS, como todos os outros cristãos, enfatizará sua identidade em Cristo e no corpo de Cristo e verá o desejo sexual pelo mesmo gênero como um produto da Queda, sendo ele uma das diversas formas de desvio e tentação sexual que pode ser superado pela graça de Deus. Pessoas com AMS lamentarão e alguns até se arrependerão, dependendo de como entenderem a origem da AMS e entenderem pecado, culpa e arrependimento. O QEC compreende a reconstrução de nossas identidades após a adoção na família de Deus: “Aqueles que receberam, que creram no nome de Jesus, Deus lhes tornou Seus filhos” (Jo 1.12). É Deus quem redefine e direciona quem eu sou, cada parte do meu ser.
Agora, com respeito à origem do AMS e OMS:
3. O que causa? De onde vem?
Enquanto a pessoa é um agente ativo e responsável pelos seus desejos sexuais, há inúmeros fatores circunstanciais como de nascimento que estão relacionados ao desenvolvimento da atração sexual. Dessa forma, podemos dizer que há coisas que vêm até a pessoa e coisas que saem da pessoa. Enquanto não há aparente causa universal – “se isto acontece, então isso desenvolve” – as ciências biológica e social apontam para fatores comuns que são úteis na compreensão da AMS.
A atual pesquisa científica e a vigente teoria podem ser divididas em três áreas: biológica, temperamental e relacional.
Biológica (genética, neurológica, hormônios intrauterinos):
Enquanto pesquisas dos anos 80 e 90 acreditavam que a genética e o cérebro ofereciam as mais fortes contribuições para a AMS e a OMS, pesquisas mais recentes não apoiam as teorias mais antigas de que a genética e/ou o cérebro têm primazia no desenvolvimento da homossexualidade. O melhor estudo de gêmeos com amostragem ampla não apoia uma grande contribuição para a orientação homossexual. A taxa de concordância entre gêmeos idênticos foi de 20% para os homens e 24% para as mulheres (Bailey, Dunne e Martin, 2000), o que indica que os genes podem desempenhar um papel, mas longe de ser esmagador.
Estudos que examinam contribuições cerebrais são ainda menos impressionantes. Embora existam alguns estudos envolvendo estruturas cerebrais, esses estudos não foram replicados. Mesmo quando diferenças cerebrais foram encontradas, ordenar a causa e o efeito é quase impossível com a pesquisa de correlação.
Outro possível contribuinte biológico ainda sob investigação é o ambiente hormonal pré-natal. O desenvolvimento fetal das características sexuais é um produto da interação com os hormônios, especialmente a testosterona, e isso pode ter um papel na orientação sexual em alguns casos, mas os dados não são claros neste momento das descobertas científicas.
No entanto, existir alguma contribuição biológica em algumas pessoas não deveria surpreender, além de parecer consistente com a pesquisa. O reconhecimento de que haja algum envolvimento biológico no desenvolvimento da atração homossexual não deveria ser resistida pelos cristãos, tendo em vista que Deus nos criou como almas encarnadas – com corpos –, como seres psicossomáticos. E todas essas coisas, nossos corpos, nossos cérebros e nossa genética, foram infectadas pelo pecado. Ademais, ser o corpo ou o cérebro influente ou formativo não os torna moral ou espiritualmente determinante. Parece-nos razoável aceitar, pois é claramente consistente com as Escrituras, que corpos, cérebros e genes, junto com pais, amigos e a cultura, todos desempenham um papel influenciador ou formativo em nossas vidas. Porém, isso não significa que eles são determinantes.
Características de temperamento efeminado ou não conformidade de gênero:
Tanto a evidência anedótica quanto as pesquisas de evidência suportam uma positiva correlação entre a não conformidade de gênero e a homossexualidade (Hamer, 1994; LeVay, 1996).[13] Muitos homens homossexuais relataram se sentir diferentes e menos masculinos do que os outros garotos durante a infância. Eles tendiam a ser mais sensíveis, menos agressivos e mais inclinados para valores estéticos do que atléticos. Às vezes chamam este fenômeno de “maricas.” Dean Hamer, um geneticista homossexual, em seu livro The Science of Desire (1994) [A ciência do desejo], escreveu: “A maioria dos maricas crescerão e serão homossexuais e a maioria dos homens gays eram maricas quando criança. Apesar da natureza provocativa e politicamente incorreta dessa declaração, ela se encaixa na evidência. De fato, pode ser a descoberta mais consistente, mais bem documentada e significativa em todo o campo da pesquisa de orientação sexual” (p. 166).
