Série: Do Orgulho à Humildade
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.” (Mateus 11.29)
Você quer uma boa definição de humildade? Aqui vai: humildade é uma virtude oposta ao nosso “senso de direito”.
Mesmo que inconscientemente, levamos uma vida marcada pelo pensamento: “eu tenho direitos… portanto, todos me devem algo”.
- Devem-me um certo tipo de comportamento quando nos cruzamos na rua.
- Devem-me um certo tipo de tratamento nos relacionamentos sociais.
- Devem-me explicações satisfatórias apenas quando as quero ouvir.
- Devem-me atenção quando eu desejar expor minhas opiniões.
- Devem-me um certo tipo de respeito na vizinhança.
- Devem-me admiração pelo que conquistei.
- Devem-me consideração pelo que sou.
- Devem-me fazer feliz.
- Devem-me amor.
- Todos me devem e eu fico profundamente irado, magoado, frustrado, abatido, inconformado, com ódio quando não me pagam.
Se esta é sua forma de encarar a vida, de lidar com tudo e com todos, então, sinto informar-lhe, mas você não é uma pessoa humilde! Mas quem no mundo é diferente disto? Todos nós esperamos algo do próximo: respeito, consideração, reconhecimento… Pois saiba que com os cristãos deve ser diferente. Lembre-se do que Paulo escreveu em Romanos 1.14:
“Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes…”
Paulo não esperava nada de ninguém, não considerava que ninguém fosse seu devedor. Pelo contrário, ele é quem devia a todos. Este deve ser o tipo de mentalidade que devemos assumir: sou eu quem devo ao próximo, ninguém me deve coisa alguma!
Aí, o orgulhoso pode remedar: “mas é justamente a isto que estou me referindo: que todos deveriam ter consciência que me devem, e eu exijo o que me é de direito”!
O reconhecimento por parte do orgulhoso que ele não é credor, mas é um devedor acima de tudo, seria o primeiro passo para a humildade.
Mas como pode acontecer tal mudança de atitude?
A verdade é que ela acontece quando nos damos conta da abundante graça de Deus sobre nós. Acontece quando entendemos que Deus não nos deu o que realmente merecíamos (a morte) e nos deu aquilo que não fizemos nada para merecer (vida eterna).
Acontece quando nós jogamos fora toda nossa arrogância e nascemos de novo. Uma nova criatura, chamada para aprender com Jesus o que é ser manso:
“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra… Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.” (Mateus 5.5; 11.29)
De acordo com o que Jesus ensina, o manso é feliz. Aliás, mansidão e humildade devem andar de mãos dadas, conforme lemos acima. Enquanto humildade é uma disposição de espírito, a mansidão é a exteriorização desta virtude. O manso é aquele que sabe abrir mão de seus direitos em benefício do próximo.
Enquanto você não se der conta disto, muito provavelmente manterá este seu senso de direito ativo, total e irrestrito. Continuará levando sua vida na base do todos me devem algo, eu tenho o direito!
O orgulho nos coloca numa posição de superioridade, a ponto de desejarmos ocupar o lugar de Deus, o único que é digno de louvor, de honra e glória. A humildade é o sentimento de nossa pequenez diante de Deus. Somente quando nos comparamos a Ele (e não aos outros) entenderemos nossa posição.
Humildade nos coloca em nosso devido lugar, pois mostra que não somos mais do que ninguém. Humildade não nos faz menos do que os outros, mas nos torna mais nobres. Humildade nos faz diferentes e tem a capacidade de nos fazer enxergar esta vida de maneira diferente da grande maioria.
O orgulho divide a humanidade; a humildade une. O orgulho nos cega; a humildade é o primeiro passo para a sabedoria.
A humildade não está na pobreza, na indigência, na penúria, na necessidade ou na fome. Ela se encontra na pessoa que, mesmo tendo o direito de reclamar, prefere abençoar.
Para finalizar, registro aqui as palavras de François de La Rochefoucauld, moralista francês que viveu no século XVII:
A humildade é a verdadeira prova das virtudes cristãs: sem ela conservamos todos nossos defeitos, que apenas permanecem encobertos pelo orgulho que os esconde dos outros e, muitas vezes, de nós mesmos.
Meu desejo é que este não seja simplesmente uma série de textos para reflexão, mas também um confessionário, como tem sido para mim.
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