Por Vaneetha Risner
Você já quis falar apenas como está se sentindo e ter amigos que o escutassem sem julgar cada palavra que você diz?
Talvez as palavras de Jó para seus amigos, durante seu sofrimento, ressoem para você: “Escutem com atenção as minhas palavras; seja esse o consolo que vocês haverão de dar-me. Suportem-me enquanto eu estiver falando. Por isso, como podem vocês consolar-me com esses absurdos? O que sobra das suas respostas é pura falsidade!” (Jó 21: 2-3a, 34, NVI)
Saber ouvir é essencial e isso precisa ficar evidente para nossos amigos. Todos nós queremos ser conhecidos e compreendidos, especialmente quando estamos sofrendo, então ouvir nossos amigos em sua dor pode ser o maior presente que podemos oferecer. Ouvir dores recentes ou até duradouras pode ser revigorante para os outros. Enquanto estivermos sofrendo, somos agradecidos pelo dom de ouvir.
Jó passou por dores e tragédias impensáveis. Sua resposta inicial foi louvar e confiar em Deus ao falar suas comoventes palavras de fé. Ele bendisse a Deus mesmo quando seus sete filhos morreram e toda a sua riqueza se foi. Mas depois de meses lidando com a perda, sentindo falta de seus filhos amados e sendo ridicularizado por sua desgraça, coberto de furúnculos infectados da cabeça aos pés, ele clamou: “As flechas do Todo-Poderoso estão cravadas em mim, e o meu espírito suga delas o veneno; os terrores de Deus estão posicionados contra mim” (Jó 6:4.). “Assim me deram meses de ilusão, e noites de desgraça me foram destinadas” (Jó 7:3) “Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida não passa de um sopro; meus olhos jamais tornarão a ver a felicidade” (Jó 7:7). “Prefiro ser estrangulado e morrer a sofrer assim” (Jó 7:15). “Sinto desprezo pela minha vida! Não vou viver para sempre; deixa-me, pois os meus dias não têm sentido” (Jó 7:16)
Quando seu sofrimento se arrastou, a perspectiva de Jó mudou. Ele se perguntou se Deus se importava com ele, pois não tinha certeza se Deus era por ele. Ele questionou o amor de Deus e queria morrer, desejando nunca ter nascido.
Todos nós podemos entender a reação de Jó. Ele sentiu a presença de Deus e sabia que Deus estava com ele antes e durante sua calamidade. Mas com o passar dos dias, sem prorrogação ou alívio, Jó ficou cansado. Seus amigos estavam lá, a princípio para confortá-lo, mas com o tempo, eles começaram a repreendê-lo. Primeiro suavemente, e depois com mais força, insistindo que o sofrimento de Jó foi resultado de seu pecado. Mas Jó queria a ajuda de seus amigos – uma palavra amável e compreensiva ao exclamar: “Um homem desesperado deve receber a compaixão de seus amigos, muito embora ele tenha abandonado o temor do Todo-Poderoso” (Jó 6:14, NVI).
Os amigos de Jó estavam determinados a corrigi-lo, a forçar sua teologia distorcida sobre ele, e ficaram frustrados por ele não concordar com seu ponto de vista. Jó não queria que eles levassem cada palavra de forma literal. Ele não estava fazendo um tratado teológico – ele falava de sua dor e queria simpatia e compreensão enquanto gemia: “Vocês pretendem corrigir o que digo e tratar como vento as palavras de um homem desesperado?” (Jó 6:26).
O discurso de um homem desesperado é o vento. As palavras que dizemos em nosso desespero devem ser palavras ao vento, não palavras para serem levadas a sério, mas palavras que choramos instintivamente quando sofremos profundamente. Bons amigos não sentem a necessidade de corrigir tudo o que dizemos em nossa dor. Bons amigos podem ouvir sem julgamento. Bons amigos sabem que falamos de forma exagerada da nossa dor, dizendo coisas que pertencem ao vento.
Somos gentis com nossos amigos que estão sofrendo? Nós os ouvimos? Às vezes, devemos sim falar palavras de encorajamento ou repreensão, ao chamá-los à fé e à esperança, mas isso deve ser inspirado pelo Espírito Santo. Na maioria das vezes, somos procurados simplesmente para ouvir.
Os conselheiros muitas vezes têm longas listas de espera e estão lotados, não porque as pessoas estejam procurando por uma sabedoria incrível. Eles geralmente procuram pessoas que irão ouvi-los e ajudar a processar o que está acontecendo com eles. Eles querem que as pessoas lhes dêem espaço para falar o que pensam, ouvir sem julgar, e refletir sobre o que disseram.
Em vez de preencher sua dor, Jó queria processar em voz alta com seus amigos como ele se lamentou a Deus. Talvez ele soubesse que essas palavras de lamentação acabariam por atraí-lo ao Senhor mais do que proferir palavras que ele não sentia. Ser autêntico sobre a nossa dor é corajoso, como canta Ellie Holcomb – é a coisa mais corajosa.
Se você tem um amigo que está passando por dificuldades, consideraria oferecer-lhe tempo para apenas sentar e ouvir enquanto ele processa seu luto? Fale pouco. Resista ao impulso de corrigir suas palavras. Resuma e reflita sobre o que você está ouvindo. Ore silenciosamente por eles. Confie que o Senhor os tem sob seus cuidados e talvez esteja simplesmente pedindo a você que lhes ofereça o dom da presença em oração. Isso pode aproximá-los de Deus e ser mais curador do que suas palavras e sabedoria jamais poderiam ser.
Original em Vaneetha.com sob o título “When We Want Grace for Speaking Desperate Words”.
Tradução de Danielle Delgado.
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