A teoria do exótico que se torna erótico, de Daryl Bem (1996), afirma que, na puberdade, sentiremos excitação sexual pelo gênero que achamos exótico, ou pelo gênero que parece tão diferente de si mesmo. Em outras palavras, “os opostos se atraem”. Dessa forma, se um menino, quando criança, se sente como os outros meninos e diferente das meninas, na puberdade ele encontrará garotas que não são mais abomináveis, mas fascinantes e, posteriormente, atraentes e excitantes. Por outro lado, se um menino se sente que não se encaixa com os outros meninos, mas pelo contrário, se sente mais confortável com as meninas, na puberdade, ele se vê fascinado pelos meninos e, posteriormente, atraído eroticamente por eles. A variável biogenética nessa teoria é o temperamento inato da criança, especialmente características como agressividade e níveis de atividade.
Relacionamento com os pais:
As primeiras teorias, enraizadas na psicanálise de Freud, via homossexualidade como um tipo de distúrbio do desenvolvimento; um prejuízo no desenvolvimento psicológico (que muitas vezes parece ser o caso) com os pais como os culpados (o que não parece necessariamente ser o caso). Entretanto, estas explanações psicanalíticas foram baseadas mais em experiências clínicas e menos na pesquisa empírica.
Pesquisas recentes mais rigorosas dão pouco apoio à visão tradicional de que a OMS é um resultado direto de pais ausentes e críticos e mães helicópteros. A pesquisa não indica o papel dos pais como suficiente causa da homossexualidade; a maioria das crianças com relação paterna e materna problemática não se torna atraída pelo mesmo sexo. Ao mesmo tempo, lógico, não há dúvida de que os pais possuem uma importante formação em diversos aspectos do desenvolvimento infantil. E, além disso, parece sim haver uma preponderância de dificuldade no relacionamento pai-filho para homens com OMS e uma preponderância de experiências negativas com homens entre as mulheres com OMS. Mesmo que estes fatores não sejam suficientes ou determinantes, eles parecem ser significantemente influenciadores em alguns casos de OMS (Yarhouse, 2010, p. 230, n. 21-24; Yarhouse & Burkett, p.175, n. 2).
O desenvolvimento deficiente de traços masculinos pode estar relacionado ao relacionamento pai-filho, especialmente à medida em que o filho se sente conectado ao pai e depois se identifica com ele como um homem, de tal forma que ele desenvolve a sensação de que “eu sou como ele” ou “eu quero ser como ele e posso ser como ele”. Por outro lado, pode ser que o fenômeno maricas seja mais inato (relacionado a uma predisposição genética, cerebral ou hormonal), e, assim, tanto o menino quanto o pai acham difícil se relacionar um com o outro porque eles são temperamentalmente muito diferentes, o que, logicamente, diminuiria o senso de masculinidade do menino.
A influência dos amigos:
Rapazes que são menos agressivos e masculinos compreensivelmente se sentem marginalizados e diferentes. Infelizmente, eles são frequentemente evitados ou alvos de escárnio ou bullying por seus amigos, o que pode ser devastador à identidade de gênero e convicção masculina do rapaz.
Experiência sexual prematura (abuso, experiência enquanto muito novo):
Ainda que nem o abuso físico ou a negligência paternal esteja correlacionada com a homossexualidade, estudos têm mostrado alguma correlação entre o abuso sexual em crianças e o comportamento homossexual em homens, mas não em mulheres.[14] Não é difícil imaginar como o abuso sexual, especialmente num menino por um homem, pode ser extremamente comprometedor para o desenvolvimento da identidade sexual do menino.[15] Ao mesmo tempo, é importante se lembrar que a maioria dos meninos que são sexualmente abusados por homens não se torna orientado sexualmente pelo mesmo sexo (OMS). O relacionamento homossexual consensual é mais frequentemente encontrado na história de homossexuais homens. Porém, causa e efeito são difíceis de definir nesses estudos correlacionais.
