É muito comum hoje em dia ouvirmos expressões do tipo: o que importa é ser feliz.
Embora não haver nada de errado a busca pela realização e felicidade pessoal, penso que a motivação da maioria das pessoas nesta busca é egoísta e mesquinha. Então vemos, cada vez mais, nossa sociedade mergulhada num hedonismo sem precedentes. O prazer individual e imediato passa a ser a finalidade da vida de muitos. É a cultura do EU quero ser feliz agora, o resto não me importa. Conceitos de direitos, respeito e consideração ao próximo só valem quando o próximo sou EU.
– EU exijo meus direitos… EU exijo respeito e exijo que minha opinião seja aceita (subentenda-se com isso que ela deve prevalecer).
E daí? Não é assim mesmo? O que importa é a minha felicidade, e para que isto aconteça tenho que estar plenamente satisfeito, certo? Vejamos:
A felicidade do autoritário é fazer a sua vontade prevalecer (todos terão de aceitar).
A felicidade do dominador é poder mandar.
A felicidade do manipulador é poder controlar.
A felicidade do vingativo é ver o outro se dar mal.
A felicidade do invejoso é ver o outro falir.
A felicidade do ambicioso é mais um pouquinho.
A felicidade do dependente é mais uma dose.
A felicidade do adúltero é mais uma.
A felicidade do desobediente é quebrar regras.
A felicidade do transgressor é burlar a lei (que existe para proteger o coletivo).
A felicidade do infrator é não ser pego.
A felicidade do competitivo é ganhar todas.
A felicidade do mesquinho é desfrutar tudo sozinho.
A felicidade do malandro é se dar bem (à custa dos outros).
A felicidade do soberbo é ser exaltado.
A felicidade do narcisista é se admirar e ser admirado.
A felicidade do irreverente é não respeitar, mas ser respeitado.
E por aí, vai…
Olhando para este quadro, não parece uma boa descrição da nossa sociedade? Felicidade na nossa cultura é, por um segundo, ver a miséria ao lado e pensar: antes ele do que EU. Não se trata apenas de falta de dinheiro. Pode acontecer de esta miséria ser o sofrimento que nós mesmos causamos aos que nos rodeiam, às pessoas que deveriam ser o alvo do nosso amor.
Todo mundo quer ser feliz, individualmente. Mas em certo sentido, sociedade e indivíduo são palavras excludentes, quero dizer, ou se pensa e age como sociedade (para a felicidade de todos) ou se pensa individualmente (para o desgosto geral da nação). Pensando individualmente, jamais seremos plenamente felizes.
A proposta de Jesus para nós (como indivíduo e também como sociedade) é: “ame o próximo”. Simples, não? Mas por que esta proposta é tão rejeitada? Por que será que alguém que apregoou o amor ao próximo foi (e é) tão criticado e tão desprezado? Vou arriscar uma resposta. É porque amar o próximo é muito mais difícil do que amar a si mesmo! E como nós nos amamos, exigimos que todos nos amem também. Para que isto aconteça:
– Quero que minha vontade seja feita e que as pessoas estejam atentas às minhas necessidades, sempre. Quero que minha opinião seja considerada e aceita, que todos notem que eu existo e quanto sou importante. Desejo viver para ver meus inimigos ruírem, e que eles vivam o suficiente para assistir minha vitória. Anseio por mais uma dose de prazer, mais uma noite de amor, mais um tostão na minha conta. Exijo justiça (mas ajo de acordo com a minha justiça) quando me for conveniente e que meus direitos prevaleçam acima de tudo e de todos. Quero desfrutar de todo o bem que eu puder e se puder, que o próximo pague a conta. Por fim, espero ser reconhecido, admirado e respeitado pelo que sou, pelas minhas qualidades e pelo que faço de bom.
Considere honestamente: você pensa assim? Pelo menos em parte? Não se assuste, pois você é um ser humano absolutamente igual a todos os outros. Portanto, não tenha nenhuma ilusão de que, um dia, a humanidade será perfeita como numa propaganda de margarina ou de refrigerante, e nem que a terra será uma utopia maravilhosa para se viver.
Então, não continue agindo de forma individualista. Dá pra mudar, dá pra ser feliz buscando a felicidade do próximo. Amar o próximo significa amar o próximo, não a nós mesmos. Amar o próximo como a nós mesmos significa que devemos amar o próximo o tanto que nos amamos, ou seja, considerando o próximo, respeitando o próximo, desejando o bem do próximo e que a justiça seja feita também ao próximo, se empenhando para fazer a felicidade do próximo como gostaríamos que fizessem conosco se estivéssemos na mesma situação.
O primeiro passo para amar o próximo é começar a pensar além de nós mesmos. O fato é que Deus nos ama e devemos amar o próximo como Cristo nos amou! Além disto, Ele nos ensina uma nova maneira de viver, que vai na contramão do mundo, mas que, se posta em prática, tem o poder de transformar este mundo:
“Felizes são os humildes, …os que choram, …os mansos e simples, …aqueles que aspiram por ser justos e bons, …os que são amáveis e têm misericórdia dos outros, …os que tem coração puro, …que procuram promover a paz. Felizes aqueles que são perseguidos por serem justos.”
O escritor A. W. Tozer disse que para fornecer um quadro fiel da raça humana a alguém que a desconhecesse, bastaria que tomássemos as bem-aventuranças e invertêssemos o seu sentido.
Será que vale a pena continuarmos a viver como tudumundu vive, fazer como tudumundu faz, agir como tudumundu age, seguindo a proposta de felicidade individualista? Não seria melhor abraçar a proposta de Jesus? Neste caso, a decisão é individual.
A felicidade do egoísta está em satisfazer-se, a do altruísta em fazer o outro feliz. Enfim, o que quero dizer é isto: a felicidade de quem ama o próximo é infinitamente maior, mais nobre e mais duradoura do que a de quem se ama.
Textos bíblicos: Mateus 5.1-12; 22.36-40; João 3.16; 13.34,35; I João 3.23; 4.7-9.
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