Escolha pessoal?
A experiência pessoal da maioria, mas não de todas as pessoas com AMS é que elas não escolheram, mas a encontraram e, em geral, com surpresa e vergonha. Isto é particularmente verdade para os homens e para pelo menos metade das mulheres. Enquanto a maioria dos homens com OMS e AMS acredita que sua homossexualidade não era consciente e explicitamente escolhida, 30 – 50% de mulheres lésbicas afirmaram ter sido uma escolha.
Sendo assim, o que ocasiona a homossexualidade? De acordo com as ciências humanas, há duas respostas honestas a esta questão: “nós não sabemos com certeza” e “provavelmente muitas coisas.” O princípio de equifinalidade nos ajuda aqui. Equifinalidade é o princípio de multicausalidades: em sistemas abertos um dado estado pode ser potencialmente alcançado por diversos meios. Da mesma forma que há vários caminhos para chegar em São Paulo partindo de Fortaleza, há diversas formas de uma pessoa poder desenvolver AMS ou OMS. Portanto, há uma mão cheia de fatores comuns que parecem significantes, mas não há uma fórmula única.[16]
Agora, a partir dessa visão geral da pesquisa e teoria das ciências sociais, levantamos a questão abaixo.
4. Podem as pessoas mudar de AMS ou OMS e, se sim, como elas mudam?
Os esforços para essa mudança vêm numa variedade de formatos seculares contemporâneos: psicanálise contemporânea (C. Socarides, E. Moberly), psicoterapia reparativa (J. Nicolosi) e grupos de encontros que afirmam o gênero, do tipo Journey Into Manhood [Jornada à Masculinidade].
Eles funcionam? Depende para quem você pergunta. Em 2009, a força-tarefa da Associação Americana de Psicologia sobre Respostas Terapêuticas Apropriadas à Orientação Sexual “concluiu que esforços para mudar a orientação sexual são de sucesso pouco provável… Dada a quantidade limitada de pesquisa com boa metodologia, eles afirmam que os esforços para a mudança da orientação sexual são ineficientes e sem suporte (pp. V e 2).[17]
Infelizmente, a composição da força-tarefa também não foi metodologicamente boa. A objetividade deles era duvidável, visto que todos os seis autores, cinco psicólogos e um psiquiatra eram gays, tanto reconhecidos publicamente assim, quanto ratificadores da agenda gay.[18]
Há poucos estudos que indicam baixo nível de sucesso de mudança da AMS por terapias seculares, reportando 44 a 66% de pessoas que disseram ter tido uma mudança significativa, porém, com um grau e o tipo de mudança bastante variável (NARTH, 1997; Spitzer, 2000).
Há diversas e diferentes opções de aconselhamento cristão disponível
Leanne Payne aborda de uma perspectiva pentecostal, misturando teorias da homossexualidade da psicanálise com um foco na cura interior de memórias traumáticas através da “escuta da oração”. Há também grupos cristãos de recuperação do tipo Courage (Coragem), um programa de doze passos para católicos romanos, e o grupo Homossexual Anônimo (com catorze passos ao invés de doze).
Andy Comiskey do grupo Living Waters mistura ensino bíblico sobre gênero, identidade e santificação com teorias das terapias reparativas e cura interior, enfatizando o papel da igreja como uma comunidade de cura.
Há também as abordagens do tipo feitas por Mark Yarnhouse e Warren Throckmorton, uma terapia de identidade sexual. Esta, porém, é menos focada na mudança da atração do mesmo sexo e mais focada na identidade dada por Cristo, com a incorporação de métodos da psicologia comportamental e cognitiva para facilitar o processo da santificação progressiva.
Por fim, há outras abordagens que incorporam teorias do desenvolvimento da masculinidade num processo de santificação progressiva (Alan Medinger; Gerard Van Den Aardweg).
Os aconselhamentos cristãos funcionam?
Aqui é outro caso de que há poucos bons estudos. Num deles foi reportado que entre 23 – 29% das pessoas tiveram uma mudança completa na orientação sexual: passaram de homossexuais para heterossexuais. Agora, entre 60 – 70% pessoas disseram ter tido sucesso na mudança do comportamento (Schaeffer, et al., 1999; Jones and Yarhouse, 2007, 2009).
O resumo de Mark Yarnhouse sobre este estudo é útil:
Aqueles que argumentam que “não há evidência suficiente” na mudança da orientação sexual estão geralmente pensando numa categoria de mudança completa, como se a orientação sexual fosse um interruptor e que funciona ora numa posição ou na outra: ligado ou desligado. Homossexual ou heterossexual, gay ou não. Por outro lado, cristãos por vezes complicam ao dizer que este tipo de mudança acontece com frequência… Algumas pessoas afirmam uma mudança na atração por um período. Aqueles que afirmam essa mudança, afirmam que ela vem na forma de uma redução da atração homossexual, mas estas reduções não são tipicamente completas. Um número menor de pessoas também afirma um aumento na atração heterossexual; em alguns casos isto pode ser uma atração pelo outro sexo de forma geral, em outros, isso significa uma atração por apenas um indivíduo do outro sexo, por exemplo o cônjuge… Pode ser útil a todos os envolvidos reconhecer que uma mudança de 180 graus é pouco provável. Isso não significa que pessoas não devam tentar a mudança ou se sentir desencorajadas, mas nos ajuda a identificar os resultados mais prováveis. De qualquer forma, a compreensão disso liberta a pessoa para focar nas considerações mais importantes, como vocação, mordomia e a semelhança com Cristo (2010, pp. 89-90).
5. Escutando a Bíblia
Independentemente das causas específicas identificadas pela ciência ou pelo sucesso dos esforços de mudança da orientação sexual, Deus pretende interpretar, governar e redimir todas as nossas partes, inclusive nossas experiências sexuais, desejos e identidade. As boas novas de Deus são que tudo o que é e foi distorcido pelo pecado, será, no bom momento de Deus, restaurado e curado. Cristo assumiu toda a natureza humana para curar toda a natureza humana. A encarnação e a ressurreição corporal de Cristo são a promessa de Deus para uma cura plena e final (Gregório de Nazianzo).
Entretanto, a recepção desta graça divina começa com uma aceitação humilde sobre o que está errado conosco, com um tipo de psicopatologia bíblica.
Parece-nos que a macropsicologia bíblica da homossexualidade começa com a versão paulina de Romanos 1: um relato da origem do pecado, sendo a homossexualidade um exemplo vívido de sua dinâmica. Nesta passagem, Paulo atribui a origem das paixões e práticas sexuais pelo mesmo sexo com o fracasso de “agradecer e honrar a Deus”. Em outras palavras, uma adoração desordenada. A rejeição original da humanidade por Deus, então, incorre em seu julgamento: “Deus os entregou” (vv.24, 26, 28). Ele simplesmente os deixa à mercê de seus desejos, com seus próprios recursos, entregando-os aos seus desejos impuros, suas paixões desonrosas e pensamentos reprováveis. Então, nesta passagem, os desejos desordenados de todos os tipos resultam de uma adoração desordenada. A psicologia bíblica de Santo Agostinho é útil aqui: a raiz de todo o mal está no desejo mal direcionado.
Tanto Richard Hayes quanto Ernst Kasemann observam que, nessa passagem, a homossexualidade, junto com uma série de outras práticas e desejos desordenados, é a consequência da ira de Deus, não a causa dela. A homossexualidade é provavelmente destacada porque é uma rejeição muito clara de algo tão óbvio: o desígnio complementar de Deus para os sexos e do próprio ato sexual.
Mas é importante notar que o relato de Paulo aqui é arquetípico ou genérico; ele está dando a história da humanidade e do pecado de forma geral, usando o exemplo da homossexualidade como um caso particularmente gráfico da questão. Ele não está nos dando uma história do desenvolvimento da homossexualidade de qualquer pessoa em específico. O relato bíblico deste capítulo da história humana é mais ou menos assim: como resultado da rejeição do governo de Deus, Ele se afasta, e a consequência é o reino do pecado e de satanás, um reino no qual todos nascem com desejos desvirtuados (Rm 6.17). Alguns destes pecados são comuns a todos homens, como o egoísmo e o orgulho, mas outros são exclusivos de alguns homens. E é aí que as psicopatologias pessoais começam.
A típica experiência da atração pelo mesmo sexo, que não é conscientemente escolhida, é de fato consistente com nossa condição pecaminosa inata, que em si mesma não é escolhida: nós nascemos assim. O pecado é uma condição crônica e às vezes, porém nem sempre, é uma escolha consciente. Esta é a condição humana que Paulo descreve em Romanos 7, onde ele fala do “pecado em mim” como a fonte de seu comportamento pecaminoso.
Assim, o ponto de partida para uma compreensão bíblica da homossexualidade não é fundamentalmente diferente da origem de muitas das nossas falhas de caráter dirigidas pelo pecado, que pode se manifestar como egoísmo, narcisismo, ciúme, inveja, mau humor, ansiedade, depressão, vício, etc. Todos nascemos congenitamente com problema, com alguma fraqueza biopsicológica inata, que encontra sua origem na Queda e, subsequentemente, em corações e corpos doentes com o câncer do pecado (Ec 9.3; Jr 17.9).
De acordo com o erudito em Novo Testamento, Robert Gagnon:
Para Paulo todo pecado era, de certo modo, inato, pois os seres humanos não pedem para sentir desejo sexual, raiva, medo ou egoísmo. Eles apenas sentem, queiram experimentá-los ou não. Se Paulo pudesse ser transportado para o nosso tempo e alguém lhe dissesse que os impulsos homossexuais estavam parcialmente presentes no nascimento, ele provavelmente diria: (Se assim fosse,) “eu poderia ter lhe dito isso” ou pelo menos algo como “eu posso trabalhar isso no meu sistema de pensamento” (…) (Porém,) Paulo pinta uma imagem da humanidade subjugada e governada por suas próprias paixões; uma humanidade que não está no controle, mas é controlada (2001, pp. 431, 430).
De forma semelhante, mas com mais ênfase na responsabilidade humana, Richard Hayes escreve:
Como bisnetos do Iluminismo, gostamos de pensar em nós mesmos como livres agentes morais, escolhendo racionalmente entre ações possíveis. No entanto, a Escritura desmascara essa alegre ilusão… A antropologia sóbria da Bíblia rejeita a suposição aparentemente do senso comum de que apenas atos livremente escolhidos são moralmente culpáveis… A própria natureza do pecado é que ela não é escolhida livremente. Somos cativos do pecado, mas ainda prestamos contas ao justo julgamento de Deus sobre as nossas ações… À luz dessa antropologia teológica, não se pode sustentar que uma orientação homossexual é moralmente neutra porque é involuntária (1996, p. 390).[19]
Até aqui nós falamos sobre a AMS, uma desorientação específica da bússola sexual de uma pessoa, mas poderíamos falar das infinitas variedade e orientações pecaminosas dos nossos corações que são menos conscientemente escolhidas, mas que ainda nos torna responsáveis perante Deus. Nós acreditamos que este seja o ponto de Paulo em Romanos 2 e 3, quando ele avança do julgamento de Deus da homossexualidade para o julgamento de Deus para todos os homens; o que Richard Hayes chama de uma “operação picada homilética”:
“Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus?” (Rm 2.1-3 NVI) Paulo deixa claro: ninguém está sobre uma plataforma segura para ficar de pé e julgar os outros. (R. Hayes, 1996, p. 389)
6. Ministério e aconselhamento
A verdade é que todas e cada uma das nossas vidas sexuais, todos os olhares, todos os toques, todas as fantasias e todos os desejos dentro de nossos corações serão julgados por nosso santo, santo e santo Deus.
De acordo com Jesus, em Mateus 5.29-30, quando se trata de sexo, o que fazemos com os desejos de nossos corações é uma questão de vida ou morte: “Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.” Isso deve nos conduzir a uma séria reflexão de acordo com Jesus.
Dessa forma, a resposta da igreja deve ser tão séria quanto é a seriedade de Jesus. Ela deve ser teologicamente ousada e moralmente clara, como Jesus a apresenta. Ela deve ser tão pastoral e graciosa como Jesus a ensina. Ela deve trazer esperança, oxigênio para a alma daqueles que lutam contra a atração pelo mesmo sexo. E a esperança é essa:
Inicialmente, o Evangelho transforma as coisas mais importantes. Eventualmente, transformará tudo!
Por Evangelho e transformação, queremos dizer um tipo de fé e obediência a Cristo que flui de um coração fundamentalmente reorientado, resultando numa vida transformada e em transformação.
Concluindo, há quatro formas de nós promovermos transformação em nossas igrejas e famílias em prol daqueles que lutam contra a AMS.
Em primeiro lugar, e isso é fundamental, é SER HONESTO CONSIGO MESMO, COM OS OUTROS E COM DEUS. Tendo em vista a misericórdia de Deus, não faz sentido evitar, negar ou minimizar a AMS. Nós proporíamos que existe uma forma apropriada para Cristãos “saírem dos armários.” Mas não deveríamos todos nós sair do armário com coisas que encontramos dentro de nós e que estão desvirtuadas e erradas? Se fizermos isso, podemos nos arrepender apropriadamente de nossos pecados e receber ajuda que vem por meio de relacionamentos cristãos autênticos.
Aquilo que mantemos para nós mesmos tende a inflamar e inchar. Assim, o que nos resta é aquele doloroso nó de vergonha e culpa. A alternativa à autenticidade não é uma imagem bonita: solidão, duplicidade, pecados secretos, ansiedade, raiva contra si mesmo e, às vezes, o suicídio.
E é aqui que a resposta dos pais, amigos e da igreja chega com tremenda importância. É responsabilidade das famílias e comunidades cristãs cultivar a receptividade ao reconhecimento e a confissão da AMS. O que podemos fazer para caminharmos nessa direção?
Em segundo lugar, nós podemos CULTIVAR E RENOVAR O RESPEITO PELAS DIFERENÇAS. Nós precisamos de relacionamentos caracterizados pelo respeito e aceitação das várias formas de manifestação masculina, mas claro, desde que debaixo do espectro estabelecido pelo próprio criador dos gêneros masculino e feminino. Nós não deveríamos presumir que estereótipos culturais são bíblicos e normativos para nos guiar. Há mais de um tipo de homem e nem todos eles gostam de acampar ou praticar esportes. Nosso amigo Robert D. Jones foi quem disse que o maior homem que ele conheceu se descrevia como gentil e humilde de coração: o próprio Senhor Jesus. Foi ele quem disse: “bem-aventurado os humildes, pois eles receberão a terra por herança.” Se o caráter de Jesus não for o ponto principal da sua perspectiva sobre masculinidade, então sua visão de masculinidade não é bíblica e, portanto, correta da perspectiva do próprio Criador.
Provavelmente, uma das coisas mais importantes a se fazer seja eliminar de nossas comunidades, especialmente entre os homens, as palavras pejorativas que denigrem os homens cuja masculinidade não são tão evidentes, que talvez tenham características efeminadas. Tais palavras devem ser inconcebíveis. Diga-nos, e se estivessem caçoando de seu irmão ou de seu filho? Como Jesus falaria com ele? E como Jesus falaria com aqueles que fizeram a chacota?
Dale achava que seria atacado fisicamente por Sam Williams depois de ter anunciado sua homossexualidade, pois havia lhe escutado usar palavras como bicha, boiola, marica e homo diversas vezes.[20] Dale disse que teria se revelado mais cedo, mas estava com medo da possível reação de seu amigo, Sam. Zambelli mudou seu vocabulário depois que notou quantas pessoas deixam de pedir ajuda nas igrejas por não encontrarem pessoas que tratam deste assunto sem fazer chacotas. A experiência de Sam também transformou seu vocabulário.
Em terceiro lugar, nós PODEMOS EXPRESSAR EMPATIA ÀS PESSOAS COM AMS QUE ENTENDEM QUÃO NIVELADA ESTÁ A TERRA DEBAIXO DA CRUZ.
É importante perceber e reconhecer abertamente que, no nível mais profundo e mais importante, somos muito parecidos com as pessoas que lutam com a AMS. Elas têm suas tendências e tentações pecaminosas específicas, tanto quanto nós temos as nossas. Cada um de nós tem um elo fraco, um tipo de pecado mais persistente para o qual precisamos de Jesus e um do outro. Portanto, nenhum pecado deveria ser apontado como o pior e mais difícil entre todos os pecados.
Em quarto lugar, devemos PROPORCIONAR UMA ESPERANÇA BÍBLICA EM FAVOR DA TRANSFORMAÇÃO.
Uma mudança real e substantiva pode ser esperada às pessoas com AMS ou OMS, como pode ser para todos aqueles que escolheram seguir Cristo. Quando Tim Wilkins deixou a homossexualidade, ele disse: “Decidi que, embora honestamente não soubesse como me tornar heterossexual, sabia como ser obediente… As atrações do mesmo sexo continuaram durante a faculdade e o seminário, mas em menor grau. Eu permaneci firme e me recusei a ceder… Eu disse a Deus: ‘Não me importa se algum dia eu me sentir atraído por uma mulher, desde que eu me apegue a Ti!’” O que mais importava para Tim era se tornar um discípulo de Jesus Cristo.
A graça de Deus é o combustível da transformação na vida do cristão, que não por menos é chamada de santificação progressiva: uma persistente obediência de fé por um caminho estreito e muitas vezes difícil, na companhia de outros homens e mulheres cristãos dentro da igreja local. Tudo isso está enraizado no poder transformativo do Evangelho e no rico solo do corpo de Cristo. A cruz de Cristo significa o início do fim do velho ser, uma reorganização e reorientação progressiva e radical de cada desejo distorcido. Mas o pecado é teimoso, especialmente no nível dos desejos. Assim, o velho homem morre paulatinamente. Não obstante, de acordo com Paulo, o velho homem é coisa do passado: “Assim foram alguns de vocês… Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus (1Co 6.10,11). Isso soa como coisa que já aconteceu, não?
Assim como é com muitos pecados que estão profundamente alojados dentro de nós, a mudança pode ou não estar associada a uma completa eliminação ou reversão da AMS. Mas não se engane: não há promessa divina que garanta que nem o passado, nem os nossos desejos não nos assolarão. Nossa identidade em Cristo é inabalável à medida que andamos no Espírito. Nosso futuro é promissor à medida que seguimos as instruções do Criador e discernimos o mundo da perspectiva de Deus. Paulo nos instrui para sermos quem nós somos, porém, sempre em Cristo. “Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. (…) Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da Lei, mas debaixo da graça.” (Rm 6.11,12,14 NVI).
Este enchimento do Espírito, a santificação progressiva aos seguidores de Cristo, inclui uma compreensão de quem somos: uma identidade que tem seu início na boa criação de Deus, feito à imagem e semelhança dEle, para Ele e por Ele e então nascido de novo numa Nova Criação miraculosa. Uma transformação deste tipo inclui uma atitude autêntica e humilde que não vacila em examinar e se arrepender dos efeitos distorcidos e degradantes do pecado em todas as coisas. “Onde o pecado abunda, a graça superabunda.” Um dia essa graça culminará em nossa santificação final, quando o Rei retorna e restaura tudo. Naquele dia, o verdadeiro norte será irresistível às nossas bússolas. Essa é a nossa esperança.
Trabalhos Citados
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Notas:
[1] Moradia estudantil. Roger era colega de quarto.
[2] Em http://www.gallup.com/poll/135764/americans-acceptance-gay-relations-crosses-threshold.aspx acessado dia 04/01/2015
[3] Samuel Williams, Ph.D., se identifica como psicólogo redimido. É professor no Southeastern Baptist Theological Seminary (SEBTS) em Aconselhamento Bíblico, presbítero e conselheiro em sua igreja local. Thiago Zambelli, M.A., é Pastor Batista e Conselheiro Bíblico na região de Paulo Afonso-BA.
[4] Veja o livro de Robert Gagnon, The Bible and Homosexual Practice, 2001.
[5] De forma especial, queremos tornar pública nossa apreciação e dívida ao trabalho de dois psicólogos, pensadores e escritores: Mark Yarnhouse e Ed Welch.
[6] Não negligenciamos que questões espirituais são fundamentalmente discernidas pelos espirituais.
[7] Veja o gráfico piramidal.
[8] Gary Gates, Press release, 7 de abril de 2011, Williams Institute.
[9] Coincidentemente, isto é frequentemente uma parte da crítica gay de passagens bíblicas sobre a homossexualidade. Eles estão corretos quando dizem que estas categorias não existiam nas antigas línguas bíblicas. Ao invés disso, termos mais descritivos, os quais caracterizavam o que uma pessoa faz, ou termos como natural ou não natural, eram as categorias verbais utilizadas para discutir essas questões. (Hays, 1996.)
[10] Sugerimos a leitura de Washed and Waiting, por Wesley Hill ou livros do autor Andrew Comiskey.
[11] Veja R. Bellah’s Habits of the Heart, 1996.
[12] Uma conversa simples e prazerosa pode ser muito difícil com alguém que incorporou a homossexualidade como ponto central de sua identidade. Se “gay” é quem você é, então até a mais respeitosa conversa pode ser vista como rejeição pessoal ou até mesmo uma declaração homofóbica. Em função deste ser o padrão social em grande parte do Primeiro Mundo, qualquer outra perspectiva é vista como estranha e prontamente rejeitada. David Wells se expressa muito bem em sua definição de mundanismo: “um sistema de valores, seja qual for o momento histórico, cujo centro possui a perspectiva caída do homem, na qual Deus e a sua verdade são deslocados do mundo, fazendo o pecado parecer normal e decência parecer estranha. Isto torna o que é moralmente errado plausível, e, assim, parecendo ser normal. (Losing our Virtue, 1998, p.4).
[13] Nas suas manifestações extremas, 75% dos meninos que apresentam transtorno da identidade de gênero reportaram uma orientação homossexual ou bissexual (DSM-IV, 1994, p. 536).
[14] Wilson, H., & Widom, C., 2009. Does Physical Abuse, Sexual Abuse, or Neglect in Childhood Increase the Likelihood of Same-sex Sexual Relationships and Cohabitation? A Prospective 30-year Follow-up. Archives of Sexual Behavior, 39 (1), 63-74).
[15] Dube, S. et al. (2005) descobriu que 16% dos homens adultos afirmaram terem sido abusados sexualmente antes dos 16 anos. Eles foram abusados por homens em 70% dos casos. Am J Prev Med;28(5), p. 433.
[16] O APA (American Psychological Association – Associação Americana de Psicologia) afirma o que se segue sobre etiologia em seu panfleto, Sexual Orientation and Homosexuality (Orientação Sexual e Homossexualidade): “Não há consenso entre os cientistas sobre as razões exatas de um indivíduo desenvolver uma orientação heterossexual, bissexual, gay ou lésbica. Embora muitas pesquisas tenham examinado as possíveis influências genéticas, hormonais, de desenvolvimento, sociais e culturais sobre a orientação sexual, não surgiram descobertas que permitam aos cientistas concluir que a orientação sexual é determinada por qualquer fator ou fatores específicos. Muitos pensam que a natureza e o ambiente desempenham papéis complexos; a maioria das pessoas experimentam pouco ou nenhum senso de escolha sobre sua orientação sexual.” American Psychological Association (2008). “Respostas às suas perguntas: Para uma melhor compreensão da orientação sexual e homossexualidade”.
[17] Uma revisão de 83 estudos publicados em periódicos revisados em pares de 1960 a 2007 discute pessoas que tentaram mudar sua orientação sexual por meio de aconselhamento ou terapia.
[18] Joseph Nicolosi, da National Association for Research and Therapy for Homosexuality [Associação Nacional par Pesquisa e Terapia da homossexualidade], comentou: “O padrão da força-tarefa para o tratamento bem sucedido da homossexualidade indesejada foi muito maior do que para qualquer outra condição psicológica. E se eles tivessem estudado o sucesso do tratamento para narcisismo, transtorno de personalidade limítrofe ou abuso de álcool / alimentos / drogas? Todas essas condições, como a homossexualidade indesejada, não podem ser totalmente resolvidas e exigem algum grau de luta ao longo da vida”. (Relatório da força-tarefa da APA de 2009 – Ciência ou Política?, publicado em 10 de janeiro de 2011, no sítio eletrônico do NARTH).
[19] Talvez um bom exemplo disso sejam os nossos sonhos noturnos. Se os seus são como os nossos, eu aposto que alguns deles não são moralmente neutros. E, apesar de involuntários e criados subconscientemente, de quem são eles? Que os criou e os produziu? E se a criação deste sonho foi sua, quem deveria se arrepender?
[20] Originalmente as palavras usadas foram fag, queer e homo (em inglês). A tradução escolhida foi para transpor o conteúdo emocional e pejorativo contido nessas palavras.
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